Leia este artigo escrito pelo Acadêmico Luiz Carlos Dias para o Jornal da Unicamp, publicado em 8/9:

Transmissão por crianças

Um estudo publicado no JAMA no dia 28 de agosto por pesquisadores do Hospital Nacional Infantil de Washington mostra que crianças assintomáticas podem carregar e transmitir o Sars-CoV-2 por semanas. O estudo envolveu dados de 91 crianças em 22 hospitais da Coreia do Sul, onde quem foi infectado pelo Sars-CoV-2 permanece internado no hospital até a recuperação completa.

Outro estudo realizado com 192 crianças pelo Massachusetts General Hospital (MGH) e pelo Mass General Hospital for Children (MGHfC), publicado no dia 19/08/2020 no The Journal of Pediatrics respalda estas conclusões, mostrando que cargas virais muito altas foram observadas entre os pacientes mais jovens. Os pesquisadores colheram amostras de secreção do nariz e da garganta e encontraram grande quantidade do vírus nas crianças.

Estes resultados são preocupantes neste momento de volta às aulas, pois é certo que crianças e jovens podem infectar outras pessoas, mesmo não mostrando sinais de estarem doentes.

Sputinik V, a candidata vacinal russa

E saiu o tão esperado estudo de fases 1 e 2 da candidata vacinal russa (Sputink V), publicado no dia 04/09/2020 na revista The Lancet.

A Sputinik V é baseada em plataforma que usa dois vetores com formas mais enfraquecidas de adenovírus humanos do tipo 26 (rAd26-S) e do tipo 5 (rAd5-S), que são incapazes de se replicar no organismo humano. O estudo aberto envolveu apenas 76 voluntários adultos (18-60 anos), sendo 38 voluntários em cada fase, não foi randomizado e não teve um grupo placebo. Em cada fase, nove voluntários receberam o vetor rAd26-S, nove receberam o vetor rAd5-S e 20 voluntários receberam os dois vetores: rAd26-S no primeiro dia e rAd5-S após 21 dias.

Os resultados são interessantes, mostrando que a Sputinik V, desenvolvida pelo Instituto Gamaleya, apresentou segurança, não causando efeitos adversos consideráveis e induzindo boa resposta imune com produção de anticorpos (21 dias após a aplicação) e resposta celular de células TCD4+ e TCD8(28 dias após a aplicação) em todos os voluntários. Os efeitos adversos mais comuns foram dores no local de aplicação, dores de cabeça e dores musculares moderadas e febre.

Esses resultados são semelhantes aos observados com outras candidatas vacinais e ajudam a trazer transparência ao processo, embora os ensaios pré-clínicos ainda não tenham sido publicados. Um ensaio clínico com 40 mil voluntários, em fase 3, a que vai mostrar se protege mesmo as pessoas, está em andamento e os resultados deverão ser divulgados nos próximos meses.

Dexametasona, reparixin e azitromicina

Confirmando resultados anteriormente descritos por outros pesquisadores, um artigo publicado no dia 2/9/2020 pela Coalizão Covid-19 Brasil mostrou que o corticoide dexametasona reduziu o tempo de internação de pacientes adultos com quadros graves de COVID-19.

O estudo envolveu 299 pacientes com idades em torno de 61 anos, com síndrome respiratória aguda grave, internados em condições de UTI e submetidos à ventilação mecânica. Um grupo de 151 pacientes foi tratado com dexametasona, enquanto o grupo de controle contou com 148 pessoas, acompanhadas com suporte clínico padrão. A dexametasona foi administrada por via endovenosa e permitiu uma saída mais rápida do respirador artificial.

Isso é medicina baseada em evidências científicas.

O reparixin, da empresa italiana Dompe, em desenvolvimento para transplantes de órgãos, entra em ensaio clínico de fase 2 no Brasil com 48 voluntários, visando avaliar a eficácia e segurança. O reparixin será testado em pacientes adultos hospitalizados com casos mais graves de COVID-19 nos Estados de São Paulo, Bahia, Minas Gerais, Santa Catarina e no Distrito Federal. A fase 3 será conduzida nos Estados Unidos. Um grupo de 214 voluntários recebeu azitromicina + hidroxicloroquina e o grupo de controle recebeu apenas hidroxicloroquina, pois esta fazia parte do tratamento padrão no Brasil para pacientes com COVID-19 grave. Segundo os autores, as taxas de efeitos adversos – como arritmias ventriculares, parada cardíaca, insuficiência renal aguda e prolongamento do intervalo QT corrigido – não foram diferentes entre os grupos e ,na conclusão, os pesquisadores não apoiam o uso rotineiro de azitromicina em combinação com hidroxicloroquina em pacientes com COVID-19 grave.

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