Leia este artigo escrito pelo Acadêmico Luiz Carlos Dias para o Jornal da Unicamp, publicado em 1/9:

O último relatório do Imperial College de Londres mostra que o Brasil não sustentou a queda na transmissão da COVID-19. O número efetivo de reprodução da infecção ou taxa de transmissão (Rt) – que dá uma ideia da velocidade do contágio, que nas últimas semanas tinha desacelerado pela primeira vez em quatro meses e estava abaixo de 1 -, aumentou para a semana que começou no dia 16 (domingo retrasado) para o patamar de 1, o que significa que cada infectado está transmitindo a doença para uma outra pessoa. Isso mostra que a COVID-19 está mantendo uma velocidade relativamente alta de espalhamento. 

situação vinha se estabilizando nos Estados mais populosos, como São Paulo e Rio de Janeiro e no Norte e Nordeste. O comércio começou a reabrir, embora ainda com algumas restrições, enquanto escolas, teatros, cinemas e museus continuam fechados.

A reabertura da economia e o relaxamento nas medidas não farmacológicas podem levar a um aumento no número de casos, em virtude de a população pensar que a pandemia está em queda, o que não é verdade.

De fato, segundo o Monitor da Folha, a transmissão da COVID-19 só diminuiu em 43% dos municípios com mais de 100 mil habitantes, mantendo ritmo de crescimento em 57% das cidades, contabilizados dados dos últimos 30 dias. Para que tenhamos uma tendência real de desaparecimento da COVID-19, o índice Rt precisa ser mantido abaixo de 1, sem oscilações para cimaLeia mais.

Reinfecção é possível? 

Recentemente, quatro pessoas, na China, na Bélgica, na Holanda e nos Estados Unidos foram confirmadas como casos de reinfecção por SARS-CoV-2. Na semana passada, um estudo aceito para publicação na revista Clinical Infectious Diseases, realizado por pesquisadores de Hong Kong, confirmou que um homem de 33 anos, sem comorbidades, após ter infecção pelo SARS-CoV-2 confirmada em março, foi reinfectado com uma cepa diferente do vírus, 142 dias após ter se recuperado. A confirmação da reinfecção ocorreu após o homem ser testado no aeroporto de Hong Kong, ao voltar da Espanha, via Reino Unido.

Segundo os pesquisadores, havia diferenças significativas nos genomas dos vírus que causaram as duas infecções, o que descartou a possibilidade de ser o mesmo vírus. O paciente teve a primeira infecção com sintomas leves e, na segunda infecção, ficou assintomático, o que mostra que o seu sistema imune o protegeu de ficar doente, mas não de ser infectado. 

Na Bélgica, uma mulher de cerca de 50 anos contraiu COVID-19 pela primeira vez em março e foi reinfectada com uma linhagem diferente do SARS-CoV-2 em junho. Aparentemente, ela produziu poucos anticorpos após a primeira infecção, mas a segunda infecção foi mais leve. O caso do paciente holandês é de uma pessoa mais idosa, com sistema imunológico frágil. Os resultados dos casos dos pacientes da Bélgica e da Holanda ainda não foram publicados em revistas científicas.

As pessoas não devem presumir que, uma vez infectadas e posteriormente curadas, terão imunidade para toda a vida. A ciência sabe que mesmo que a pessoa tenha tido uma infecção leve, há uma resposta imune de defesa, embora restem dúvidas sobre a duração dessa resposta, se ela impedirá novas infecções ou se no caso de reinfecções, se os sintomas serão mais leves.

Novo medicamento no cenário – Amodiaquina

A amodiaquina (AQ) é um fármaco antimalárico utilizado no tratamento da malária não complicada, mais eficaz, mais palatável e de menor custo quando comparado com as cloroquinas. Porém, devido aos relatos de efeitos adversos observados em pacientes que fizeram uso do medicamento de forma profilática no tratamento de malária, a AQ não é utilizada como fármaco de primeira linha. Esse fármaco já foi utilizado sem sucesso no combate ao vírus da SARS e na Síndrome Respiratória do Oriente Médio.

Um trabalho envolvendo estudos computacionais sugeriu que a amodiaquina seria um potencial inibidor de protease MPro do SARS-CoV-2. Um artigo publicado no dia 19/08/2020, em plataforma online, sem avaliação por outros cientistas, mostrou resultados de inibição do SARS-CoV-2 in vitro e in vivo com o fármaco amodiaquina. A amodiaquina foi testada em hamsters por pesquisadores da Icahn School, em Nova Iorque, que receberam doses do medicamento por quatro dias e foi testada em hamsters infectados pela proteína do novo coronavírus e em outros hamsters não infectados. Os pesquisadores registraram que houve diminuição de 70% de material genético do vírus nos pulmões dos animais infectados, comparado aos animais que não foram medicados.

Uma segunda etapa do estudo envolveu hamsters medicados com amodiaquina e hamsters não medicados, porém infectados com o SARS-CoV-2. Os animais foram colocados na mesma gaiola. O resultado observado foi de que 90% dos hamsters medicados tiveram menos material genético do vírus nos pulmões.

PAINEL VACINAS COVID-19

O crescente movimento antivacina

A disseminação de fake news sobre COVID-19 produzida por grupos antivacina no Facebook aumentou consideravelmente, conforme estudos da União Pró-Vacina UPVacina, grupo ligado à USP Ribeirão Preto e do grupo ativista Avaaz.

Embora o movimento de grupos antivacina não seja tão forte no Brasil, a polarização político-ideológica, principalmente envolvendo temas na área de saúde está despertando vozes dos negacionistas de vacinas no país, que já abordam desde teorias conspiratórias à possibilidade de as vacinas causarem abortos.

Contudo, pesquisa recente do Datafolha mostrou que se for desenvolvida uma vacina segura e eficaz contra o novo coronavírus, 89% das pessoas pretendem se vacinar.

Iniciativas como a “faça você mesmo” da RaDVac, sigla em inglês que significa uma colaboração para o rápido desenvolvimento de vacina, podem contribuir para a desconfiança do público com relação às vacinas para COVID-19 e mereceu um editorial da prestigiosa revista Science. Para mais detalhes leia artigo na revista Questão de Ciência

Leia o artigo na íntegra, gratuitamente.