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Ciências Químicas | MEMBRO TITULAR

Paschoal Ernesto Américo Senise

(SENISE, P.)

19/08/1917
Brasileira
27/12/1960

Desde a adolescência, alimentou a idéia de se formar em Medicina. Ao chegar ao último ano do curso secundário, em 1934, em face da dificuldade de conciliar a preparação para o ingresso na Faculdade de Medicina com os estudos no colégio Dante Alighieri, onde seguia os cursos brasileiro e italiano, foi obrigado a deixar de lado a intenção de prestar vestibular em 1935.
Em janeiro desse mesmo ano de 1934, havia sido fundada a Universidade de São Paulo, pela reunião das faculdades tradicionais então existentes juntamente com a criação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, FFCL, faculdade esta para cujo corpo docente o governo do Estado contratara renomados professores e cientistas europeus, além de alguns brasileiros de alto nível. Esse fato novo despertou nele grande curiosidade e, aos poucos, foi amadurecendo em seu pensamento a idéia de tentar ingressar, no ano seguinte, na FFCL, com a intenção de realizar uma experiência durante um ano letivo e valer-se do estudo mais aprofundado das disciplinas para enfrentar com melhor preparo o vestibular da Medicina. Assim, em fevereiro de 1935, após provas orais, foi admitido no Curso de Química da FFCL, ou seja, passou a integrar a primeira turma de Química “básica” da USP.
Coube ao Prof. Heinrich Rheinboldt, contratado na Alemanha, instalar e dirigir o Departamento de Química, contando, principalmente, com a colaboração do Prof. Heinrich Hauptmann, da mesma origem, e no início, seu assistente.
As aulas magistrais do Prof. Rheinboldt, marcadas por acentuado cunho pessoal, com que usava os mais variados recursos didáticos, o fascinavam, assim como fascinavam os demais alunos. Acresce que, o plano geral do ensino, com grande ênfase na parte experimental de laboratório, em que o estudante aprendia a trabalhar individualmente de maneira racional, baseava-se no desenvolvimento lógico do raciocínio e no estímulo à criatividade. Percebeu logo que estava num meio diferente, que o empolgava e lhe proporcionava um tipo de satisfação íntima que nunca havia imaginado. Não precisou de muito tempo para abandonar as suas intenções iniciais de se tornar médico, e após poucos meses, decidiu abraçar a carreira de químico. Terminou o curso de licenciatura com apenas três outros colegas, remanescentes dos quarenta iniciantes (na maioria ouvintes) e foi convidado pelo Prof. Rheinboldt para ser Assistente Extranumerário, passando em 1939 a Assistente Adjunto.
No começo, o trabalho docente foi também um valioso aprendizado; o contato direto com os alunos o atraia sobremaneira e se preocupou em seguir as pegadas de seu Mestre, procurando fazer com que o estudante pudesse absorver os conhecimentos e, utilizá-los adequadamente na solução dos problemas que se lhe apresentavam. Essa atividade ajudou-o a compreender melhor o grande valor da pesquisa e a importância para o professor universitário de contribuir, mesmo que modestamente, para a geração de novos conhecimentos. Tal idéia se fortaleceu ao elaborar a sua tese de doutorado, sob a orientação do Prof. Rheinboldt, quando aprendeu a valorizar o trabalho sistemático para conduzir a investigação com mais segurança e objetividade.
Embora o ensino de graduação fosse centrado na Química Analítica, não se fazia no departamento pesquisa nesta área, pois os professores Rheinboldt e Hauptmann, tinham seus interesses científicos voltados para outros setores. No seu caso, ao contrário, vinha crescendo o pendor pela investigação analítica. Assim, além de iniciar trabalho que deveria dar fundamentação a novos métodos de análise, procurou aproximar-se do Prof. Fritz Feigl, um dos maiores químicos analíticos contemporâneos, criador da Análise de Toque (“Spot Tests”) que, chegando ao Brasil em 1940 foi acolhido pelo Laboratório de Produção Mineral, no Rio de Janeiro. Pessoa simples e muito acessível, pôde com ele manter vários contatos valiosos e estimulantes. Deve a ele a recomendação para se aperfeiçoar com os professores P.W. West e P. Delahay, na Universidade da Lousiana, em Baton Rouge, Estados Unidos (1950-1952).
Daí por diante, fortaleceu-se a sua preferência pelo trabalho em campos amplos de pesquisa, com vistas à elucidação dos fenômenos básicos e da influência de eventuais variáveis para tentar chegar a um conhecimento abrangente e fazer com que as aplicações analíticas surgissem de maneira lógica e natural.