Confira trechos do artigo publicado pelo diretor da ABC Virgílio Almeida, em parceria com Francisco Gaetani, no jornal Valor Econômico nesta terça-feira, 17 de agosto. 

 

A transformação digital tem sido descrita como uma revolução que as economias competitivas devem necessariamente enfrentar e à qual a sociedade tem de se adaptar. Um estudo do Conselho Consultivo Alemão sobre Mudança Global se opõe a essa interpretação, propondo que a digitalização deve ser moldada de forma que possa servir de alavanca e suporte para a “Grande Transformação para a Sustentabilidade’’, e possa ser sincronizada com ela.  

Em outras palavras, a transformação digital é um eixo fundamental em direção a economias mais sustentáveis. Um artigo publicado na revista Nature, assinado, entre outros pelos economistas Jeffrey Sachs e Mariana Mazzucato, coloca o avanço digital como parte das estratégias para alcançar os objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). 

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Pouco a pouco, aqui e ali, a plataforma dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS) vai sendo retomada, seja pela importância, seja pela sua pertinência. Os sinais dos tempos emitidos nas mais variadas partes do mundo são cada vez mais nítidos: o futuro em gestação é digital, verde e inclusivo. Parece óbvio, mas não é, em especial no Brasil, tão distraído pelo desgoverno ativo e pelas disputas político-ideológicas desprovidas de projeto de nação, que dominam nossa agenda, capturam a atenção nacional e distraem a sociedade de suas prioridades. 

O futuro é digital. Aliás, já não é mais futuro. O presente hoje é representado por uma dualidade estruturante. De um lado temos a vida concreta das coisas do mundo físico. De outro temos um mundo invisível, digital nas nuvens, operado em ambientes abstratos fora do alcance da vista. Ambos se comunicam pelas nossas comunicações e transações. Ocorre que o dinamismo, o volume, a velocidade e a intensidade de interações no mundo online são incomparavelmente maiores que no mundo antigamente chamado de “real”.  

Estudos têm mostrado que a dinâmica da digitalização tem um impacto enorme em todos os 17 ODS da Agenda 2030. O debate sobre a implementação dos ODS não pode mais ser conduzido sem uma compreensão adequada dos benefícios e riscos potenciais da digitalização para toda a Agenda 2030. O mundo não possui um setor digital; tornou-se digital, embora existam setores mais intensivos em tecnologia e digitalização do que outros.  

A corrida rumo à neutralização do carbono ganha protagonismo no mundo inteiro. 2060, 2050, 2030… países, empresas, organizações da sociedade civil e famílias estão reorganizando suas vidas rumo a outros padrões de produção e consumo. A reestruturação produtiva é uma realidade global e inescapável. Todos os setores da economia caminham para um esforço de mensuração de emissões e de esforços no sentido de reduzi-las, tarefa que exige recursos, tecnologia e, acima de tudo, compreensão e vontade política. Instituições como o Fundo Monetário Internacional e instâncias de governança global como o G-20 estabeleceram como eixo estruturante de suas agendas econômicas a problemática do carbono.  

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O Brasil oficial já não segue mais à deriva, afunda em comportamentos regressivos, autoritários, beligerantes e doentios sem se dar conta das consequências presentes e futuras desta exaustiva pirraça oficiosa. A administração pública federal está vivenciando o desmanche de várias de suas áreas estruturantes, de sistemas, de setores e de políticas, apesar do desesperado esforço de servidores públicos aqui e ali tentando manter as coisas em funcionamento.  

Os Brasis reais reagem: sobrevivendo, produzindo, estudando, exportando, criando e renovando suas apostas em um futuro que está à vista, dobrando a esquina. Mas precisam cooperar mais para alavancar sinergias capazes de potencializar a ação dos múltiplos atores engajados em levar o país ao futuro, não a um beco perdido da história.  

A humanidade nunca teve tantas ferramentas tecnológicas e avançadas à sua disposição para viver melhor, de forma mais pacífica, solidária e criativa. Esta é a aposta dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, a maior realização das Nações Unidas da última década. Cabe aos Brasis trabalhar neste combo, nesta plataforma que transformou-se na língua franca do mundo atual.