O Museu Nacional (MN), vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), organizou o evento de lançamento do livreto “500 Dias de Resgate: Memória, Coragem e Imagem” em 6 de abril. A obra relata a trajetória realizada pela equipe de resgate de acervos do museu após o incêndio de setembro de 2018, faz um panorama do trabalho e inclui depoimentos de pesquisadores.

A live contou com a participação do Acadêmico e diretor do Museu Nacional/UFRJ, Alexander Kellnerque também é editor-chefe dos Anais da Academia Brasileira de Ciências (AABC); a reitora da UFRJ, Denise Pires de Carvalho; o cônsul geral da Alemanha, Dirk Augustin; e de especialistas que trabalham na instituição. Esta foi a primeira de uma série de lives que serão realizadas nos próximos dias, com diferentes atores da linha de frente do resgate. As próximas lives serão sempre às 10h, também divulgadas pelas redes sociais do Museu.

A trajetória pós-incêndio

O processo de resgate é um trabalho complexo feito em diversas etapas: a retirada do acervo do palácio, a catalogação, a análise dos materiais, a possível restauração e recuperação dos materiais, dentre outras. De acordo com Kellner, esse foi um enorme desafio com que toda a equipe se comprometeu e grande parte dessas experiências são apresentadas no livreto, para que todas as pessoas possam ter a noção da dimensão do trabalho realizado. 

A reitora da UFRJ prestou uma homenagem a toda a equipe que elaborou o livreto, pois segundo ela é muito mais fácil destruir do que reconstruir. “Houve uma comoção internacional, mas eu não tenho dúvidas de que foi muito mais doído para todos aqueles que ingressavam naquela instituição diariamente e trabalhavam pelo avanço do conhecimento nas áreas de atuação do Museu Nacional”, completou, ressaltando a importância da instituição não só pelo aspecto museológico mas como espaço de excelência em ensino, pesquisa e extensão. 

Desde o momento inicial, a Alemanha foi um importante parceiro nas diretrizes para a reconstrução do palácio e reconstituição do acervo. O cônsul Augustin afirmou que a publicação do livreto é importante para relembrar o importante patrimônio cultural brasileiro que foi perdido em apenas uma noite. “Não são só objetos culturais, eles fazem parte da memória nacional do Brasil”, declarou. O livreto foi realizado em parceria do Museu Nacional com o Ministério de Relações Exteriores da Alemanha. “O incêndio foi horrível e destruiu um patrimônio muito importante, mas deu início a uma coisa muito bonita: uma cooperação internacional que está cada vez mais ampla e mais profunda. E esse caso vai servir como referência para a preservação do patrimônio cultural no mundo inteiro”, afirmou Augustin.

Segundo o diretor do Museu Nacional, o maior desafio não é a reconstrução propriamente dita da instituição, mas sim a recomposição das coleções. Ele explicou que esse processo pode ocorrer de diferentes maneiras: pelo resgate das peças, principal forma de recomposição do acervo e assunto do livreto; por meio de expedições e, nesse quesito, o Acadêmico ressaltou que devido ao fato do museu atuar também na geração de conhecimento e de novos cientistas, o acervo tem aumentado de forma significativa graças à ação desses pesquisadores. Diversas organizações do mundo se ofereceram para doar material original, por meio de uma enorme campanha com vários parceiros. “Nós não vamos conseguir ser um museu de história natural e antropologia sem material original, não se consegue fazer um museu só de réplicas, só de material digital”, manifestou.

Durante o evento, foram exibidas algumas das imagens que ilustram o livro, documentando todo o processo. A professora e coordenadora do grupo de resgate do acervo, Claudia Carvalho, deu um depoimento emocionante, reiterando o incansável e árduo trabalho da equipe. “É fundamental que todos entendam que o resgate não naturalizou a destruição, essa dor da perda, do incêndio, dos acervos que foram perdidos. Essa dor permanece com a gente e vai nos acompanhar pela vida inteira”, declarou. Porém, ela diz que em muitas fotos é possível ver sorrisos da equipe a cada etapa realizada com êxito. “Não foram 500 dias de dor, foram 500 dias de esperança. Esperança essa que nós apresentamos materializada no livreto”, expressou a coordenadora. 

 

 

O futuro do Museu Nacional como patrimônio histórico-cultural

Os participantes do evento frisaram em diversos momentos a importância da reconstrução do Museu Nacional como um patrimônio histórico-cultural para a sociedade brasileira. Kellner apontou que o objetivo agora é ter um museu de história natural e antropologia inovador, sustentável e, sobretudo, acessível. “Que seja compreendido pelo PhD de qualquer universidade pelo mundo, mas também pelo aluno do ensino médio. E queremos promover a valorização do patrimônio, tanto científico quanto cultural, pelo olhar da ciência”, declarou. 

Com relação a novas exposições e ao futuro do Museu Nacional/UFRJ, o diretor contou que serão quatro circuitos principais: o circuito histórico, que tratará da família imperial e do período escravocrata no país; outro circuito vai abordar a origem da vida no universo; um terceiro mostrará os inúmeros ambientes brasileiros, suas características, a fauna e flora, e também a degradação desses ambientes; e o último terá o enfoque na diversidade cultural das populações indígenas e das questões culturais também de outros países.

Por fim, respondendo às perguntas do público, Kellner se pronunciou em nome da instituição acerca de polêmica recente sobre a ideia de transformar o Museu em centro de memória da família real. Surpreendido pela proposta, o diretor do MN afirmou ser uma ideia descabida. “Vamos mostrar, sim, como a família imperial se destacava na valorização do conhecimento científico. Desde o início, mantiveram naquele palácio o Museu de História Nacional e Antropologia, com múmias e com material etnográfico das mais diversas áreas. Então mudar o foco do espaço e não valorizar a questão da ciência seria um desrespeito para com a família real”, comunicou.

Acesse aqui o livreto do Museu Nacional/UFRJ de forma online e gratuita.

Assista aqui à live de lançamento do livreto.