Leia este artigo escrito pelo Acadêmico Luiz Carlos Dias para o Jornal da Unicamp, publicado em 28/9:

A coalizão Covax, uma aliança global envolvendo 156 países e territórios (contemplando cerca de 70% da população mundial) foi criada para acelerar o desenvolvimento, a produção e o acesso equitativo e igualitário aos testes, tratamentos e vacinas contra a COVID-19. A Covax defende que vacinas eficazes e seguras contra a COVID-19 sejam acessíveis à todas as populações vulneráveis em países de renda baixa. Esta coalizão internacional foi idealizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), pela Aliança Global de Vacinação (Gavi) e pela Coalizão para Inovações em Preparação para Epidemias (Cepi).

A OMS, que criou o mecanismo Access to COVID-19 Tools (ACT) Accelerator em abril de 2020 (que tem como objetivo a produção de 2 bilhões de doses de vacinas, 245 milhões de medicamentos e 500 milhões de testes)afirma que a Covax tem 9 candidatas vacinais em testes clínicos de fase 2 ou 3 em seu portfólio e que todos os países que apoiam a coalizão vão compartilhar os riscos inerentes ao desenvolvimento das vacinas. Apesar de participarem da Coalizão Covax, muitos países já asseguraram doses para suas populações, de forma individual. O Brasil aderiu à iniciativa no último dia 18/9/2020. Estados Unidos e China não aderiram ao acordo. As regras estipulam que os países de renda média como o Brasil, têm que pagar pela vacina dentro do consórcio e que apenas cerca de 95 países de renda baixa, que não tem acesso a acordos bilaterais, teriam acesso gratuito.

Por outro lado, um grupo de países e territórios ricos comprou cerca de 51% das 5,303 bilhões de doses prometidas pelas empresas que desenvolvem e fabricam as cinco principais candidatas vacinais contra a COVID-19. Considerando a necessidade de aplicação de duas doses, essas 5,303 bilhões de doses seriam necessárias para vacinar cerca de 2,651 bilhões de pessoas ou cerca de 35,4% da população mundial, longe do ideal. Um relatório da ONG Oxfam divulgado no dia 16/9/2020 mostra que estes países adquiriram cerca de 2,704 bilhões de doses. Estes países representam apenas 13% da população mundial e negociaram com as empresas que detém as candidatas vacinais em fases de testes clínicos mais avançados: AstraZeneca, Gamaleya/Sputnik, Moderna, Pfizer e Sinovac. Se duas doses por pessoa forem necessárias, com essas 2,704 bilhões de doses dá para imunizar cerca de 1,352 bilhões de pessoas, mas vão sobrar alguns milhões de doses. Somos cerca de 7,5 bilhões de pessoas no planeta e apenas cerca de 13% da população, ou pouco menos de 1 bilhão de pessoas está nestes países ricos.

Os países são os Estados Unidos, Reino Unido, União Europeia, Hong Kong, Macau, Japão, Suíça e Israel. As 2,599 bilhões de doses restantes, que vão ser utilizadas em duas doses por 1,288 bilhões de pessoas foram prometidas para India, Bangladesh, Brasil, Indonésia, China, México e outros. Se considerarmos que todas as candidatas destas 5 empresas sejam aprovadas em fase 3, cerca de 64,6% da população mundial não terá acesso a estas doses iniciais. Como é muito provável que nem todas as 5 sejam aprovadas, o número de pessoas sem acesso será ainda maior. As vacinas deveriam ser consideradas bens públicos e deveriam ser distribuídas gratuitamente, com base nas necessidades de cada país, mas para isso as empresas farmacêuticas teriam que permitir que fossem produzidas compartilhando as patentes, em vez de proteger seus monopólios e vender em função das ótimas propostas que recebem.

Futuro da COVID-19 e de novas pandemias

O futuro da pandemia da COVID-19 neste planeta dependerá de uma ou mais vacinas eficazes e seguras, do combate ao negacionismo científico e aos movimentos anticiência e antivacinas, da capacidade de distribuição das doses de vacinas para todas as populações e de campanhas de conscientização bem planejadas, levando a alta adesão da população às futuras vacinas. E para isso, no Brasil, vamos precisar de grande articulação pelo Governo Federal, pelos Governos Estaduais e pelos municípios. Serão fundamentais a eficácia das vacinas em proteger e imunizar as pessoas, a duração da resposta imunológica às vacinas, a imunidade natural que pessoas infectadas por COVID-19 adquiriram e as características dos casos de reinfecção pelo Sars-CoV-2, que quando ocorrerem, esperamos sejam mais leves que a primeira infecção.

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