“Um bom cientista deve ter uma cultura geral muito vasta, estar atento ao que acontece na sociedade que o cerca e no potencial de sua região. O cientista de hoje não deve ficar restrito a uma área específica. Isso limita muito a possibilidade de sucesso, de se encontrar respostas e evoluir na ciência e na tecnologia”. Essa visão de mundo abrangente e multidisciplinar foi construída aos poucos por Paulo Anselmo Ziani Suarez. Irmão do meio de três, a infância de Paulo Anselmo foi passada em Artigas, uma cidadezinha do interior do Uruguai, onde os pais tinham uma loja de roupas na qual trabalhavam, sendo que a mãe ainda acumulava algumas tarefas domésticas.
Quando criança, ele não era de brincar muito. Tinha poucos amigos e preferia ler e se dedicar a alguns hobbies, como colecionar selos e cuidar de aquário. Completou o ensino fundamental no Uruguai, sendo alfabetizado em espanhol. Aos quinze anos decidiu retornar ao Brasil, iniciando o ensino médio na sua cidade natal, Quaraí, e finalizando em Porto Alegre, para onde se mudou sozinho aos 17 anos. Tanto no ensino fundamental quanto médio, gostava bastante de matemática, biologia e química, o que o levou a optar por fazer vestibular para o curso de Engenharia Química.
Na infância e adolescência não conviveu com nenhum cientista. Sempre teve interesse por assuntos relacionados à ciência, mas só teve contato com cientistas quando ingressou na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Suarez considera que sua escolha pela carreira acadêmica teve grande contribuição de sua orientadora da iniciação científica, a professora Yeda Pinheiro Dick, com quem trabalhou por quatro anos na área de preparação de compostos de coordenação e uso dos mesmos como catalisadores para obtenção de polibutadieno.
Seguiu o mestrado em Química e, posteriormente, obteve o doutorado em Ciências dos Materiais, tendo realizado parte do curso na Université Louis Pasteur, em Estrasburgo, na França. “Nesse período fui muito influenciado pelos meus orientadores, os Acadêmicos Jairton Dupont e Roberto Fernando de Souza, que foram extremamente importantes para a minha formação”. Durante o mestrado e doutorado trabalhou com o estudo de líquidos iônicos e o uso deles como solventes em reações orgânicas de interesse da indústria petroquímica.
Quando concluiu o doutorado, Suarez se mudou após passar em concurso público para a Universidade de Brasília (UnB), primeiro como professor visitante, em 2001, e no ano seguinte como professor adjunto. Por acreditar que precisava de uma formação pedagógica para exercer a atividade de professor, decidiu complementar a sua instrução e obteve o título de Especialista em Ensino à Distância pela mesma universidade.
Ciência interdisciplinar e aliada à vocação da região
Quando terminou o doutorado e se transferiu de Porto Alegre para Brasília, Suarez decidiu mudar completamente sua linha de pesquisa, para tentar uma carreira independente dos seus orientadores. Assim, decidiu trabalhar com biomassa, pois considerou que era a vocação do centro-oeste. Desde então, trabalha principalmente com óleos e gorduras vegetais e animais. “O maior foco do meu grupo de pesquisa é produzir, a partir dessas matérias-primas, combustíveis e polímeros que possam substituir os derivados de petróleo. As nossas pesquisas visam desenvolver processos para realizar essa transformação e metodologias de análise, tanto do andamento dos processos quanto dos produtos formados”, explica o cientista, atualmente professor adjunto no Instituto de Química da UnB e bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq desde 2003.
Para Suarez, uma das principais características da vida de cientista é a contínua transformação do cotidiano. “Precisamos ter uma rotina bastante disciplinada de trabalho, mas o nosso objeto e nossas ações se modificam constantemente”. Na sua área, especificamente, sua motivação vem do enorme desafio de usar a biodiversidade brasileira e os produtos do agronegócio para produzir os insumos que a sociedade moderna necessita. “Hoje estou trabalhando com microalgas, palmeiras e outros seres vivos para a produção de combustíveis e diversos materiais. Isso é um exemplo claro de que o mundo hoje precisa de interdisciplinaridade, de que as soluções provavelmente vão surgir da interação entre diversas áreas de estudo.”
Realizando um sonho impossível
Suarez trabalhou como pesquisador visitante na Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e no Serviço de Pesquisas em Agricultura do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Peoria, Illinois, EUA). Em 2011, atuou como Tinker Visiting Professor na Stanford University (Palo Alto, Califórnia, EUA).
Pelos seus trabalhos de pesquisa, Suarez recebeu diversos prêmios, entre eles o de Jovem Pesquisador na edição 2004 do Prêmio Mercosul de Ciência e Tecnologia, outorgado pela Unesco, RECyT e MCT; primeiro colocado, em 2006, na área de Ciências Exatas, da Terra e Engenharias do Prêmio UnB Pesquisa; prêmio Pesquisador em Catálise 2007, outorgado pela Petrobras e Sociedade Brasileira de Catálise. Em 2010 recebeu homenagem da Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB) pela sua carreira de destaque como professor na UnB e lhe foi outorgada a Comenda da Ordem Nacional do Mérito Científico, da Presidência da República do Brasil. Após ser eleito Membro Afiliado da ABC, recebeu da Sociedade Brasileira de Química (SBQ) e da American Chemical Society (ACS) o Young Talents in Science Award, em 2011.
Pertencer aos quadros da Academia Brasileira de Ciências sempre foi, para ele, “um sonho impossível, daqueles que a gente supõe que nunca irão se concretizar”. Surpreendeu-se, assim, com o título de Membro Afiliado. “Mesmo não sendo como Membro Titular, entrar para a ABC significa pertencer a um grupo restrito, que representa o reconhecimento dos nossos pares. Eu pretendo contribuir com a ABC desenvolvendo minha carreira científica e procurando ser uma referência para novos talentos brasileiros.”