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Ciências Biomédicas | MEMBRO TITULAR

José Marcos Chaves Ribeiro

(RIBEIRO, J. M. C.)

21/09/1950
Brasileira
03/06/2002

José Marcos Chaves Ribeiro nasceu em setembro de 1950 em Volta Redonda, Estado do Rio de Janeiro, filho de José Alencar Vieira Ribeiro, que desde cedo lhe ensinou que curiosidade era uma virtude, e de Maria Regina Chaves Ribeiro, que lhe ensinou as virtudes de paciência e perseverança. O pai tinha como hobby fotografia, marcenaria e eletrônica, tendo ensinado o filho a usar as mãos na bancada da garagem para realizar os mais diversos projetos. A mãe, professora, ensinou o filho a raciocinar ao orientar nos deveres de casa no grau primário. Com essa poderosa ajuda, o filho teve uma carreira acadêmica excelente, tendo sido constantemente o primeiro aluno da turma, e tendo se classificado em primeiro lugar no vestibular de medicina da então Universidade do Estado da Guanabara, onde 3.600 candidatos concorreram para 120 vagas. Na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, UERJ, realizou estudos sobre a Na+ + K+ ATPase renal, com os colegas Wille Oigman, Alberto Augusto Noronha Dutra e Franklin David Runjanek, sob a orientação do Dr. Emílio Francischetti, e, quando este se mudou para São José do Rio Preto, do Dr. Hugo de Castro Faria. Já no quarto ano de medicina, José Marcos decidiu se ligar ao então Instituto de Biofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ.
Tendo sido aceito no curso de mestrado do então Instituto de Biofísica, José Marcos se mudou para o laboratório do saudoso Dr. Antônio Luiz Viana (Lalá). Na tese de mestrado, desenvolveu estudos sobre as interações de cálcio, magnésio e potássio na atividade ATPásica das vesículas do retículo sarcoplasmático. Em sua tese de doutorado, feita inteiramente nos laboratórios da UFF, José Marcos mostrou que a atividade ATPásica resultava de uma verdadeira apirase, uma enzima que hidrolisava ATP e ADP até AMP. Postulou, e mostrou, que a saliva do barbeiro inibia agregação plaquetária por ADP e colágeno, tendo construído para isso seu próprio agregômetro. Descobriu também que a saliva possuia atividades anti-histamínica, anti-serotonínica e anti tromboxana A2. Tendo desenvolvido uma técnica de cirurgia para remoção das glândulas salivares de Rhodnius, mostrou que a saliva do inseto era necessária para iniciar a alimentação, não para a ingestão propriamente dita. Estes trabalhos revolucionaram o campo, onde o papel da saliva era visto até como contra-produtivo à alimentação devido à possibilidade de desenvolvimento de alergia, e os anti-coagulantes descritos anteriormente eram vistos como importantes para previnir a coagulação do sangue dentro do inseto, depois ou durante a ingestão sanguínea. Estes trabalhos de tese tiveram um impacto considerável, tendo sido responsáveis por inserir o Dr. José Marcos Ribeiro entre os 200 cientistas brasileiros mais citados num artigo da Folha de São Paulo. Em final de 1983, por razões financeiras, decide aceitar um convite do Dr. Spielman para juntar-se ao seu laboratório como pesquisador visitante. Permanece na Universidade de Harvard até 1990, tendo sido promovido a professor assistente em 1985 e professor adjunto em 1989. Neste período, José Marcos aprende muito sobre parasitologia, ecologia e epidemiologia com Andy Spielman e os demais colegas do departamento, incluindo os então estudantes de doutorado Cláudio José Struchiner e Mary Halloran. Com Anthony James é iniciado nos mistérios de biologia molecular. Durante este período em Boston, realizou vários estudos com mosquitos, flebotomíneos e carrapatos. Mostrou que a saliva do carrapato possui, além de atividades anti-hemostáticas, possui também atividades anti-inflamatórias e imunosupressivas. Em trabalho igualmente bastante citado, mostrou que o agente da doença de Lyme, a espiroqueta Borrelia burgdorferi, é transmitida pelo carrapato por via salivar, depois de 36 horas do início do repasto sanguíneo. Junto com o Dr. Thomas Mather, com quem aprendeu muita ecologia de roedores, desenvolveu e patentearam um novo método de controlar os carrapatos vetores da doença de Lyme. Em 1991 organiza a agenda e coordena um encontro em Tucson que determinou as área prioritárias de pesquisa no nascente comitê de entomologia molecular da OMS, que chefiou até 1998. No NIH, com o grande auxílio de Robert Gwadz e Louis Miller, José Marcos mergulha-se inteiramente no trabalho de bancada, sem as distrações administrativas e acadêmicas. Desliga-se de seus compromissos externos com a OMS e como editor de revistas. Em colaboração com o laboratório do Dr. David Sacks, em especial a Dra. Yasmine Belkaid, inicia um trabalho sobre o papel da saliva do flebotomíneo na transmissão de leishmaniose, que leva à produção, por Jesus Valenzuela, da primeira vacina sintética contra esta doença baseado em antígenos salivares do vetor. A revolução proteômica atinge o laboratório. Com a iniciativa da Dra. Rosane Charlab, agora uma cientista da Celera Genomics, sequenciam randomicamente uma biblioteca de cDNA do flebotomíneo Lutzomyia longipalpis. Várias atividades biológicas antes impensadas são sugeridas pelas sequencias de DNA e são logo caracterizadas bioquimicamente. Novas famílias gênicas são descobertas. Jesus Valenzuela produz várias novas bibliotecas de cDNA. A análise manual das seqüências obtidas torna-se um limitante no trabalho e José Marcos produz vários programas de computadores para tratamento automático e local da informação gerada, possibilitando a comparação rápida de milhares das seqüências geradas com o quase um bilhão de seqüências conhecidas, usando uma rede de computadores por ele desenvolvida. O Dr. Ivo Francischetti, tendo obtido o título de doutor com o Dr. Jorge Guimarães, se liga ao laboratório. Com seu profundo conhecimento sobre mecanismos de transdução de sinal e de agregação plaquetária, e auxiliado por Jesus Valenzuela, identifica moléculas de interesse nas seqüências de DNA obtidas no laboratório, expressa estas sobre a forma proteica, e assim caracteriza bioquímica e farmacologicamente várias moléculas interiamente novas que afetam a coagulação do sangue e a agregação plaquetária. Presentemente (2002), a descrição dos sialomas (conjunto de mRNA e proteínas expressas nas glândulas salivares) de insetos hematófagos e carrapatos estão gerando uma quantidade enorme de hipóteses que certamente tomarão várias carreiras de cientistas para explorar todo este conhecimento, resultando em um avanço de nosso conhecimento básico em biologia, gerando novos agentes farmacêuticos, e novos alvos para desenvolvimento de vacinas contra doenças transmitidas por vetores.