Nos últimos anos, vêm aumentando progressivamente os indicadores de alterações cruciais no equilíbrio da Terra. O gelo marítimo do Ártico está derretendo mais rápido do que o previsto, enquanto o nível do mar está subindo, a salinidade está sendo reduzida, a desertificação das regiões áridas e o empobrecimento das águas subterrâneas no Sul do Mediterrâneo estão aumentando muito rapidamente. Estes fenômenos sinalizam claramente a insegurança crescente no planeta. A aceleração vertiginosa das mudanças climáticas ameaça o desenvolvimento econômico e social dos países ocidentais e pode afetar seriamente o futuro dos países em desenvolvimento. Essas mudanças, diretamente relacionadas ao aumento do uso de combustíveis fósseis, requerem medidas urgentes por parte dos governos, que precisam adotar novas políticas em relação à produção mundial de energia.

O G8 Summit, que será realizado em Áquila, na Itália, no mês de julho próximo, representa uma grande oportunidade para que os líderes políticos confrontem a situação de forma global com coordenação internacional.

Com vistas a fornecer dados científicos para avaliação e sugerir possíveis estratégias de intervenção, a Accademia Nazionale dei Lincei, da Itália, reuniu em Roma cientistas das Academias de Ciências do grupo G8+5 (no final de março). O Encontro de Academias do G8 + 5 é uma reunião anual das Academias de Ciências dos países membros do G8 e de cinco outros – África do Sul, Alemanha, Brasil, Canadá, China, Estados Unidos, França, Índia, Itália, Japão, México, Reino Unido e Rússia, além do Egito como observador -, organizada desde 2005 pela Academia do país onde for ocorrer o G8 Summit, que em 2009 será na Itália.

O resultado do encontro foi um documento conjunto abordando as principais emergências globais relacionadas com o clima e com o consumo de energia, analisando-as de um ponto de vista científico e imparcial. A contribuição brasileira para a elaboração deste documento foi muito efetiva, através de uma apresentação feita pelo presidente da ABC, Jacob Palis, sobre o etanol brasileiro, elaborada por um grupo liderado pelo Acadêmico Carlos Henrique de Brito Cruz. O dia 11 de junho de 2009 foi escolhido para o lançamento internacional do documento.

O documento destaca a imensa oportunidade de geração de novas soluções em construção, transporte, conservação de alimentos, comunidades urbanas e industriais, segurança de áreas protegidas, economia de água na agricultura e na área industrial. É uma oportunidade que deve ser aproveitada para a criação de novos empregos e para o estímulo a mercados novos e emergentes.

Os cientistas sugerem o desenvolvimento de novas políticas para uma economia global não baseada no uso exclusivo de combustíveis fósseis, encorajando a adoção crescente de tecnologias de energias renováveis como a eólica, geotérmica, energia solar, biocombustíveis e a energia das marés. Fontes de energia nuclear, muito contestadas pelo público em geral, poderiam ser convenientemente desenvolvidas se os reatores forem seguros o suficiente para reduzir o risco da operação. A colaboração internacional é fundamental para o desenvolvimento da próxima geração de reatores nucleares enquanto os governos devem alocar adequadamente e controlar o lixo radioativo produzido.

Um problema fundamental é a emissão de gases estufa. Uma economia de baixa emissão de carbono vai requerer sistemas integrados, colaboração global e ações coordenadas. A colaboração internacional na pesquisa científica sobre tecnologias de baixo carbono e de resiliência ao clima é crucial para um “mundo de baixo carbono”.

Será apresentado também um documento das Academias africanas sobre a fuga de cérebros, um fenômeno que empobrece a África, privando-a de seus cientistas e especialistas, contribuindo para adiar seu desenvolvimento com consequências significativas nos fluxos de migração. Neste documento, os países membros do G8+5 são solicitados a apoiar projetos de pesquisa envolvendo cientistas africanos, para encarojar a colaboração entre estes que migraram para países desenvolvidos e os que continuam trabalhando em seus países natais visando a criação de oportunidades de trabalho e a troca de conhecimentos, vitais para o futuro desenvolvimento desses países.