Seja em uma megalópole ou num vilarejo, a exploração do meio ambiente, a escassez de recursos naturais, os padrões de consumo e a pobreza afetam a vida de todos. Os brasileiros sentem isso especialmente, pois convivem com progressos e retrocessos políticos, econômicos e sociais. Isto explica porque as maiores organizações científicas do país estão comprometidas com a solução desses problemas, e porque Academia Brasileira de Ciências (ABC), a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e a Unesco escolheram “Ciência para o Desenvolvimento Global” como tema do Fórum Mundial de Ciência, a ser realizado em novembro no Rio de Janeiro, pela primeira vez fora da Europa, reunindo cientistas do mundo inteiro.



Encontros Preparatórios para o Fórum Mundial de Ciência

O Fórum deu ensejo a diversos outros eventos. Em 2012 e 2013 foram realizados sete encontros preparatórios em capitais distribuídas nas regiões do país. No ano passado, o primeiro encontro ocorreu em São Paulo, no mês de agosto, com o tema “Da educação para a inovação – construindo as bases para a cidadania e o desenvolvimento sustentável”; o segundo ocorreu em Belo Horizonte, no mês de outubro, com o tema “Desafios para o desenvolvimento científico e tecnológico nos trópicos”; o terceiro foi em Manaus, em novembro, com o tema “Diversidade tropical e ciência para o desenvolvimento”; o quarto ocorreu em Salvador, no mês de dezembro, com o tema “Energia e sustentabilidade”. Este ano, o quinto encontro ocorreu no mês de abril em Recif,e com o tema “Oceanos, clima e desenvolvimento”; o sexto foi em maio, em Porto Alegre, com o tema “Clima, Saúde e Alimentos: Desafios da ciência na América do Sul”.

Um encontro dividido entre avaliações e expectativas


O 7º Encontro Preparatório para o Fórum Mundial de Ciência está sendo realizado no campus da Universidade de Brasília (UnB), nos dias 21 e 22 de agosto, reunindo a comunidade científica brasileira para debater o tema “Ciência para o ambiente e justiça social”, como pode ser visto pela transmissão ao vivo direto do auditório da Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec) na UnB. Por ser o último evento, é natural que as falas misturem avaliações desses encontros e expectativas para o Fórum.
 
Durante a cerimônia de abertura, os componentes da mesa – Jacob Palis, presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC); Glaucius Oliva, presidente do CNPq; Luiz Antônio Rodrigues Elias, secretário executivo do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI); Ivan Marques Toledo de Camargo, reitor da Universidade de Brasília (UnB); Helena Nader, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC); Jaime Martins de Santana, decano da UnB, e o senador Rodrigo Rollemberg – afirmaram que a solução dos principais problemas em curso no planeta só será alcançada através do trabalho interdisciplinar dos cientistas.
 
Lideranças de entidades representativas da ciência brasileira participaram da cerimônia de abertura do 7o Encontro Preparatório para o WSF 2013

Coordenador do evento, Jaime Santana deu boas vindas aos participantes, destacando a pluralidade de conhecimentos reunidos entre os palestrantes e o público como a maior qualidade do evento. “Uma boa unidade acadêmica é aquela em que os cientistas não sabem a formação uns dos outros. Neste evento, nós demos um passo neste sentido. Espero que os cientistas brasileiros incorporem essa característica para sempre e passem aos cientistas estrangeiros que aqui virão. No futuro, creio que a comunidade científica reconhecerá os benefícios dos encontros preparatórios e do Fórum neste ponto”, afirmou.

 
Jacob Palis disse ficar entusiasmado em ouvir de outras pessoas aquilo que ele também pensa ser benefícios de ambos os eventos. A seu ver, os encontros fomentaram um diálogo entre as diferentes áreas da ciência e as diferentes regiões do país, salientando as especificidades da ciência em cada lugar. Além disso, destacou a importância da realização do Fórum Mundial de Ciências para o país. “O Brasil está no centro do cenário internacional da ciência. Tudo indica que o Fórum será memorável e que este é um ano ímpar para a ciência brasileira!”, exclamou.
 
Para a Acadêmica Helena Nader, “o Fórum reunirá em solo brasileiro o mais alto nível científico mundial, isto pode dar mais espaço aos cientistas brasileiros no planejamento da vida do país. Os temas abordados podem trazer investimentos maiores para as áreas de educação, ciência e tecnologia. Isto faz com que a SBPC se sinta privilegiada em participar deste processo”.
 
Glaucius Oliva, membro titular da ABC, compartilhou seu ponto de vista sobre os encontros preparatórios: “Além de selecionar temas de interesse nacional, do comprometimento e da maneira interdisciplinar como os debateu, a ciência brasileira tem que agradecer à ABC e aos outros envolvidos por trazerem os olhos do mundo para o Brasil. Isto explica porque o CNPq investiu recursos que possibilitassem a realização do Fórum no país”, explicou.
 
Também parabenizou os envolvidos na realização dos encontros e do Fórum, o senador Rodrigo Rollemberg: “Nós precisamos debater os problemas do Brasil e do mundo com os cientistas, se quisermos resolve-los de verdade. As políticas públicas e as agendas internacionais precisam da ciência para sua plena realização”, afirmou.
 
Na opinião de Luiz Antônio Rodrigues Elias, que na ocasião representava o ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação Marco Antonio Raupp, “Brasília fecha o ciclo de encontros preparatórios, que espalhados pelo Brasil, uniram a comunidade científica. A escolha dos temas reflete a vontade dos cientistas de transformarem para melhor o mundo em que vivemos. Trazer o Fórum Mundial de Ciências para o Brasil também é oportuno, porque desloca o eixo dos países europeus para os países em desenvolvimento, onde esses desafios são maiores ou mais urgentes. A partir disso, pode-se dizer com mais convicção que a agenda do desenvolvimento sustentável e da justiça social está ouvindo outras partes do mundo. Antes do Fórum, os encontros preparatórios possibilitaram que as regiões do país pudessem mostrar o estágio de desenvolvi
mento de ciência e tecnologia em que se encontram, mostrando as assimetrias regionais que precisam ser corrigidas internamente. Ao chamar atenção para isto, antes mesmo de começar, o Fórum já trouxe bons resultados”.
 
Encerrando as falas das lideranças que abriram o último encontro preparatório, o reitor da UnB, Ivan Marques Toledo de Camargo, mostrou seu entusiasmo em receber os cientistas presentes no 7º Encontro Preparatório para o Fórum Mundial de Ciências. “Espero que a UnB seja um excelente palco para a excelência científica reunida neste evento. E que a sua realização seja benéfica para todo o país”.
 
A sensação é que os cientistas querem compartilhar a responsabilidade de construir uma agenda de desenvolvimento em conjunto com os outros grupos envolvidos nesse processo. Tarefa mais que oportuna, necessária no momento de transição vivido no Brasil e no mundo.