Mario Tyago Murakami nasceu em 1981, no pequeno município de Taquarituba com menos de 25 mil habitantes, no estado de São Paulo. Aos 10 anos se mudou para Bauru e lá morou até o ingresso na Universidade Estadual Paulista (Unesp), aos 17 anos. Por passar grande parte da infância em uma típica cidade interiorana, em um tempo sem internet, Mario foi criado “solto na rua”, algo habitual na época, e tinha como principais diversões o futebol, o ioiô, bolinhas de gude, pescaria e, mais tarde, video-games.  

Seus pais tinham uma oficina mecânica. A mãe cuidava da parte administrativa e o pai dos serviços mecânicos. Mario Murakami é o caçula da família, tem duas irmãs mais velhas. Ele conta que sempre foi uma criança muito quieta e engajada na escola, além de possuir grande facilidade nas ciências exatas, algo que o ajudou na futura decisão de escolha de carreira. Além de sua curiosidade espontânea, a aptidão para matemática e física o levaram naturalmente para a ciência. Ele sempre buscou as correlações entre os fenômenos da natureza, o que, em sua avaliação, o levou a buscar, mais tarde, áreas de atuação mais interdisciplinares. “Me senti muito realizado quando consegui combinar as três grandes disciplinas física, química e biologia em minhas pesquisas durante o doutorado”, relatou. 

Para Murakami, a interdisciplinaridade foi um fator determinante para a escolha de carreira, mbora não fosse comum na época. AInda não existiam muito cursos com essa característica nas universidades, como os que existem hoje na Universidade de São Paulo (USP), de ciências físicas e biomoleculares, e na Universidade Estadual Paulista (Unesp), de física biológica. Na busca por essa integração, o curso em que encontrou uma grade curricular mais próxima do que desejava foi o de engenharia de alimentos, com uma boa base de matemática, física, química e bioquímica.  

Formou-se engenheiro de alimentos em 2003 pela Unesp. Durante a graduação, foi levado às áreas exatas pela afinidade e pelos bons resultados nas disciplinas de física. No primeiro e segundo semestres decidiu explorar as pesquisas desenvolvidas no Departamento de Física que tinham como objeto de estudo fenômenos biológicos. Ele lembra não haver um evento pontual que lhe despertou o interesse na ciência, pois desde o ingresso na graduação já almejava traçar esse caminho. “Mas confesso que encontrar um departamento que aplicava física para entender sistemas biológicos foi definitivamente o momento que mergulhei de cabeça na carreira científica”, ressaltou Murakami. 

Após vislumbrar os estudos de sistemas biológicos pela ótica da física e química, toda a graduação de Murakami foi moldada para a carreira científica, incluindo diversos estágios de férias nos mais distintos laboratórios. “Não me lembro de ter passado algum período de férias fora do laboratório. Tinha um colchonete onde havia experimentos que precisavam de acompanhamento durante a noite”, ilustrou o cientista. 

Um ano após sua formatura, em 2004, ingressou no doutorado em biofísica molecular na Unesp. Ele explicac que, naquela época, a modalidade de ingresso no doutorado direto, pulando o mestrado, começava a ser mais comum. Por conta dos seus quatro anos de iniciação científica, Murakami sentiu-se totalmente apto para tal. E conta que seu curso de doutorado foi particularmente inspirador. “Pude atuar com outros grupos de pesquisa e aprender cada dia uma nova área, além de aprofundar meu conhecimento em cristalografia de macromoléculas”, afirmou. 

Realizou doutorado sanduíche na Universidade de Hamburgo, na Alemanha, com o professor Raghuvir K. Arni. Foi reconhecido pelo seu trabalho e consagrado com o primeiro lugar no X Prêmio Jovem Talento em Ciências da Vida, da Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular (SBBq) e General Electric Healthcare (GE Healthcare), em 2006. Em seguida, fez estágios de pós-doutorado na Unesp, entre 2006 e 2007, e na Universidade de Rutgers, nos Estados Unidos, em 2012. Entre 2008 e 2016, atuou como coordenador de instalações científicas de grande porte dedicadas à cristalografia de macromoléculas do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) e do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio). 

As pesquisas de Mario Murakami visam elucidar e desenhar estratégias moleculares de desconstrução, modificação e conversão de carboidratos e outros componentes vegetais para fins biotecnológicos. A  ideia é impulsionar a economia circular sustentável, na qual a fabricação de bens de consumo e combustíveis são mais sustentáveis e menos poluentes quando comparados ao de origem fóssil. “Neste cenário, o Brasil é um país único no mundo, seja por seu colossal potencial em geração de biomassa vegetal, como por sua magnífica biodiversidade. A combinação dessas duas características intrínsecas ao Brasil, associado a uma pesquisa de ponta, pode levar nosso país ao protagonismo em biotecnologia e de uma economia circular”, explica.  

Ele é líder do grupo de pesquisa do Laboratório Nacional de Biorrenováveis (LNBR), que integra o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM). Coordena um projeto temático Fapesp sobre novas estratégias para desconstrução da parede celular vegetal e é responsável por projetos de grande porte de pesquisa e desenvolvimento com empresas do setor de biotecnologia. Lidera ainda programas multidisciplinares institucionais voltados a solucionar problemas estratégicos na área de bioenergia, como o desenvolvimento de uma rota de produção de etanol 2G a partir de resíduos da cana-de-açúcar.  

Entender o desconhecido em nível atômico e saber que, a partir disso, é possível acelerar a evolução em milhões de anos ou mesmo criar algo que a natureza não gerou ou que não se saiba da existência é o que encanta Murakami em sua área. “Me interessa entender quão complexos e sofisticados são os sistemas moleculares e enzimáticos presentes em bactérias e fungos para modificação e utilização de biopolímeros, e vejo que esse conhecimento pode revolucionar a sociedade através da biotecnologia”, declara. 

Murakami reconhece que ser membro afiliado da ABC é uma grande honraria e um reconhecimento pelos muitos anos de pesquisa e dedicação a pesquisas com grande potencial para o país. “É uma oportunidade de aumentar a visibilidade de nossas pesquisas e o quanto ela pode impactar em nosso país e sociedade”, afirma. Ele tem o desejo de contribuir, como afiliado, no fortalecimento do ensino superior de qualidade. 

Com uma companheira cientista, Murakami diz levar uma vida muito simples, dedicada quase que inteiramente à família e à ciência. Eles divididem o tempo entre o trabalho e a criação da filha Maria Clara, nascida em 2018. Gosta de ler biografias e praticar tênis regularmente, como forma de manter a saúde em dia. “Me sinto privilegiado de poder trabalhar com algo que sou apaixonado e na minha carreira científica levo como mantra três palavras: resiliência, integridade e respeito”, finaliza.