Confira o artigo escrito pelo membro titular da ABC Luiz Carlos Dias, publicado Jornal da Unicamp no dia 10/9. Em novo texto, o Acadêmico aborda os atos antidemocráticos no dia 7 de setembro e a dose de reforço da vacina de COVID-19 em idosos, além de informar as principais atualizações sobre o avanço da pandemia no país e no mundo. Dias é professor titular do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e bolsista 1A do CNPq.

Neste dia 7 de setembro, data da independência, o Brasil perdeu uma excelente oportunidade de organizar um dia nacional de luta contra a pandemia de Covid-19, com um mutirão nacional de vacinação, em todo o País. Poderia ter sido um levante nacional contra o vírus, organizado pelo Ministério da Saúde, com uma campanha em todos os meios de comunicação de massa para esclarecimento da sociedade sobre a importância de vacinação mais rápida e de uma ampla cobertura vacinal e sobre a importância da manutenção das medidas não farmacológicas até começarmos a ter uma queda mais sustentada nos casos de infecção, internação e óbitos.

Mas não teve nada disso não. Não houve celebração pela vida, nem pela independência. O que nós vimos foram protestos marcados por desrespeito a protocolos sanitários contra a covid-19. Só quem comemorou a independência neste dia 7 de setembro foi o Sars-CoV-2, que mata, assim como o vírus da ignorância, também assassino. Nestes protestos, vimos milhares de pessoas aglomeradas e sem máscaras, em locais abertos, mas também em inúmeros locais fechados, bares, restaurantes, lanchonetes, lojas, transporte público etc.

O que nós vimos foram cenas grotescas protagonizadas por pessoas que apoiam discriminação, tortura, perdas de direitos humanos, racismo, violência, prática de rachadinhas, homofobia, intervenção militar e derrubada do Supremo Tribunal Federal (STF). É fato consumado que todos nós perdemos algo de liberdade neste dia 7 de setembro. O Brasil, acostumado a acordar cada dia mais triste por causa da pandemia, acordou no dia 8 com uma sensação de que a barbárie está tomando conta da sociedade, vencendo a civilidade.

O Brasil atingiu a triste marca de 585.205 óbitos pela covid-19 (subnotificados), o segundo País no mundo em óbitos, atrás apenas dos EUA. Estamos vivendo uma crise sanitária sem precedentes, mas também crise hídrica e energética, um desastre na economia, denúncias de corrupção e demora na compra de vacinas, milhões de pessoas com fome, vivendo abaixo da linha da pobreza, desemprego batendo recordes, milhões de pessoas na informalidade, desmatamento desenfreado, os povos originários sendo desrespeitados, escalada de violência, escassez de moradia e falta de saneamento básico, inflação crescendo, impostos elevados, as instituições públicas sucateadas, a ciência e os cientistas sob ataque e sendo perseguidos, uma sociedade dividida e mais triste. Tem muita coisa errada.

Nas ruas, nós presenciamos um clima hostil, de intolerância, ódio, estupidez, confundido com um “patriotismo” feio, radical e antidemocrático. É triste ver um governo que não construiu nada de bom e está destruindo as instituições, espalhando ódio e dividindo ainda mais o País. Essas ameaças golpistas aparentam demonstrar força, mas revelam a fraqueza, o desequilíbrio e o desprezo às leis e à Constituição, da parte de quem as promoveu. Essas pessoas tentaram provocar o caos para tirar o foco da própria incapacidade de resolver os reais problemas do Brasil. Nós precisamos pacificar o País para enfrentar essa pandemia. Morrer de covid-19 foi normalizado. A sociedade brasileira está doente, famílias estão divididas. Que País estamos construindo para nossas crianças? Chega de irresponsabilidade. Chega de psicopatas no poder, nas redes sociais e nas ruas ameaçando nossas instituições.

Se não fosse o STF e os governadores, que salvaram milhares de vidas, muitos de nós também não estaríamos aqui hoje. O STF nos salvou do negacionismo de um governo que desde o início relativizou a crise sanitária, atacou a ciência, os cientistas, jornalistas e as instituições públicas, que defendeu uma imunidade de rebanho que levou a tragédia em Manaus e que resultou na variante Gama, que defendeu a farsa do tratamento precoce, que desde o início da pandemia vem atacando as medidas de restrição de movimento, o lockdown, o distanciamento físico e o uso de máscaras.

Isto não é forma de comemorar a data da independência. Não foi um dia de união, de celebração, foi um 7 de setembro que trouxe mais divisão, mais discursos de ódio e de ruptura institucional. O que de fato sobrou do Brasil depois deste dia 7 de setembro, 199 anos depois da independência? Vamos reviver isso em escala maior e mais perigosa no dia 7 de setembro de 2022, ao comemorar 200 anos da independência? Poucas semanas antes da data de uma eleição presidencial em que podemos de forma democrática expurgar este mal que assola o Brasil?

Que esse espetáculo grotesco, antidemocrático não seja esquecido. Nesse momento, nós não podemos nos calar, não podemos ter medo, não é momento para ficar isento, quieto, nós precisamos ter coragem para defender a democracia e nossas instituições epistêmicas e lutar em defesa das pessoas que nós amamos. Muitas delas não têm força para lutar, precisam de cada um de nós.

Nós precisamos da união de todas as forças do campo democrático, de esquerda, de centro e de direita, para defendermos a ordem constitucional e o Estado Democrático de Direito contra as forças da extrema direita radical neste país, que defendem pautas abordando fechamento do STF e intervenção militar na democracia.

Não podemos negociar com autoritarismo nem com golpistas e temos que defender a justiça social e a liberdade, lutando contra o extremismo. Não existe possibilidade de aceitarmos atos antidemocráticos, os valores democráticos são inegociáveis. Democracia é inegociável. Nós vamos continuar lutando contra o vírus Sars-cov-2, que mata, mas também contra o vírus da ignorância e das mentiras assassinas e contra os movimentos antidemocráticos e fascistas.

São muitos os retrocessos nestes últimos 2 anos e oito meses. Nós vamos passar por isso e vamos ter muito trabalho para reconstruir o País. Não há mal que dure para sempre. A civilidade precisa vencer a barbárie. O nosso povo precisa de ética na política, de comida, emprego, saúde, moradia, saneamento básico, segurança, educação, paz, ciência, do meio ambiente protegido, de vacina, democracia e paz. 

Observação I: Essa coluna era para ter sido publicada no dia 09 de setembro pela manhã. Não foi. Eu atualizei os dados e informações. O Presidente fez um movimento de recuo forçado e publicou uma carta dizendo que não liderou os atos antidemocráticos com declarações golpistas. Mente! Essa tentativa de golpe fracassou, ele não teve o apoio que esperava da sociedade, das Forças Armadas, de outros políticos golpistas. Mas não vamos nos enganar, o golpe está armado, a escalada autoritária não vai parar e ele vai atacar novamente. Precisamos nos manter mobilizados, atentos e fortes e não podemos menosprezar as ameaças. Para mantermos a democracia viva, vamos precisar de vozes plurais e de maturidade.

A  Associação Brasileira de Imprensa (ABI) enviou ao presidente do Congresso Nacional, uma carta aberta com requisição de devolução da Medida Provisória (MP) nº 1.068/2021 que afronta o Marco Civil da Internet e permite a divulgação livre de fake news, ofensas e teorias conspiratórias. A MP foi encaminhada pelo presidente Jair Bolsonaro, às vésperas dos atos antidemocráticos e tentativa de golpe ao Estado Democrático de Direito.

Continue lendo o artigo, que ainda aborda assuntos como: as doses de reforço, as novas variantes e o andamento da vacinação no mundo.