Receber grandes cientistas e presidentes de Academias de Ciência do mundo é um motivo de orgulho para a Academia Brasileira de Ciências e para o país inteiro. Mas, a tirar pelo discurso de boas-vindas proferido pelo ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp, na abertura da VII Conferência da Rede Global das Academias de Ciência (IAP), no Rio Othon Palace, na noite de 24 de fevereiro, a razão especial para o Brasil se sentir ainda mais orgulhoso em sediar o evento é o tema: Ciência para Erradicação da Pobreza e o Desenvolvimento Sustentável.
Brasil como exemplo
Nas palavras do ministro, “o tema deste encontro coincide com as preocupações e com as ações do governo.” É verdade que o Brasil continua a ser o país cujas boas perspectivas de futuro se asseguram em características tais como a extensão territorial, a miscigenação racial e a biodiversidade. Mas os dados apresentados pelo ministro mostraram especial progresso nos últimos dez anos, quando 40 milhões de pessoas – ou seja, 20% da população – cruzaram a linha da pobreza.
A parcela da população brasileira que pesquisa e faz ciência também teve um incremento, de acordo com o ministro Raupp: “Temos em atividade cerca de 270 mil pesquisadores, 27 mil grupos de pesquisa, formam-se 12 mil doutores anualmente, o dobro de dez anos atrás. A nossa produção científica representa 2,69% da produção mundial, sendo que há pouco mais de 20 anos, representava 0,63%”.
De acordo com o ministro, o governo está em busca de um modelo de desenvolvimento em bases sustentáveis econômica, ambiental e socialmente. No entanto, o tom do seu discurso foi universal: se, por um lado, tratou da ciência brasileira, por outro falou sobre a tarefa de todos cientistas do mundo. “Precisamos colaborar, com ênfase e determinação, na formulação de políticas públicas nas diversas áreas de atuação governamental, principalmente naquelas relacionadas com as soluções para os problemas da pobreza, como saúde, educação etc.”, asseverou.
Comissão mundial de cientistas para o combate à pobreza
Por isso, Raupp sugeriu aos cientistas encaminharem à Organização das Nações Unidas (ONU) ou à Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) a proposta de criação de uma Comissão Mundial de Cientistas para o Combate à Pobreza, com os objetivos de estimular e coordenar a elaboração de projetos, globais ou regionais, de combate à pobreza; viabilizar o financiamento internacional e/ou local desses projetos; subsidiar governos em projetos e iniciativas de combate à pobreza; difundir o conhecimento científico visando a definição de políticas públicas voltadas para a erradicação da pobreza; organizar uma rede mundial de instituições científicas e/ou de cientistas para o combate à pobreza. A intenção do ministro é que esta comissão promova a cooperação de recursos humanos e infraestrutura entre as nações, permitindo o compartilhamento do conhecimento científico entre os povos.

Howard Alper (IAP), Marco Antônio Raupp (MCTI),
Jacob Palis (ABC) e Mohamed Hassan (IAP)

Esta chamada à ação feita pelo ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação deve ter entusiasmado os atores que escolheram o Brasil para sediar eventos nos quais as agendas mundiais de desenvolvimento são formuladas. A exemplo da ECO92 e da RIO+20, que reuniram organizações políticas e movimentos sociais, a VII Conferência da IAP conclama os cientistas para participarem deste processo. A erradicação da pobreza do mundo é um grande desafio, mas o evento busca evidenciar o fato de que há um conjunto significativo de cientistas de ponta, em todo o mundo, envolvidos no trabalho para superá-lo.