Em que pesem os excelentes serviços prestados, o Ministério da Educação está prestes a cometer grave erro que poderá conduzir o país a um atraso. Os membros do comitê responsável pelo projeto Referenciais Nacionais de Cursos de Graduação, coordenado e conduzido dentro do MEC, não devem saber a diferença entre geofísica e geologia e acreditam que devem unificar os dois cursos de graduação num só, o de geologia.

Sem geofísicos, o petróleo abundante e de boa qualidade, que tornaria o país um exportador de hidrocarbonetos, ficaria fadado a permanecer oculto e intocado nas profundezas da camada do pré-sal. Não é possível conhecer a geologia marinha sem a ajuda essencial da geofísica.

Mas não é só na indústria do petróleo que os geofísicos podem atuar. O setor mineral está aquecido para pesquisa exploratória. E, especialmente em áreas cobertas por espessa vegetação, como a Amazônia, região de difícil acesso por via terrestre, a geofísica aérea ganha em agilidade e logística.

Atribui-se à geofísica a compreensão da estrutura interna do planeta. Graças aos pesquisadores geofísicos, foi possível elaborar a Teoria da Tectônica de Placas, amplamente aceita hoje e que explica as causas de terremotos e tsunamis.

Diferentemente da geologia, que estuda a Terra a partir dos afloramentos visíveis na superfície, os métodos geofísicos se baseiam na medição e comparação de fenômenos físicos como eletricidade, magnetismo, radioatividade, acústica, ótica, ondas, sísmica, gravidade, entre outras medidas que nos permitem mapear e “enxergar” a subsuperfície do planeta com grande precisão.

Não é só no Brasil que a falta de geofísicos qualificados preocupa. No Reino Unido, por exemplo, devido a dificuldades para formar novos geofísicos, a Associação Britânica de Geofísica faz uma série de recomendações para assegurar o “fornecimento equilibrado de geofísicos graduados, aptos a satisfazer as demandas de curto, médio e longo prazos da indústria da energia em geral e do país”.

Na introdução de um estudo realizado pela entidade em 2006, Lorde Browne of Mandigley, principal executivo do Grupo BP (British Petroleum), definiu a geofísica como matéria ampla situada no ponto de encontro de muitas das grandes ciências – física, astronomia, ciências planetárias, geologia, ciências ambientais, oceanografia e meteorologia.

“As observações geofísicas são fundamentais para o nosso entendimento da Terra e seu funcionamento. A geologia moderna é amplamente baseada nessas observações”, afirmou o executivo do BP. E foi além: “A geofísica é uma ferramenta essencial no armazenamento seguro de lixo radioativo, monitoramento de tratados de banimento de testes e armas nucleares, avaliação e mitigação de fenômenos naturais, o sequestro de dióxido de carbono da atmosfera e a caracterização e proteção das fontes de água do mundo. É a única maneira de investigar e aprender sobre os processos e estruturas profundas da Terra e, portanto, um suprimento de geofísicos é vital para o futuro da nação”.

A Academia Brasileira de Ciências manifestou sua preocupação ao ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, em carta publicada no site da Sociedade Brasileira de Geofísica (SBG). “A decisão do MEC de extinguir cursos de graduação em geofísica, colocando-os dentro dos cursos de geologia, atinge profundamente os sete cursos em funcionamento (IAG/USP, UFF, UFRN, UFBA, Unipampa, UFPA, UnB), sendo que o mais antigo deles (USP) acaba de completar 25 anos de existência.”

Para 24 Acadêmicos da área de Ciências da Terra – Maria Assunção Faus da Silva Dias, Jacques Lépine, Beatriz Barbuy, Diogenes de Almeida Campos, Wilson Teixeira, Marcelo Sousa de Assumpção, Valderez Pinto Ferreira, João Batista Corrêa da Silva, Marta Silvia Maria Mantovani, Alcides Nóbrega Sial, Igor Ivory Gil Pacca, Miguel Angelo Stipp Basei, Paulo Eduardo Artaxo Netto, Adolpho José Melfi, Pedro Leite da Silva Dias, Roberto DallAgnol, Colombo Celso Gaeta Tassinari, Márcio Martins Pimentel, Reinhardt Adolfo Fuck, Alexander Wilhelm Armin Kellner, Vicente Antonio Vitório Girardi, Ricardo Ivan Ferreira da Trindade, Paulo Marcos de Paula Vasconcelos – a decisão do MEC pode ser danosa ao desenvolvimento científico e tecnológico da área. Há três novos cursos em fase de projeto nas universidades Estadual Paulista (Unesp), Federal de Ouro Preto (Ufop) e Estadual de Campinas (Unicamp), em vista da carência e grande procura por profissionais da especialidade, motivada pelo incremento da atividade da indústria do petróleo e da exploração mineral no Brasil.

A convergência de denominações em andamento no MEC, que pretende atualizar e unificar as designações de milhares de cursos de graduação que têm projetos pedagógicos e perfis semelhantes, mas com nomenclaturas diferentes, está para cometer grave erro e poderá, se vier a acabar com os cursos de geofísica, conduzir o país a um retrocesso, freando a formação de profissionais capacitados para atender à crescente demanda por serviços especializados e novos pesquisadores em geofísica.