Os participantes do 9º Simpósio de Membros Afiliados da ABC

O 9º Simpósio Científico de Membros Afiliado da ABC aconteceu no dia 21 de setembro e o tema da vez foi “Segurança alimentar, ambiental e redução da iniquidade”. Os simpósios reúnem jovens pesquisadores, eleitos membros afiliados da Academia Brasileira de Ciências em 2020 e 2021, para apresentarem um pouco de seus trabalhos.

O Brasil é dono da maior biodiversidade do planeta e é também um dos maiores produtores de alimento. Mesmo assim, a insegurança alimentar e a degradação ambiental voltaram a ganhar força no país. Para falar desse assunto, foram convidados os afiliados Felipe Klein Ricachenevsky (UFRGS), Patrícia Muniz de Medeiros (Ufal), Raul Antonio Sperotto (Univates) e Mario Tyago Murakami (LNBR/CNPEM), além de Rafael Vasconcelos Ribeiro (Unicamp) e Thiago Motta Venâncio (UENF), como debatedores. A coordenação ficou por conta do diretor da ABC Elibio Rech (Embrapa).


Conheça os novos membros afiliados da ABC que participaram do Simpósio:

O impacto das ciências biológicas no bem-estar e no meio ambiente

O botânico Felipe Klein Ricachenevsky fez pós-graduação em biologia celular e atualmente estuda como as plantas absorvem nutrientes e elementos-traço.

Seres humanos e a natureza: Um conjunto indissociável

Patrícia Muniz de Medeiros é etnobióloga e trabalha com a relação entre comunidades tradicionais e recursos naturais, popularizando plantas não tradicionais com aplicações medicinais e alimentares.

A importância nacional das ciências agrárias

O biólogo Raul Antonio Sperotto fez pós-graduação com biologia celular e se dedica a entender como as plantas reagem a estresses bióticos e abióticos, buscando perfis genéticos adequados ao crescimento em situações desfavoráveis.

Ciência: Resiliência, integridade e respeito

Mario Tyago Murakami é engenheiro de alimentos e doutor em biofísica. Suas pesquisas buscam desenvolver estratégias de aplicação de carboidratos e outros compostos vegetais para fins biotecnológicos. 


Debate

Terminadas as apresentações, o espaço foi aberto para discussão com os debatedores e internautas. Os temas giraram em torno de como aumentar a oferta de alimentos de uma forma sustentável, seja pelo melhoramento vegetal ou pela difusão das chamadas Plantas Alimentícios Não Convencionais (PANCs).

Melhoramento Vegetal

A Arabidopsis thaliana é o modelo vegetal mais utilizado em pesquisas no mundo. Planta de fácil cultivo em laboratório, é muito difundida na ciência básica. A pergunta que abriu as discussões foi justamente o que falta para aplicar os mecanismos e métodos conhecidos para Arabidopsis nas plantas alimentícias.

O palestrante Felipe Ricachenevsky ressaltou as diferenças entre Arabidopsis e os cultivares tradicionais, mas disse que muitas aplicações são possíveis. Ele acredita que falta ao Brasil concordar em prioridades a longo prazo, desenvolver projetos unificados e coordenados para aumentar o conhecimento sobre linhagens específicas, além de criar bancos de mutantes e investir em pesquisa básica. “O Brasil é uma potência da agricultura e biodiversidade, então podemos viabilizar essa cooperação. Nós construímos o know-how nas últimas décadas para poder ter sucesso”.

Respondendo sobre os gargalos da biotecnologia, Mario Murakami foi na mesma linha, acrescentando que o Brasil não tem produção em escala industrial de enzimas e outros insumos para pesquisa, sendo dependente de importação.  “Precisamos montar um ecossistema científico mais coordenado, que estimule práticas inovadoras e a produção nacional de insumos, para podermos aproveitar todo o potencial da ciência brasileira”.

Quanto a mecanismos de tolerância a ácaros em cultivares, Raul Sperotto revelou que suas pesquisas não encontraram nenhuma planta que fosse totalmente resistente e impedisse a proliferação desses animais, mas que vários cultivares com alta tolerância mantinham uma boa produtividade, mesmo com a contaminação. O palestrante destacou que muitos são os mecanismos de tolerância, e citou o exemplo de uma espécie que acumula compostos sílicos nas folhas, tornando-as menos palatáveis para os herbívoros.

Crise hídrica afetando a produção de arroz

O Brasil está entre os dez maiores produtores de arroz do mundo, com mais de 10 milhões de toneladas produzidas por ano. Concentrado no sul do país, esse cultivo está seriamente ameaçado com a crise hídrica, já que é muito dependente da água.

Os palestrantes afirmaram que a procura por formas de cultivo a seco aumentaram, mas que a produtividade está longe de ser a mesma. Raul Sperotto deu também o exemplo de pesquisas com nanopartículas de carbono, que são hidrofílicas e aumentam a eficiência do uso da água nessas plantações.

Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs)

Patrícia Muniz de Medeiros pesquisa maneiras de popularizar as PANCs na dieta das pessoas. Além de diversificar o prato, esses alimentos têm potencial para desenvolver economias e culturas regionais. Um bom exemplo de alimento que se popularizou nas últimas décadas é o açaí, originário da região norte e que hoje é consumido em todo o Brasil de várias formas.

Um questionamento levantado foi justamente se o destino das PANCs de sucesso é se tornar um cultivo tradicional. Patrícia Medeiros explicou que não adianta inserir as PANCs numa lógica insustentável. “O caminho não é escolher uma espécie e superproduzir, mas identificar várias espécies para aumentar as possibilidades nas áreas onde são endêmicas”.

A pesquisadora destacou que nem sempre a popularização de uma planta é benéfica para as populações locais. “Existem muitos casos de extrativismo em terras privadas que só é permitido pelo baixo valor dos produtos. Nesses cenários, se esses produtos se valorizarem, as comunidades extrativistas podem ser afetadas”.

PANCs podem contribuir para uma maior segurança nutricional, complementando a dieta com nutrientes deficitários em nossa alimentação, como ferro e zinco. “Para maximizar esses benefícios, vale atentar para as formas tradicionais de consumo, que muitas vezes já são realizadas intuitivamente”.