Como parte da Conferência Avanços e Perspectivas da Ciência no Brasil, América Latina e Caribe 2010, os presidentes das Academias de Ciências da Bolívia, Chile e Colômbia apresentaram a situação atual dos sistemas de C&T em seus países durante o evento realizado pela ABC no final de 2010.

Avanços e Perspectivas da Ciência no Chile

O presidente da Academia Chilena de Ciências, Juan Alfonso Asenjo, apresentou o estágio da CT&I em seu país. Asenjo esclareceu que, apesar de a produção científica bruta do Chile estar quantitativamente abaixo de países como Brasil, Argentina e México, sua qualidade é mais reconhecida, quando analisadas as citações feitas em outros artigos científicos. “Proporcionalmente à sua densidade demográfica, a produção científica chilena ultrapassa a dos demais países latinoamericanos”, argumentou o presidente.

Visando o aprimoramento da ciência chilena. A capital do país sediou o 12º Simpósio Internacional de Biotecnologia, em 2004, e em 2009 foi realizado um workshop de Cooperação em Ciência e Tecnologia Chile-EUA. Também foi enfatizada a cooperação com o Brasil firmada em agosto de 2010. Asenjo citou o Brasil, a Espanha e a China como exemplos bem sucedidos a serem seguidos. “A institucionalidade frágil, dispersa e obsoleta não cumpre a tarefa de desenhar estratégias e políticas nacionais”, afirmou Asenjo, ressaltando a necessidade de uma política de Estado. “O Chile não conseguirá se desenvolver investindo menos de 1% do PIB em CT&I”.

O aumento de recursos se destinaria à superação dos gargalos ao desenvolvimento chileno. “A alta rentabilidade da exportação de commodities não favorece a inovação, o que reflete na baixíssima participação do setor privado, que contribui apenas com 1/3 dos gastos”, lamentou o presidente. A insuficiente massa crítica de cientistas e pesquisadores, assim como a excessiva concentração geográfica do capital humano e dos recursos econômicos, em contraste com a dispersão das atividades exportadoras, também foram citadas como obstáculos a serem superados.

Avanços e Perspectivas da Ciência na Colômbia

O atual Presidente da Academia Colombiana de Ciências Exatas, Físicas e Naturais (ACCEFYN) Jaime Rodriguez Lara, apresentou alguns aspectos do desenvolvimento das ciências na Colômbia.

Lara contou que em 1956 foi fundada a Sociedade Colombiana de Física e em 1959 foi criado o Departamento de Física na Faculdade de Engenharia. “A carreira de físico foi reconhecida em 1962”. Seis anos depois foi assinado um convênio de cooperação com a Alemanha, com a proposta de formar no menor tempo possível físicos de alto padrão acadêmico. Nos anos 70 se iniciou a criação de programas de pós-graduação, começando pelos mestrados e, nos anos 80, foram estruturados os cursos de doutorado. “A cooperação com a Alemanha deu um grande impulso à ciência na Bolívia”, destacou o cientista, acrescentando que “nas Ciências Exatas e Naturais formamos hoje cerca de 110 doutores por ano, sem contar o número considerável dos que se formam no exterior”, comemorou Lara.

A legislação para CT&I foi criada em 1990, sem promover nenhuma grande transformação estrutural na área. Em 2009 – ou seja, 19 anos depois – foi criada outra lei, fruto de amplo debate que envolveu representantes de universidades, institutos de pesquisa e academia. “Um dos políticos que encabeçou o projeto, Jaime Restrepo Cuartas, é hoje o diretor do Departamento Nacional de C&T.”

O financiamento para CT&I também vem prosperando e em 2009 estima-se que 995 US$ milhões tenham sido aplicados principalmente pelos setores nacionais, públicos e privados, atendendo a 14.988 pesquisadores. “As patentes, porém, não acompanharam esse progresso”, lamentou, “apenas 228 foram pedidas, sendo concedidas 165, um número que ainda reflete nossa pobreza nesse aspecto”.

Avanços e Perspectivas da Ciência na Bolívia

O presidente da Academia Nacional de Ciências da Bolívia, Gonzalo Taboada Lopes, dissertou sobre o atual contexto tecnocientífico e o foco das principais políticas públicas do país. Lopes apontou as prioridades do país, que são a agropecuária, a ecologia e o meio ambiente, em virtude da grande diversidade geográfica boliviana. Explicou que ainda há entre as principais atividades as agroflorestais, a pesca e a aqüicultura. “Temos uma grande diversidade de espécies de peixes, são mais de 400”, contou o presidente. No entanto, os recursos pesqueiros do país e sua relação com a conservação e a gestão sustentada são suscetíveis ao impacto humano direto.

A saúde também ocupa espaço destacado na agenda pública boliviana. O palestrante apresentou o projeto Missão Solidária Moto Mendez, desenvolvido pela Aliança para os Povos da América Latina (ALBA), que tem por objetivo identificar e cadastrar os indivíduos com deficiências por todo o território boliviano. Em seguida, são promovidos estudos sobre as peculiaridades biopsicossociais destes indivíduos, assim como se busca determinar as causas principais da s incapacidades intelectuais e físicas.

Após o cadastramento, Lopes conta que são distribuídos equipamentos como bengalas, cadeiras de roda, camas especiais, colchões, aparelhos para surdez e outros implementos. Esta missão também procura apoiar o tratamento e a reinserção dos portadores de deficiência – que são em torno de 57 mil – à sociedade, através de um trabalho multidisciplinar que envolve geneticistas como Lopes e outros especialistas de diversas áreas da saúde.