Leia a matéria de Paula Rodrigues para a plataforma Ecoa do UOL, publicada em 20/9:

Mais de três milhões de hectares já foram queimados na região do Pantanal desde julho deste ano. De acordo com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), essa é a maior tragédia causada pelo fogo na região. O Instituto também levantou outro alerta: durante o começo desse mês até a última segunda-feira (14) a Amazônia registrou mais focos de queimada do que todo o mês de setembro de 2019 — são 20.486 este ano e 19.925 no mês passado.

“Apesar do governo, tem muitos grupos atuando na defesa do nosso meio ambiente, da Amazônia. Eu acredito que essa pressão nacional e internacional vai ter efeito, não vai ter como o governo resistir a isso. Vai chegar um momento que ele não vai poder ficar mais só nas palavras. Eu espero que ele mude. E tem uma coisa que eu acho que o governo não vai fazer, mas deveria, que é exonerar o Ricardo Salles imediatamente. E escolher um ministro que pudesse fazer um trabalho muito melhor para o país”, opina o físico e engenheiro Ricardo Galvão, diretor do Inpe entre 2016 e 2019.

O Inpe é o principal responsável por monitorar e produzir dados sobre as queimadas em biomas brasileiros. Galvão foi exonerado do cargo ao defender a credibilidade do monitoramento realizado pelo Instituto — que trouxe a informação do aumento em 88% no desmatamento da Amazônia — após o presidente da República vir a público afirmar que eram mentirosos. Ele, inclusive, chegou a acusar Galvão de estar “a serviço de alguma ONG”.

No mesmo ano, porém, o físico foi eleito pela consagrada revista científica “Nature” como um dos 10 cientistas que se destacaram em 2019. Agora, de volta à profissão que exerce desde a década de 1970, é professor do curso de pós-graduação em Física da USP (Universidade de São Paulo).

Nesta semana, Ricardo Galvão conversou com Ecoa sobre as queimadas que o país vem enfrentando há décadas e que nas últimas semanas tem destruído o Pantanal.

O quão difícil é trabalhar com a pasta ambiental no Brasil?

Com o andar dos trabalhos, o Inpe acabou criando um centro de estudos da Terra que não só se preocupa em monitorar o que acontece na Amazônia, mas também faz estudos do que pode acontecer no futuro, por exemplo, por causa do aquecimento global. Ele é responsável por fazer o atlas solar do Brasil — se alguém quer fazer alguma instalação de produção de energia solar, usa os dados do Inpe. Tem a SOS Mata Atlântica em que produz dados sobre desmatamento do bioma, entre outras coisas.

Temos visto diversos embates com governos por causa desses dados. O INPE está provendo dados sólidos, científicos que desagradam as autoridades. Que vai contra o que eles dizem. E essa é a parte difícil.

O senhor falou um pouco do trabalho que o Inpe desempenha e gostaria de voltar nesse assunto. Qual a importância de termos um Instituto assim no país?

O Inpe é uma instituição muito importante. Foi criado, inclusive, por um militar, o doutor Fernando de Mendonça, que estudava em Stanford, logo quando começou a corrida espacial entre os Estados Unidos e a União Soviética. E ele percebeu que as aplicações de satélite teriam importância enorme para o país no futuro. Então, foi quando resolveu criar o Inpe, como uma instituição civil. Não que fosse contrário às aplicações de satélite para ações militares, mas ele tinha um receio que se o Inpe estivesse sob domínio militar, as aplicações civis seriam colocadas em segundo plano. Só para dar um exemplo, nas décadas de 1960 e 1970, a meteorologia no país era muito ruim. Era muito difícil fazer previsões meteorológicas para mais de cinco horas. E elas são importantíssima para a indústria, agricultura, a Marinha…

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