Os Acadêmicos da ABC, Edmar Bacha e José Murilo de Carvalho, fazem parte da nova Diretoria da Academia Brasileira de Letras (ABL), empossada no dia 11/12.

Na Cerimônia de Posse, o presidente da ABL, Marco Luchesi, destacou sua solidariedade às vítimas da COVID-19 e às famílias enlutadas, assim como ao sofrimento dos pais das meninas Emily e Vitória, e de Rebeca Beatriz, “feridas mortalmente pelas armas. Enquanto não houver culpados, somos todos réus”, afirmou. Após promover um minuto de silêncio pelas mortes das meninas, Lucchesi começou uma contundente retrospectiva.

“O ano de 2020 foi de tempestade perfeita. A eclosão da pandemia, a negação da realidade, a politização sanitária e a democracia hipertensa. Ouvimos frases impensáveis, dignas de uma antologia do horror. Houve quem temesse a morte de CNPJs, indiferentes às dos CPFs, mero eufemismo cartorial que considera a vida humana apêndice da economia, commoditie da indústria, carvão para queimar.”

Lucchesi referiu-se à violência dos incêndios que devastaram o Pantanal e a a Amazônia, atingindo os povos indígenas, cercados pelo fogo e pelo garimpo, “pelos comedores de floresta”. Comentou o baixo nível de debate instaurado no país, que promoveu “a ignomínia do racismo, a agressão ao estado laico e delírios golpistas”. As instituições culturais, segundo ele, não podem calar sua voz. “A realidade vocifera, mostando-se impiedosa”, afirmou o presidente da ABL.

Ele apontou que a era geológica do capital, “chamada ‘capitaloceno’, hipotecou todo o futuro”. “O céu desabou”,  disse, destacando os avisos prévios do novo membro colaborador da ABC, Davi Kopenawa, autor do livro “A queda do céu: palavras de um xamã Yanomâmi”, publicado em 2015. “Kopenawa alertou mil vezes que se não impedíssemos o destamento, a queda seria fatal e irreversível. E foi o que se passou.”

Assita a fala de Lucchesi na íntegra (começa em 20:27). “Discurso emocionante, profundo, atual. Um poema humanista”, disse o presidente da ABC, Luiz Davidovich.