Médico com mestrado em saúde comunitária pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e PhD em epidemiologia pela Universidade de Londres, o Acadêmico Mauricio Lima Barreto tratou de saúde, energia e sustentabilidade em sua palestra, durante o 4º Encontro Preparatório para o Fórum Mundial de Ciência 2013, realizado em Salvador, na sede da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB).
Com a mortalidade infantil decrescendo e a expectativa de vida aumentando, o maior consumo médio per capita de energia nos países aumenta a chance de sobrevivência. “Criamos condições mais propícias para a vida, mas em um equilíbrio instável. Precisamos avançar”, observou o cientista. Barreto apresentou dados mostrando que a transformação da sociedade humana fez com que os problemas fossem se transformando também, desde o saneamento domiciliar, passando pela poluição urbana até a emissão de gases de efeito estufa. A exploração de combustíveis fósseis tem fornecido muitos benefícios para a humanidade, mas o seu uso é a principal causa das mudanças climáticas “A relação entre energia e sobrevivência é muito clara. Esse processo elevou o risco global de curto prazo para longo prazo”, salientou.
Os aspectos positivos
Nesse sentido, a posição do Brasil no cenário internacional é boa. Existe um bom suprimento e bom acesso à água limpa, o que tem imenso impacto na saúde humana. Em termos de saneamento básico, o país evoluiu bastante, mas a situação ainda é precária em muitas regiões. Em torno de 85% da população urbana tem acesso à eletricidade. A falta de acesso à eletricidade afeta 1,6 bilhão de pessoas no mundo, gerando riscos adversos à saúde. Barreto lembrou que o acesso à água e ao saneamento básico dependem de eletricidade.
A dependência da queima de carvão doméstico e de combustíveis de biomassa é responsável por uma alta carga de doença nos países mais pobres. “Esse é um produto que exerce grande impacto respiratório sobre as crianças, sendo extremamente danoso para a saúde”, reiterou o pesquisador. O Brasil não depende tanto de biomassa quanto alguns países da África, por exemplo.
Por outro lado, o padrão de mortalidade por doenças infecciosas no Brasil se aproxima hoje dos países de primeiro mundo, o que é positivo. “As tendências das causas de morte mudaram. O que mata mais, atualmente, são as doenças crônicas e a violência. Na década de 30, metade dos óbitos no país se dava por doenças infecciosas. Hoje, esse índice é de 7%.” Os índices de mortes por diarreias e doenças respiratórias também diminuíram, assim como o índice de desnutrição. “Na década de 70, a desnutrição atingia 60% da população mais pobre e hoje atinge 10%. A energia acessível contribui bastante para esse novo quadro”, apontou Barreto.
Os aspectos negativos
Ao mesmo tempo em que o país resolve seus problemas de nutrição, o sobrepeso da população está aumentando muito. A diminuição da atividade física em geral trazida pela energia elétrica é muito grave, a cada ano há um aumento da obesidade. “Nossos índices estão se aproximando dos índices norte-americanos. Por isso temos taxas altas de diabetes, também próximas as dos países desenvolvidos, o que não é bom.”
“Apesar de todas as transformações positivas, ainda temos uma carga grande de doenças graves”, alertou o palestrante. Ele deu como exemplo a epidemia de dengue, que pode trazer altas taxas de mortalidade, assim como a leishmaniose visceral, um dos terrores da saúde pública, que está se espalhando nas áreas rurais e chegando nas áreas urbanas. Outra doença grave no país é a malária, que afeta ainda muito a região amazônica.
Efeitos das mudanças climáticas
O desequilíbrio energético e climático pode trazer efeitos danosos à saúde da população. As ondas de calor na Europa em 2003 mataram 40 mil pessoas. “Oscilações na temperatura urbana para qualquer lado tem efeitos diretos sobre a possibilidade de sobrevida da população”, ressaltou Barreto. Ele acrescentou que São Paulo tem nove mil óbitos por ano ligados a problemas da poluição atmosférica, liberada por transportes urbanos.
Mudanças de hábitos
Barreto esclareceu que os efeitos adversos para a saúde decorrentes da mudança do clima, acidentes rodoviários, inatividade física, poluição do ar urbano, insegurança energética e degradação ambiental estão ligados pelo seu antecedente comum – o uso de energia de combustíveis fósseis no transporte.
As políticas públicas que incentivem a transição para um sistema de transporte de baixo carbono e baixa energia, portanto, têm o potencial de trazer importantes benefícios para a saúde. “O aumento do transporte ativo – a pé ou de bicicleta – integrado ao transporte público para viagens mais longas, além de fazer bem à saúde por reduzir o sedentarismo pode ter papel importante no cumprimento das metas de redução emissões de gases estufa”, concluiu o Acadêmico.
Por sua destacada atuação em epidemiologia e saúde coletiva, Maurício Lima Barreto recebeu o título de Professor Honorário da Escola de Higiene e Medicina Ttropical da Universidade de Londres, em 2012; Heath Clark Lectureship 2012, em 2010, também da Universidade de Londres; a Comenda da Ordem do Mérito Médico, outorgada pela Presidência da República, em 2010; a Medalha Pirajá da Silva, oferecida pelo Ministério da Saúde, em 2008, assim como o Diploma de Honra ao Mérito da Assembleia Legislativa do Estado da Bahia, no mesmo ano.