Fabíola de Oliveira e Yurij Castelfranchi

O segundo dia do 1º Congresso Brasileiro de Divulgação Científica contou com palestra do sociólogo Yurij Castelfranchi, pesquisador e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em comunicação pública de ciência e da relação entre ciência, tecnologia e democracia. A debatedora da seção foi a jornalista Fabíola de Oliveira, doutora em jornalismo científico pela Universidade de São Paulo (USP).

Castelfranchi iniciou com um breve histórico da divulgação científica no Brasil, alertando para a falta de investimento contínuo em capacitação e especialização na área. “Precisamos de políticas públicas coordenadas e institucionais para divulgação, não pode ser um esforço individual de cientistas e jornalistas apaixonados”.

Os estudos teóricos europeus e norte-americanos em divulgação científica evoluíram do paradigma hipodérmico (da simples injeção de informação) para modelos mais complexos, que gradualmente deram maior peso para a participação e assimilação feita pelo público. Segundo o palestrante, tudo isso já era colocado em prática há muito tempo por aqui. “O Brasil já fazia essas coisas intuitivamente, temos o exemplo de sucesso da Embrapa na década de 70, que difundia o progresso científico entre os agricultores. Outro exemplo é a própria pedagogia de Paulo Freire, que também coloca o público como protagonista”.

Atualmente, Castelfranchi enxerga três dimensões principais da divulgação científica no mundo. A primeira é a política, pois a desinformação e a desconfiança na ciência não são frutos da ignorância, mas são construídos conscientemente por grupos interessados. “Não adianta o cientista querer se colocar numa posição isenta quando a simples comunicação da ciência, hoje em dia, já assume conotações políticas”.

Na segunda dimensão, que seria a teórica, o palestrante reforçou a necessidade do conhecimento transdisciplinar. “O público não está interessado em assuntos separados, mas em temáticas mais abrangentes. Não é sobre descrever o que é uma enzima, um anticorpo, mas contextualizar como isso afeta a vida das pessoas. É impossível ser bom divulgador sem ser multidisciplinar”.

Quanto à terceira dimensão, que seria a parte prática, Castelfranchi disse que a pandemia trouxe uma profusão de novos divulgadores qualificados, mas que ainda sofrem para expandir seu público, sobretudo em parcelas marginalizadas da população. Nesse sentido, valorizou iniciativas de divulgação que atuam dentro das comunidades, fornecendo o suporte necessário para pessoas inseridas nessee contexto levem a informação para seus vizinhos.

Ainda sobre a Covid-19, foram analisados alguns dos erros que a divulgação científica cometeu. “O caso da Itália é emblemático: a indisposição da comunidade científica local de abordar a desconfiança em vacinas fez proliferar o número de movimentos antivax no país”, relatou Castelfranchi. No Brasil, o palestrante também enxerga um certo reducionismo na mídia ao abordar a doença, sobretudo ao não variar fontes. “É errado acreditar que a resposta de um epidemiologista sobre o porquê das pessoas não se vacinarem vai passar de um chute. Para entender de fato esse problema é preciso entrevistar outros profissionais que realmente se aprofundaram nesse tema específico”.

O 1º Congresso Brasileiro de Divulgação Científica foi realizado entre os dias 27 e 30 de setembro e contou com o apoio da Academia Brasileira de Ciências.

Confira também nossa matéria sobre a abertura do evento.