Fernando Guadalupe do Santos Lins Brandão é o irmão do meio de três meninos e gostava de brincar de Playmobil. O pai é professor de grego antigo na UFMG e a mãe professora de filosofia na PUC-MG, além de advogada. A valorização do trabalho e da cultura, portanto, foram valores básicos recebidos na infância.
Na escola, seus gostos foram instáveis. Até a 4ª série gostava de todas as matérias; da 5ª até a 7ª série, passou a não gostar de nenhuma. Por causa disso, ficou em recuperação em matemática na 7ª série. Temendo a reprovação, Fernando passou a prestar atenção na matéria e descobriu que gostava muito de matemática. “Desde então, sempre gostei mais das exatas: matemática, física e química”. Em função desse gosto pelas exatas, entrou para a faculdade de Engenharia de Controle e Automação. “Os primeiros dois anos foram ótimos. Mas na hora que começaram as matérias de engenharia mesmo, como programação de máquinas industriais, por exemplo, percebi que não gostava nem um pouco daquilo e que o meu real interesse era em ciência fundamental”, relata o Acadêmico.
Interesse real na ciência básica
Mudou então para a graduação em Física pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde fez iniciação científica com o professor Reinaldo Vianna, que lhe apresentou a área de pesquisa que em que atua até hoje: informação quântica. Seguiu no mestrado com o mesmo orientador e na mesma área. No doutorado, estudou no Imperial College, na Inglaterra, sob a supervisão do professor Martin Plenio, que também teve importância significativa, segundo Brandão, em sua formação.
Atualmente é professor adjunto do departamento de Física da UFMG e desenvolve pesquisas em informação quântica, computação quântica e ótica quântica, principalmente em teoria do emaranhamento, teoria quântica de Shannon, teoria da complexidade quântica, algoritmos quânticos, simuladores quânticos e eletrodinâmica quântica de cavidades. Atuou como professor visitante em diversas instituições internacionais, como a National University of Singapore (NUS); o Institut Mittag-Leffler (IML), na Suécia; The Erwin Schrodinger International Institute for Mathematical Physics (ESI), na Áustria; The Fields Institute for Research in Mathematical Sciences (FIRMS), no Canadá; e o National Quantum Information Center of Gdansk (KCIK), na Polônia.
Dedicação à criptografia quântica e amor pela ciência
A mecânica quântica, de acordo com Brandão, é a teoria que descreve o comportamento físico de sistemas microscópicos, como átomos e fótons. Apesar de apresentar propriedades contra-intuitivas, a teoria se mostrou fundamental em diversos avanços tecnológicos: o transistor e a ressonância magnética nuclear são dois de muitos exemplos. “Minha pesquisa tem como objetivo elucidar como a teoria quântica pode oferecer uma nova revolução no processamento de informação. Em particular, estudo a possibilidade de se construir um computador quântico, que seria muito superior aos melhores computadores da atualidade, e a ideia da criptografia quântica, que permitiria a transmissão de informação de forma totalmente segura”, explica o Acadêmico.
O que ele gosta mesmo na ciência é o fato de poder aprender alguma coisa nova todo dia. E avalia que, para ser um bom cientista, é preciso ter curiosidade, humildade e vontade de sempre se superar. “Ser um cientista significa dedicar longas horas ao trabalho, se sentir constantemente frustrado com problemas que não se consegue resolver, receber salários modestos… mas é a melhor profissão do mundo”, entusiasma-se Brandão. E o título de Membro Afiliado da ABC significa que seu trabalho é realmente de interesse científico, o que, para ele, é uma grande honra.