Leia artigo de opinião de autoria de Luiz Davidovich, físico, professor da UFRJ e presidente da Academia Brasileira de Ciências, e Helena Nader, biomédica, professora da Unifesp e vice-presidente da ABC publicado na Folha de S. Paulo, em 4/8:

Há mais de dez dias a ciência brasileira está na escuridão. Uma falha em um pequeno dispositivo tirou do ar a plataforma Lattes, o grande reservatório de currículos acadêmicos do país e referência mundial de armazenamento de dados de pesquisadores. O sistema continuava funcionando parcialmente até esta quarta-feira (4).

A despeito de problemas técnicos já identificados pelo próprio CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), a falha foi também um símbolo do estancamento de verbas para o setor e, mais ainda, um alerta do que pode vir pela frente: se o CNPq morrer, morre junto a ciência brasileira.

A principal agência de financiamento científico do Brasil não tem mais dinheiro para bancar a produção científica nacional. E tudo isso em um momento em que a sociedade mais precisa desse conhecimento. Poucas vezes na nossa história recente a ciência foi tão urgente. E poucas vezes seu orçamento esteve tão baixo: é o menor nas duas últimas décadas. De R$ 3,1 bilhões em 2013, atualmente é de R$ 1,2 bilhão. O efeito disso é devastador.

Ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, o CNPq é a maior entidade pública de incentivo à pesquisa do país, porque responde pela maioria dos financiamentos a pesquisas de graduação e pós-graduação. O conselho distribui cerca de 80 mil bolsas de investigação científica e mantém, entre outros produtos, a plataforma Lattes, que reúne centenas de milhares de currículos de pesquisadores de todas as áreas do Brasil. É consultada em todos os cantos do país e fora dele. É por meio desta plataforma que avaliadores analisam a trajetória de um pesquisador para, por exemplo, conceder a ele, ou não, uma bolsa de estudos. Hoje, qualquer acadêmico que escreva um projeto —ou que vá julgá-lo— tem de necessariamente passar por lá. Todas as informações sobre pesquisadores estão reunidas neste modelo, que a revista científica Nature já citou como referência em armazenamento de dados acadêmicos no mundo

É através do CNPq que são desenvolvidos projetos de investigação como os do Brasil em sua base na Antártica (Proantar), Pesquisa Ecológica de Longa Duração (Peld), além de outros essenciais, como programa institucional de iniciação científica (Pibic), programa de apoio a núcleos de excelência (Pronex), e os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs), que responderam a crises recentes importantes, como a pesquisa para vacinas e o sequenciamento do novo coronavírus e o derramamento de óleo no Nordeste, em 2019.

O CNPq cuida da ciência; a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), da formação; e a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), da inovação. Juntos, eles levaram o Brasil ao patamar de qualidade atual. Sem essa tríade, portanto, a ciência no país não anda.

Leia o artigo na íntegra, com galeria de fotos, na Folha de S. Paulo.