Clarissa Rosa, Jadson Oliveira, Camila Amorim, Helena Nader, Niro Higuchi, André Lucena, Pedro Brancalion e Raoni Rajão.

O 1o Simpósio Científico da ABC ocorreu no dia 18 de maio e abordou os temas “Meio Ambiente, Novas Energias e Ecologia”. O evento marcou o início da série de 12 simpósios, que reunirá quinzenalmente um grupo de novos membros afiliados cujas pesquisas se relacionam para uma apresentação e debate online.

Abertura

A vice-presidente da ABC, Helena B. Nader, realizou a abertura do evento, explicando como funciona o programa de membros afiliados da ABC, que anualmente seleciona cinco jovens pesquisadores de seis regiões do país para integrarem a Academia. Todos os candidatos precisam ter até 40 anos quando da eleição e a vigência da afiliação é de cinco anos não renováveis. “Essa troca de informação entre os mais velhos e os jovens com futuros brilhantes é fundamental para a Academia”, avaliou Nader.

Ela ressaltou os prós e contras de realizar as apresentações dos membros afiliados de forma virtual. “Se por um lado a falta de calor humano é uma desvantagem, a possibilidade de transmitir ao vivo e alcançar um número muito maior de pessoas é uma grande oportunidade”, afirmou Nader.

O Acadêmico Niro Higuchi, engenheiro florestal e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), foi o coordenador do evento e mediador do debate. Ele reforçou as palavras de Nader e foi apresentando, em sequênca , os membros afiliados, que fizeram suas palestras.

Veja a transmissão completa aqui.

Perguntas e respostasas e também com algumas pautas levantadas pelo mediador, Prof. Niro Higuchi.

Camila Amorim respondeu à pergunta sobre a probabilidade de o processo de foto-fenton, linha de pesquisa na qual trabalha, ser adotado em larga escala nas estações de tratamento de esgoto no Brasil. Amorim destacou que o processo, que consiste na degradação de compostos orgânicos presentes na água de produção da indústria do petróleo, já está implementado em países como Espanha e Colômbia, mas que depende da criação de políticas para acontecer, pois exige um rigor maior no lançamento de efluentes. “Esses contaminantes de preocupação emergente não entram nas legislações ambientais de lançamento de esgoto. Hoje a gente é obrigado a remover parte da matéria orgânica, alguns nutrientes e patógenos”, explicou a professora. Ela acrescentou que a tendência é que novas políticas restritivas sobre lançamento de esgoto sejam criadas, conforme surjam novos estudos sobre a resistência microbiana e o surgimento de vírus facilitadas pelo descarte indevido do esgoto.

Pedro Brancalion recebeu muitas perguntas sobre as oportunidades de geração de renda para as comunidades tradicionais pelos programas/projetos de restauração da vegetação. Ele reafirmou a potencialidade destes programas e relatou que desde o início de sua pesquisa, já conviveu com muitos indígenas, quilombolas e membros de comunidades tradicionais. Estes eram envolvidos, principalmente, com a produção de sementes nativas, vinculando-se a programas e oferecendo serviços de restauração. Ele citou a Rede de Sementes do Xingu, em Canarana (MT), como exemplo.

Sobre os desafios do trabalho de restauração no Brasil, Brancalion afirmou que “quem trabalha nessa área tem a plena consciência de que a prioridade deve ser a conservação, depois o uso sustentável e, então, a restauração. Segue o raciocínio da medicina: primeiro, a gente tem que evitar ficar doente. Tomar remédios, fazer cirurgias, não deve ser o padrão”, explicou. Ele relatou o impacto desastroso do Projeto de Lei 3729/2004 em seu trabalho e afirmou que apesar de o país possuir todas as condições biofísicas e sociais para ser o maior palco da restauração no mundo, isso pode acabar não sendo concretizado, porque depende da forma de condução do governo sobre o tema. “A restauração está ligada a medidas compensatórias e ao processo de licenciamento, então essa fragilização da legislação da lei ambiental traz grandes prejuízos não apenas para a conservação, mas também para a restauração de ecossistemas brasileiros”.

André Lucena respondeu uma pergunta sobre a previsão de esgotamento do petróleo até 2050. Ele disse que é muito improvável, visto que o conceito de estoque de reservas é dinâmico – há a frequente incorporação de novas origens energéticas e o ritmo de exploração nem sempre é o mesmo. O Acadêmico explicou: “A mudança energética não vai ser pela escassez de petróleo, carvão ou gás, mas sim pelos impactos que o uso desses recursos causa na natureza, como a emissão dos gases estufa. A última gota de petróleo nunca será consumida, pode ter certeza disso.” 

Jadson de Oliveira respondeu uma pergunta sobre  cogu

melos comestíveis. O biólogo afirmou que existem cerca de 2.000 espécies que podem ser consumidas com segurança e relatou que está envolvido em um grupo de pesquisa para elaborar uma lista com todas as espécies existentes no Brasil. “A ideia é que possamos explorar esse recurso de forma benéfica, tal como é feito na China”, comparou.

Higuchi comentou com Clarissa Rosa que boa parte de seus alunos têm medo de trabalhar dentro da floresta por conta das onças. Ele questionou a nova afiliada sobre o papel dos felinos no controle dos pequenos mamíferos – também chamados de “mesopredadores”. A pesquisadora explicou que, muitas vezes, os grandes felinos são os únicos predadores desses animais, que possuem altos níveis de proliferação e são grandes predadores de sementes. Ela citou a capivara como o principal problema, não só pela grande quantidade, mas também pelo contágio da febre maculosa. 

Uma questão muito relevante foi colocada para Raoni Rajão: a exploração ilegal de madeira na Amazônia. Ele respondeu que o sistema de controle local, que já era frágil, vem sendo ainda mais prejudicado pelo atual governo. Rajão mencionou o documento de origem florestal (DOF), que deveria ser apresentado ao Ibama antes da exportação da madeira nativa do país e lembrou que o  decreto relativo ao DOF foi derrubado recentemente pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Ele  apontou, ainda, que as punições impostas à quem exporta madeira ilegalmente são insuficientes no Brasil. 

Em relação ao mercado de soja no Brasil, Raoni observou que o que mais preocupa os pesquisadores é a ligação do negócio com o mercado fundiário. “O que precisamos  hoje é que o agronegócio reconheça que o desmatamento, muito por conta das interações climáticas, está matando a galinha dos ovos de ouro. Tem que haver políticas fiscais para isso, que coloquem imposto sobre o índice de desmatamento ou que inO debate foi estimulado pelas perguntas dos  internautcentivem a compra das terras já desmatadas.”

Higuchi encerrou o webinário parabenizando os participantes. Ele, enquanto membro titular, afirmou enxergar um grande futuro para os novos afiliados, com chances de se tornarem titulares na ABC.


Conheça os membros afiliados da ABC deste 1o Simpósio Científico 

Buscando soluções para um mundo sustentável e uma sociedade melhor
Professor da Coppe/UFRJ, André Frossard Pereira de Lucena é economista com formação multidisciplinar, agregando a engenharia e as ciências sociais no estudo das mudanças climáticas e planejamento energético.

Engenharia para o equilíbrio econômico e ambiental  
Engenheira ambiental e professora da UFMG, Camila Costa de Amorim lidera dois grupos de pesquisa na área ambiental, voltados para as aplicações de processos de oxidação avançada e sistemas de monitoração ambiental.

Interações entre populações humanas, animais e vegetais
Clarissa Alves da Rosa trabalha com ecologia aplicada no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia com foco na interação entre pessoas e destas com a natureza.

Uma voz em defesa da biodiversidade
Atuando no grupo de pesquisa Cogumelos da Amazônia, relacionado ao Inpa, Jadson José Souza de Oliveira desenvolve pesquisa em taxonomia, sistemática, filogenia molecular e ecologia de fungos. 

O médico da natureza
Pesquisador e engenheiro agronômico da USP, Pedro Brancalion é apaixonado pelo cultivo de orquídeas e estuda metodologias para restaurar ecossistemas nativos. 

Ciências exatas para salvar a Amazônia 
Professor da UFMG, Raoni Guerra Lucas Rajão é formado em ciências da computação e estuda o papel das geotecnologias na construção e implementação das políticas ambientais.


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