O primeiro sonho de Marcelo Fernandes Furtado, como de muitos garotos, era ser jogador de futebol. “Infelizmente para os clubes, eles não descobriram meu talento”, brinca. Mas outra paixão se anunciava. O desafio que sentia pelos jogos que envolviam a lógica, como os quebra-cabeças, o impeliu nessa direção.

A preferência se refletiu na escola, quando a matéria que mais o motivava era a matemática. “Era meu forte”, lembra Marcelo, “nunca fui muito bom em português”. Ele também atribui às Olimpíadas de Matemática uma influência decisiva em sua escolha de carreira. “Um grupo se reunia durante a semana para estudar com algum professor e se preparar para participar das Olimpíadas, isso me incentivou muito”, acrescenta.

Houve dúvida, contudo, na hora de escolher qual vestibular prestar. “Gostava de matemática, mas achava que ser filósofo era legal, ficava pensando nas questões da vida”… No final das contas, acabou optando por matemática. “Ainda bem, porque não sei se seria um bom filósofo”, diz o pesquisador.

Mas Marcelo não imaginava até onde poderia chegar. “Não pensava no que fazer depois de me formar, nunca tive muitas aspirações”, revela o Acadêmico. Já no segundo semestre da faculdade de matemática na Universidade de Brasília (UnB), Furtado entrou para o Programa de Educação Tutelar (PET), por indicação de professores, onde ficou até o final do curso. O matemático explicou que tal programa é diferente da iniciação científica porque não se restringe à matéria cursada. “O PET não contribuiu em quase nada para o desenvolvimento de minha pesquisa em matemática, mas contribuiu muito para a minha formação geral”, garante, contando que no programa lia livros, assistia a filmes e divulgava eventos.

Marcelo Furtado formou-se bacharel pela UnB em 1997. Só a partir de então é que se adensaram suas pesquisas. No mestrado aplicou-se ao estudo de equações diferenciais parciais. Estudou artigos científicos e contou com a importante contribuição de seu orientador. “Tive sorte porque o professor Elves Silva me deu muito estímulo, começamos a estudar temas mais avançados, o que resultou em um trabalho inédito”, conta. E agradece: “Devo muito a ele, pois ele foi uma influência importante para que eu me tornasse um pesquisador”.

Após concluir o mestrado com sucesso em 1999 pela UnB, havia a possibilidade de Furtado rumar para os Estados Unidos. Mas a ideia não lhe agradou. “Não queria ir sozinho”, explica. A dúvida da época do vestibular ressurgia e Furtado pensou em fazer um doutorado em filosofia. O motivo, segundo ele, era a linguagem fechada da matemática. “Ela é muito hermética”, observa, “é difícil explicar numa mesa de bar o que você pesquisa. Será que quero mesmo fazer uma coisa que ninguém entende?”, perguntava-se. Mas depois de muita reflexão, rendeu-se à vocação e cursou o doutorado em matemática pela Unicamp, que concluiu em 2004.

Atualmente professor da UnB, Furtado explicou que a matemática resolve problemas de qualquer natureza. “Ela é uma linguagem que tenta unificar os diversos ramos da ciência. Todos os trabalhos científicos, tanto teóricos como práticos, esbarram muitas vezes em problemas matemáticos complexos”. Nesses casos, segundo ele, entra em cena o matemático para resolvê-los e pensar em modelos que facilitem os trabalhos. “Para saber o que é preciso fazer para um carro ficar mais eficiente fazemos modelos para mostrar o que é mais importante na sua eficiência, como o peso, o material do pneu, isso tudo a partir de equações que muitas vezes só o matemático é capaz de resolver”, exemplifica o professor.

Furtado ganhou destaque por sua pesquisa acerca da existência de soluções para equações de Schrödinger não lineares. No estudo, ele considerou diversos tipos de potenciais e mostrou como a natureza dos seus pontos críticos afeta o comportamento das soluções. A sofisticação da pesquisa deu-lhe destaque, chamando a atenção da matemática e Acadêmica Keti Tenenblat, que o conhecia desde os primeiros anos do PET e que o indicou para membro afiliado da ABC.

Furtado, contudo, diz ter recebido a indicação com surpresa. “Acho que existem muitos pesquisadores competentes por aí”, justifica. Ele considera interessante a iniciativa por incentivar os estudiosos da matemática, área que considera muito dura. “Muitas vezes ficamos muito tempo trabalhando em algo que não dá certo”, esclarece o pesquisador. “Então, quando alguma coisa dá certo e temos reconhecimento, ficamos muito felizes”.

O Acadêmico pretende, com o título, continuar fazendo seu trabalho da melhor maneira. Apesar de não se sentir muito à vontade em ambientes formais, quer ajudar na área regional. “É onde eu conheço mais gente”.