A sepse, também conhecida como septicemia ou infecção generalizada, constitui a causa mais comum de morte em UTI neonatal, chegando a taxas de 50-60%. Entre os pacientes que sobrevivem, 70%, em média, desenvolvem na idade adulta alterações cognitivas, de memória e de comportamento, comprometendo sua qualidade de vida e sua inserção na sociedade. Com o seu estudo premiado, a pesquisadora Clarissa Martinelli Comim busca investigar o papel da infecção nas sequelas em longo prazo no cérebro em desenvolvimento.

Através de testes em camundongos, a pesquisadora pretende verificar se a doença infecciosa em recém-nascidos tem relação com o desenvolvimento de transtornos psiquiátricos na idade adulta, como esquizofrenia, depressão e transtorno de humor bipolar, os mais comuns na população brasileira. Ao compreender o envolvimento do sistema nervoso central na sepse, o objetivo final da pesquisa é proporcionar a possibilidade de fazer um diagnóstico precoce, entender melhor as consequências, bem como desenvolver uma terapia mais eficaz. “Se notarmos a relação entre a sepse e tais transtornos, podemos dar uma atenção maior a essas sequelas já na infância”, afirma.

A jovem doutora de apenas 29 anos iniciou o estudo da sepse ainda na iniciação científica, em 2005, quando cursava a graduação em fisioterapia na Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc). No início das pesquisas, o foco dos estudos era a infecção em adultos e suas sequelas em longo prazo, mas, com o tempo, ela observou que a doença era a causa mais comum de mortes em bebês. “Eles são mais susceptíveis a infecções, pois nascem com o sistema imunológico mais frágil. Notamos que, além de órgãos, a doença também afeta o cérebro e queremos entender o que causa essas alterações”, explica. Após concluir a graduação (2007) e o mestrado em ciências da saúde (2008), a pesquisadora emendou o doutorado (2012) também pela Unesc com período-sanduíche na Universidade de Bern, na Suíça.

Hoje, com rica experiência em neurociência após o pós-doutorado, Clarissa acumula as funções de professora e pesquisadora na Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul). E sua rotina não para por aí. Além de conciliar o trabalho de dez horas diárias no laboratório com a vida de casada, a cientista, que mora em São José, na região metropolitana de Florianópolis, divide seu tempo com outra paixão. “Gosto muito de viajar e, quando morava na Suíça, um professor me incentivou a criar um blog com dicas para brasileiros. E o que era um passatempo se tornou uma responsabilidade, pois tenho mais de sete mil acessos por dia!”, revela Clarissa, que fez questão de adiantar seu próximo roteiro. “Em setembro, pretendo conhecer Machu Picchu e, em fevereiro, vou passar meu aniversário na Disney”, conta animada. Para a pesquisadora, o prêmio é um incentivo a mais para a presença feminina na ciência. “É importante sabermos que a mulher está sendo cada vez mais valorizada como cientista. Contribui para desmistificar a ideia de sexo frágil, valorizando o nosso papel atuante no meio científico”, afirma.