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Ciências Biomédicas | MEMBRO TITULAR

Hiss Martins Ferreira

(MARTINS-FERREIRA, H.)

22/04/1920
Brasileira
13/05/1952

Primogênito de uma família mineira do princípio do século, nasceu e foi criado em São João del Rei, Minas Gerais onde seu pai exercia a Medicina e suplementava seu orçamento familiar com um Laboratório de Análises Clínicas, além de ministrar aulas de Biologia no Colégio Santo Antônio de frades franciscanos holandeses. Neste local freqüentou o ginásio e graduou-se no final de 1935, quando foi mandado para o Rio de Janeiro para cursar Medicina. Uma vez formado, continuou as suas funções de técnico de laboratório na Cadeira de Física Biológica, posteriormente transformada em Instituto de Biofísica e onde permaneceu lecionando e realizando experiências. O gosto pela experimentação esteve sempre dominante desde os tempos de estudante, estimulado pelas leituras de seu pai que numa velha cidade do interior do país, assinava os Anais do Instituto Pasteur. Sua grande chance para ser pesquisador foi cursar Medicina ao tempo em que Carlos Chagas iniciava com todo entusiasmo a construção da sua versão do “Instituto de Manguinhos” na Praia Vermelha. Teve, então, a sorte de conviver com um grupo de pesquisadores brasileiros e internacionais de primeira linha que Chagas soube escolher para constituir a base sólida necessária ao desenvolvimento do núcleo de pesquisa que começara a formar. É difícil destacar nomes deste núcleo tal as diferenças culturais qualitativas entre eles. Como comparar a influência de Tito Eneas Leme Lopes com René Wurmser, na formação dos pesquisadores temperados no Instituto de Biofísica? Pelo contrário, no curso médico o atrativo maior era o contato com os doentes de alguns serviços hospitalares e poucos foram os professores, como Ozório de Almeida, Aleixo de Brito ou Antonio Melo, a ensinar a grandeza da Medicina. Com o correr dos tempos, seu objetivo científico final ficou sendo o sistema nervoso. Durante vários anos acompanhou as experiências de Chagas com o poraquê. Quando ficou claro que o mecanismo da eletrogênese das descargas elétricas deste peixe era análogo ao das fibras nervosas, dirigiu seu interesse para a atividade elétrica do cérebro em repouso e durante as crises epilépticas. Nesta época houve uma nova conjunção feliz em suas pesquisas: juntamente com Aristides A.P. Leão iniciaram uma parceria científica cujo primeiro trabalho foi publicado em 1953 nos Anais da Academia Brasileira de Ciências versando sobre a impedância elétrica do córtex cerebral durante a depressão alastrante. Este fenômeno descoberto por Aristides em 1944, conhecido como “spreading depression” ou “onda de leão”, é assunto de grande interesse internacional em fisiopatologia de síndromes paroxísticas do Sistema Nervoso Central. Tentando entender a depressão alstrante puderam acompanhar de perto todas as idéias e cenários propostos para explicar o funcionamento do sistema nervoso nestas últimas cinco décadas. Seus trabalhos, realizados no Instituto de Biofísica, constituem uma simples e perseverante busca do conhecimento sem características de pesquisa competitiva ou corrida publicitária. Nesta vida entre professores e alunos de Universidaes e Instituições de Pesquisa de vários países, conheceu muitos cientistas de grande porte, destacando de modo especial o biologista brasileiro Aristides Leão, o físico-químico sueco Torsten Teorall e dois médicos de inteligências superdotadas, o colega de Faculdade Carlos Paes de Barros, e o ex-colaborador Cláudio J. Struchiner.