Stevens Rehen e Antonio Carlos de Carvalho

As Ciências Biomédicas foram o tema da mesa de abertura do segundo dia do “Avanços e Perspectivas da Ciência no Brasil, América Latina e Caribe”. O Membro Titular Antonio Carlos Campos de Carvalho e o Membro Afiliado Stevens Kastrup Rehen apresentaram suas pesquisas na área, que fazem uso de células-tronco.

O professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Stevens Rehen mostrou o potencial das células-tronco de pluripotência induzida (iPS, na sigla em inglês), ou seja, células reprogramadas que atuam como modelo para o estudo de doenças humanas. Comparando as iPS com outros modelos, como células não neurais ou células animais, elas apresentam um maior potencial em termos de capacidade de identificar mecanismos relacionados a doenças.

O Acadêmico apresentou as doenças que estão sendo estudadas, do ponto de vista do cérebro, a partir de células iPS e, em seguida, focalizou no seu trabalho, relacionado às células de pacientes com esquizofrenia. Seu grupo de pesquisa do Laboratório Nacional de Células-Tronco Embrionárias (LaNCE-UFRJ) descobriu, recentemente, que os neurônios de pacientes esquizofrênicos consomem mais oxigênio do que neurônios saudáveis, mas não produzem mais energia. “O excesso de oxigênio acaba sendo responsável pela produção de espécies reativas de oxigênio e de radicais livres, o que pode estar envolvido com as alterações metabólicas presentes no paciente esquizofrênico”, explicou Rehen.

Essa descoberta é inédita no mundo. “Agora, vamos buscar identificar genes envolvidos nesses processos, relacionados com metabolismo de oxigênio e com diferenciação neural”, afirmou o pesuisador. “Estudaremos aqueles que estão mais conectados com o que observamos do ponto de vista metabólico, para depois buscar uma forma de interferir com esses genes e tentar reverter o fenótipo”. Para saber mais sobre a pesquisa do bioquímico e entender como foi utilizada a técnica de reprogramação celular, leia a matéria sobre a primeira apresentação desses resultados, realizada em agosto de 2011, na ABC.

Antonio Carlos Campos de Carvalho, também professor da UFRJ, falou sobre o presente e o futuro de sua pesquisa relativa à terapia celular em cardiologia. Ela visa identificar novos tratamentos para doenças cardíacas baseados no uso de células-tronco já conhecidas: as de medula óssea, as cardíacas e as pluripotentes, que englobam as embrionárias e as derivadas de fibroblastos da pele – que se transformam em pluripotentes por manipulação genética.

Para o Acadêmico, as células-tronco são, atualmente, uma das áreas mais “em alta” dentro das Ciências Biomédicas, juntamente com a biologia sintética e os micro-RNAs. Ele enfatizou a importância do progresso científico que esta área da Ciência alcançou na última década. “Estamos muito perto de conseguir uma verdadeira revolução no modo de praticar a medicina, tornando-a mais individualizada, em função das descobertas científicas nos últimos anos.”

Para Carvalho, a medicina regenerativa, fruto do conhecimento acumulado sobre a biologia das células-tronco, permitirá que a população mundial – em processo de envelhecimento acelerado – desfrute da terceira idade com uma qualidade de vida melhor.

Já Stevens Rehen acredita que uma tendência (e necessidade) brasileira é a integração conhecida como básico-clínica, que coloca as Ciências Biomédicas na interface entre a aplicação clínica e a pesquisa básica. “Observando alguns hospitais, centros médicos e grandes institutos de pesquisa dos Estados Unidos e de outros países, vemos essa interface muito mais claramente. No Brasil – ou na UFRJ, pelo menos – a pesquisa básica está de um lado e a área clínica do outro.” Para o Acadêmico, o desafio desse campo da Ciência é aumentar essa integração, expandindo o diálogo entre médico e cientista. “Assim, vamos avançar mais no entendimento das doenças e, eventualmente, na busca de novas curas e medicamentos.”