Nascida em Jaguarão, cidade de fronteira com o Uruguai, Maria Marques recebeu desde cedo de seu pai, engenheiro agrônomo com especialização em universidade americana e europeia, incentivo fundamental para seus estudos.

Sempre sonhara em tornar-se professora, então optou por inscrever-se no bacharelado em história natural na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Puc-RS). Lá Maria foi aluna do Prof. Riet Corrêa, que já havia sido seu professor no ensino médio e a convidou para assistente, o término do curso, em 1950. Decorridos três anos, a cátedra de Fisiologia da Faculdade de Medicina foi transformada em Instituto de Fisiologia Experimental, voltado ao ensino e à pesquisa. Maria Marques foi logo convidada para ingressar no novo instituto como auxiliar de pesquisa.

No Instituto de Fisiologia Experimental, Marques teve a oportunidade ímpar de trabalhar diretamente com o professor Bernardo A. Houssay, renomado cientista argentino, ganhador do Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina, e com vários de seus discípulos, os quais muito contribuíram em sua formação e contagiaram-na com o entusiasmo pela fisiologia e dedicação à pesquisa. Em 1965, concluiu o doutorado em ciências na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, sob a orientação do professor Paulo Sawaya, grande mestre introdutor da fisiologia comparada no país.

Em sua longa carreira universitária na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde tornou-se professora titular de fisiologia em 1983, orientou alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado. Com seu perseverante trabalho e incansável dedicação ajudou a criar e consolidar o curso de Pós-Graduação em Fisiologia, tornando-o atualmente um dos três no país que oferecem programas de doutorado específicos na área de fisiologia credenciados pelo CFE.

Pesquisava aspectos comparativos da ação da insulina, assim como insulina extrapancreática em vertebrados e invertebrados. Em suas pesquisas em tartarugas, identificou receptores para insulina em glândulas endócrinas, o que confirmou em ratos e demonstrou que esse hormônio atua diretamente sobre as glândulas adrenais e tireoide. Na década de 90 investigou a produção de insulina na mucosa gastrointestinal da tartaruga e sua possível função e a ação desse hormônio em invertebrados.

Aposentada em 1994, continuou pesquisando e orientando estudantes como bolsista 1A do CNPq. Muitos de seus discípulos são hoje docentes e ativos pesquisadores no Departamento de Fisiologia da UFRGS e em outras universidades de seu estado.

Sua produção científica no campo da fisiologia endócrina, em especial sobre aspectos comparativos da produção e ação da insulina, inclui dois capítulos em livros editados no exterior, numerosos artigos publicados em periódicos internacionais, alguns em revistas locais e uma centena de comunicações em congressos nacionais e internacionais.

Desempenhou várias funções de liderança na UFRGS e em sociedades científicas: foi presidente da Sociedade de Fisiologia do Rio Grande do Sul (1976-1980), secretária regional da SBPC (1977-1978) e presidente da Sociedade Brasileira de Fisiologia (1991-1994). Em reconhecimento à sua contribuição como cientista e professora, a Sociedade de Fisiologia do Rio Grande do Sul instituiu um prêmio a jovens pesquisadores denominado “Prêmio Maria Marques”. Em 1996 recebeu o título de professora emérita da UFRGS e foi eleita membro associado da Academia Brasileira de Ciências (ABC).  Em 1998, recebeu do presidente da República do Brasil o título de comendadora da Ordem Nacional do Mérito Científico.

Faleceu em 1º de agosto, aos 97 anos.