Mucio Amado Continentino

Mucio iniciou sua carreira científica no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas CBPF realizando pesquisa sobre as propriedades magnéticas de metais de actinídeos no grupo de Affonso Gomes. Concluído seu Mestrado em 1973 ele parte para Londres onde realiza seu doutoramento no grupo de Brian Coles no Imperial College. Seu interesse em trabalhar em estreita colaboração com experi-mentais vai se consolidar durante sua estadia neste laboratório. Neste período, no Imperial College, havia grande efervescência em torno da descoberta dos vidros de spin e de sistemas magnéticos metaestáveis em geral, mobilizando teóricos e experimentais. Na sua tese de Doutorado ele examinou as propriedades magnéticas de vidros metálicos que haviam sido recentemente obtidos devido ao desenvolvimento de técnicas de resfriamento rápido. Para descrever estas propriedades magnéticas, Mucio e N. Rivier introduziram o conceito de diffusons como excitações elementares associadas com a componente longitudinal da magnetização de ferromagnetos desordenados. Estas excitações vieram explicar a discrepância entre as constantes de rigidez de ondas de spin obtidas por espalhamento de neutrons e por medidas de magnetização. Posteriormente a existência dos diffusons foi diretamente confirmada através de espalhamento de neutrons em baixos ângulos.
No seu retorno ao Brasil em 1978, Mucio dá prosseguimento a sua pesquisa sobre vidros magnéticos fascinado pelo comportamento universal destes materiais em baixas temperaturas, atribuído aos modos de tunelamente presentes em todas as substâncias amorfas. Neste período ele estuda pela primeira vez a influência destes modos estruturais nas propriedades físicas de um vidro magnético. Esta teoria é generalizada para o caso de sistemas com in-terações magnéticas frustradas onde a metaestabilidade e conse-quentemente os modos de tunelamento envolvem essencialmente rearranjos locais da magnetização. Estas teorias teriam uma posterior confirmação através de medidas de ressonância magnética, que demonstram de forma inequívoca a existência de excitações localizadas, em alguns casos associadas com aglomerados finitos na vizinhança do limite de percolação. A existência de metaestabilidade devido a frustração magnética em certas situações compromete a existência da própria fase ferromagnética dando origem à uma ins-tabilidade desta fase ao se resfriar o sistema. Esta teoria dinâmica da transição ferromagneto-vidro-de spin teve uma repercussão na área de magnetismo desordenado tendo sido importante para que Mucio obtivesse uma posição de Cientista Visitante no prestigiado T.J. Watson Research Center da IBM em Nova York. Durante o período que passou neste Centro (1985-1986), ele desenvolveu em colaboração com Malozemoff, uma teoria de escala dinâmica para a transição vidro de spin, que junto com a teoria estática foi fundamental para determinar a existência de uma verdadeira fase termodinâmica vidro de spin em três dimensões, em contraposição a um mero con-gelamento progressivo dos spins, como era especulado.
De volta ao Brasil, Mucio retoma seu trabalho em sistemas eletrônicos fortemente correlacionados. Em colaboração com Japiassu e Troper eles formulam uma teoria de escala para férmions pe-sados que vai desempenhar um papel fundamental para a compreensão destes sistemas e de outros próximos a uma transição quântica. Pela primeira vez, o conceito de temperatura de coerência é formulado de uma maneira consistente e abrangente com forte conteúdo experimental. Em uma série de publicações posteriores, Mucio estende estas idéias para tratar a transição metal-isolante, introdu-zindo o conceito de uma transição deste tipo induzida por variação na densidade de elétrons e que se encontra numa classe de universalidade diferente da transição usual de Mott. Voltando ao estudo dos férmions pesados ele propõe a idéia de comportamento não-líquido-de-Fermi associado à existência de um ponto crítico quântico. Esta série de trabalhos, que nasce de uma aplicação original da mecânica estatística a sistemas fortemente correlacionados, tem grande impacto e dá origem à uma área de pesquisa extremamente atual e vigorosa. Em seu artigo Quantum Scaling in Many Body Systems no Physics Report (Vol.239, n.3, 179-213, 1994), Mucio introduz e aplica novos conceitos de transição de fase à uma área da Física de Matéria Condensada em que até então os tratamentos eram essencialmente tipo campo médio. Convidado pela World Scientific ele expande estas idéias em um livro. Atualmente além dos sistemas fortemente correlacionados ele se dedica ao estudo de oxi-boratos magnéticos de baixa dimensionalidade. Estas linhas de pesquisa são desenvolvidas em estreita colaboração com os grupos experimentais liderados pela Profa. Elisa Saitovitch no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas e pelo Prof. João Carlos Fernandes no Instituto de Física da Universidade Federal Fluminense. Mucio tem cerca de cem trabalhos publicados, mais de seiscentas citações e orienta quatro doutorandos. Desde agosto ele exerce o cargo de Diretor do Instituto de Física da Universidade Federal Fluminense onde é professor titular.