Gabriela Barreto Lemos nasceu em 1982, na capital do estado de Minas Gerais, Belo Horizonte, onde morou até os seis anos. Nessa época, seus pais decidiram fazer pós-graduação na Inglaterra, e a família se mudou para Londres. Em 1995, voltaram para Belo Horizonte, quando Gabriela tinha 13 anos. A mãe de Gabriela é professora em epidemiologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), enquanto o pai é professor aposentado na área da economia na mesma instituição. Gabriela é a filha mais velha, a irmã do meio é PhD em direito penal e o caçula ainda é adolescente. 

Ela recorda que quando criança adorava música, dança e teatro e, por isso, passava as férias fazendo cursos de artes. Estudou violino, teclado, canto lírico, balé clássico e moderno, dança contemporânea, entre outros. Na escola, suas matérias preferidas eram ciências, matemática e história. Gabriela pensa que o fato de sua mãe ser cientista inspirou sua escolha de seguir carreira na área da ciência. “Eu cresci no meio universitário e minha convivência com adultos era, na maior parte, com professores universitários. Ficava na UFMG fazendo dever de casa enquanto meus pais trabalhavam”, afirma. Por isso, ela diz nunca ter se imaginado trabalhando em outro lugar.  

Sua escolha pela física ocorreu no momento do vestibular. No último ano do ensino médio, a pesquisadora teve um professor de física que, segundo ela, sabia expressar incrivelmente bem sua paixão pela área e fazia experimentos interessantes em aula, o que despertou seu interesse pela matéria. Além disso, ela cita também uma amiga, Nadja Kolb Bernardes – hoje professora de física na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) -, cujo pai é físico, e também influenciou na sua escolha. “Fizemos vestibular juntas e até hoje somos amigas e colaboradoras na física”, afirma. 

Gabriela Lemos entrou na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) no ano de 2000. Ela diz que desde o início já tinha interesse em fazer pesquisa. Já no segundo período, tornou-se bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET) em física e membro não bolsista do Programa de Aprimoramento Discente (PAD) em matemática. Após a extinção do PET-Física, recebeu uma bolsa do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), com a professora Maria Carolina Nemes, que foi membro titular da ABC, trabalhando com a teoria da óptica quântica. Nemes faleceu muito cedo, no ano de 2013. 

A pesquisadora conta que a professora Nemes foi sua mentora e a considera sua “mãe” na física. “Eu tenho enorme gratidão por ela. Minha paixão por mecânica quântica e ótica quântica é uma herança que recebi dela. A maior parte do que aprendi sobre pesquisa, sobre a academia e sobre a física, eu aprendi com ela, mesmo depois que saí da UFMG. Ela continuou me apoiando e me ensinando”, afirmou. Além da professora, Lemos também cita sua mãe como grande fonte de apoio e estímulo a continuar, sobretudo em momentos difíceis. “Sua paixão pela ciência é cativante!”, declarou Lemos.  

Após o bacharelado, Gabriela Barreto Lemos realizou mestrado em física, também pela UFMG, concluído em 2006 e, em seguida, deu início ao doutorado na mesma área, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), tendo feito um período sanduíche no Centro de Sistemas  Complexos e Não-lineares, na Itália, em 2009. Entre 2010 e 2012, fez pós-doutorado no Laboratório de Ótica Quântica na Física pela UFRJ e, entre 2012 e 2016, foi pós-doutoranda sênior no grupo de Anton Zeilinger, no Instituto de Ótica Quântica e Informação Quântica, na Áustria. Ainda em 2016 foi cientista residente na School of the Art Institute of Chicago, nos Estados Unidos, e entre 2017 e 2019 fez um pós-doutorado no Instituto Internacional de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte  (UFRN). Em 2019 e 2020, foi professora visitante na Universdaade de  Massachusetts, em Boston, nos EUA. 

Atualmente, Lemos é professora adjunta do Departamento de Física Matemática no Instituto de Física da UFRJ. Além de membro afiliado da ABC, é membro da Comissão de Justiça, Equidade, Diversidade e Inclusão da Sociedade Brasileira de Física (SBF) e do corpo editorial da Quantum Science and Technology (IOP Publishing). Em 2019, foi agraciada com a medalha Mietta Santiago da Câmera dos Deputados em 2019. A pesquisadora tem experiência na física teórica e experimental, com ênfase em óptica quântica e informação quântica, trabalhando com os efeitos quânticos da luz. Sua pesquisa se dedica ao estudo desses fenômenos quânticos, como emaranhamento e dualidade onda-partícula, em experimentos com luz (fótons) e sua aplicação no desenvolvimento de novas técnicas de geração de imagem e espectroscopia, além de tecnologias de informação. 

Gabriela Barreto Lemos diz que estuda fenômenos intrigantes e surpreendentes, que tem aplicações em computação quântica, criptografia e comunicação quântica, entre outras tecnologias. “Os fenômenos que estudo são a base de uma revolução tecnológica que se anuncia com os mais recentes experimentos em computação quântica. Logo seremos capazes de resolver problemas matemáticos impossíveis de resolver com as tecnologias que temos atualmente”, esclarece a cientista.  

Lemos se diz apaixonada pela ciência e, principalmente, pela sua área. Adora o fato da física permitir que ela resolva enigmas e quebra-cabeças matemáticos, além de fazer perguntas difíceis e manter um olhar curioso para todos os fenômenos, mesmo aqueles mais banais do cotidiano. “Nossa profissão envolve fazer boas perguntas sobre o universo e sobre padrões que vemos na natureza, e tentarmos respondê-las com experimentos, lógica e matemática”, ressalta. Devido à essa paixão pela área científica, revela ser uma honra receber o título de membro afiliado da ABC e afirma já ter entrado para o grupo de trabalho dos membros afiliados da ABC sobre diversidade e inclusão. “Espero contribuir para tornar a ABC mais inclusiva para mulheres brancas, claro, mas especialmente para mulheres e homens negros e indígenas”, declara a pesquisadora. 

Fora da ciência, Gabriela adora ver filmes, discutir política, viajar para lugares com belezas naturais e caminhar em trilhas no meio do mato. Se considera uma amante da arte e da música, sempre envolvida em projetos criativos em colaboração com seus amigos artistas. No entanto, sua atividade preferida é a divulgação científica. “O ambiente no qual sou mais feliz é interdisciplinar. Leio muito sobre educação e feminismo decolonial e, também, me engajei recentemente em pesquisas sobre ensino inclusivo de física”, destaca a Acadêmica.