Ottilia Rodrigues Affonso Mitidieri
(AFFONSO, O. R.)
Fez os cursos primário e ginasial no Instituto Lafayette e o científico no Colégio Andrews. Desde a mais tenra idade sempre sentiu especial interesse pelas Ciências Químicas e Biológicas, além do real prazer ao estudar Matemática. Talvez por isso mantém vivas na memória as aulas de Matemática do prof. Luiz Paixão e do Prof. Miguel Ramalho Novo, aquele no Instituto Lafayette e este no Andrews e Escola Nacional de Química (ENQ) da Universidade do Brasil, hoje UFRJ. Da ENQ guarda as mais queridas lembranças – não só pela excelência do curso e de seus Mestres, mas também pelo convívio fraterno que a caracterizava. Inesquecíveis as aulas do prof. Mario Saraiva exigindo a perfeição na montagem da aparelhagem de laboratório. Finalmente a formatura. Momento de sentimentos contraditórios – a enorme alegria da conquista do Título mesclada à já enorme saudade dos queridos colegas – amigos – irmãos. Quando em 1953 dirigiu-se ao Instituto Oswaldo Cruz (IOC), hoje FIOCRUZ, para inscrever-se em um curso de Bioquímica, foi dominada por forte emoção. Ao subir as escadas do castelo mourisco viu-se entrando num templo sagrado e foi assim que se sentiu durante o tempo em que esteve no IOC – respeitando e admirando os grandes mestres que lá se dedicavam integralmente à Ciência. Deles conserva até hoje a imagem do exemplo a ser seguido. Outra grande emoção, surpreendente por ser inesperada, foi quando, já encerrado o curso do IOC, o Dr. Gilberto G. Villela convidou-a para trabalhar no IOC. No laboratório de Bioquímica, para onde foi, encontrou e fez amigos muito queridos. Com Emílio Mitidieri (seu marido a partir de 1961) e com Luiz Paulo Ribeiro, e obviamente com o Dr. Villela, deram início à linha de pesquisas com grande entusiasmo e determinação. Quando foi realizado o concurso para o IOC (com defesa de tese, provas de trabalhos, de Títulos etc.) inscreveu-se mais por imposição de consciência do que por considerar-se merecedora de se incluir entre os titulares da Instituição. Passou. Não se pode deixar de mencionar o quanto marcou-a (e aqui falo também por Emilio Mitidieri) o período já conhecido por “Massacre de Manguinhos”. Foram tempos difíceis, tristes, negros e que não ficaram limitados àquele massacre. Como ficou difícil trabalhar! Mais tarde, mudanças administrativas ocorreram. O IOC passou a regime de CLT e eles, como estatutários, não poderiam lá continuar. Sair do Instituto Oswaldo Cruz foi o momento mais difícil de sua vida profissional, traumático mesmo. Tendo que sair, aceitaram o convite da direção do Instituto Nacional do Câncer que pretendia desenvolver o seu Centro de Pesquisa Básica. Lá reiniciou suas atividades e lá permanece até hoje. Muito importante foi o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) que em determinadas ocasiões foi o que a sustentou. Do CNPq é consultora ad hoc desde 1980. Sua linha de pesquisa visa o estudo de enzimas, especialmente da xantina oxidase e, mais recentemente, da superóxido dismutase. Da xantina oxidase fez sua localização intracelular, estudou a ação de drogas, a importância do Mo e dos fosfolipídeos para a sua atividade, seu comportamento em tumores induzidos quimicamente, sua relação com radicais livres e a superóxido dismutase. Publicou cinco livros, entre os quais “Paper Electrophoresis – A Review of Methods and Results”, editado por Elsevier Publ. Co., Amsterdam, 1961 e “Problemas e Exercícios em Bioquímica”, Editora Interciência Ltda., Rio de Janeiro, 1978. Os resultados de seu trabalho foram publicados em 71 artigos e apresentados em 86 congressos, simpósios e reuniões científicas.
Embora não exercendo atividade acadêmica sempre se dedicou à orientação de estudantes, seja na sua iniciação científica seja no seu aperfeiçoamento, estimulando-os e orientando-os na elaboração de dissertações e teses.
Não se pode deixar de falar de Emilio Mitidieri que, com seu temperamento ao mesmo tempo retraído e combativo, seu espírito crítico, sua criatividade, sua dedicação entusiasmada à pesquisa científica, foi importantíssimo no trabalho de Ottilia. Dos seus três filhos, Ricardo José, Paulo Emílio e Fernanda Maria, somente a Fernanda dedica-se ao estudo da Bioquímica.
Não sabe se pode dizer que a Música é seu “hobby”. Gostaria de ter tempo disponível para se dedicar mais ao piano. A música emociona-a, encanta-a, está nela em todos os momentos.