Os participantes da Primeira Assembleia Geral do Movimento pela Equidade Sustentável em Saúde.

 

Nesta quinta-feira (29/07) ocorreu a primeira assembleia geral do Movimento pela Equidade Sustentável em Saúde (SHEM). A Academia Brasileira de Ciências é representada no Comitê Executivo do SHEM através da Parceria InterAcademias (IAP) e teve papel de destaque na criação do movimento. 

A iniciativa completou um ano de criação neste mês de julho. O objetivo é estabelecer conexões entre a comunidade científica internacional e a sociedade, promovendo a equidade na saúde como um princípio moral que guie políticas públicas ao redor do mundo, sobretudo no combate à pandemia do novo coronavírus. 

O encontro foi coordenado por Luis Eugenio de Souza, presidente da Federação Mundial de Associações de Saúde Pública (WFPHA). Os primeiros a falar foram os co-presidentes do SHEM, Afrah Aziz, que apresentou um panorama do primeiro ano de atividades; e Paulo Buss, que sumarizou os próximos passos do movimento. A colaboração com órgãos nacionais e internacionais foi o foco central das palestras. 

Nesse sentido, foram convidadas a apresentar seus trabalhos as várias entidades internacionais que participam do movimento. Michael Marmot, representando a Associação Médica Mundial (WMA), abordou as desigualdades associadas à pandemia, ressaltando a necessidade de uma resposta global. “Com a chegada das vacinas nós temos um paradoxo, pessoas em países ricos recusando os imunizantes por razões políticas, enquanto em países pobres as vacinas ainda não estão disponíveis”, destacou. 

Propostas de trabalho pela equidade 

A etapa seguinte da assembleia foi a divulgação de grupos de trabalho propostos pelos participantes da SHEM, abordando o tema da equidade em diferentes áreas. 

Com relação a crise climática, o Prof. Abdullah Al Musa, diretor-geral da Academia Islâmica de Ciências (IAS), propôs a criação de um seguro global contra desastres climáticos, coordenado pela ONU, no qual cada país contribuiria proporcionalmente ao PIB. Al Musa propôs também estabelecer um mecanismo de suporte técnico e financeiro para transferência de tecnologia em vacinas para países em desenvolvimento, visando combater a crescente inequidade na imunização global. 

A professora da Universidade de Antioquia, Eliana Martinez Herrera, e o membro do comitê executivo para saúde do IAP, Jukka Meurman, destacaram que a colaboração internacional deve ser feita com intercâmbio multilateral de saberes e com uma perspectiva de sustentabilidade que inclua as gerações futuras. “O que é o bem-estar? Talvez não seja um conceito único, e quando trabalhamos com diferentes culturas e localidades podemos compreender um pouco melhor as necessidades principais de cada região”, disse Herrera. 

Outro ponto foi a criação de uma rede de dados mais robusta para guiar as atividades científicas. O presidente da IAP, Richard Catlow, e o membro da Academia Nacional de Medicina da Argentina, José Maria Paganini, abordaram o tema em suas falas, ressaltando a necessidade de números concretos, especificados por regiões e populações, sobretudo relativos ao combate à pandemia. 

Visando atingir os objetivos de equidade na saúde, o dr. Uzodinma Adirieje, da Afrihealth Optonet Association (AOA), ressaltou a importância de os esforços dialogarem com as autoridades locais dos países em desenvolvimento. Shirley Fahnbulleh, membro da Liberia Society of Critical Care Nurses (LiberiaCare), falou sobre a necessidade de investimento na especialização dos profissionais de saúde do mundo em desenvolvimento para um melhor controle de epidemias. 

Debate aberto 

Ao final foi aberto um espaço para discussão, que contou com a participação do médico Armando de Negri Filho falando sobre a necessidade de termos a equidade na saúde como um compasso moral inegociável. “Precisamos re-politizar nossas atitudes, deixando claro que a luta por equidade é uma luta política, que não pode aceitar que existam vidas de menor valor no combate à COVID-19” ressaltou. 

Por fim, os co-presidentes do SHEM, Paulo Buss e Afrah Aziz, sumarizaram as propostas do movimento e agradeceram aos participantes. 

Assista ao evento completo no canal da Fiocruz no YouTube.