A vice-presidente da ABC, Helena B. Nader, participou como conferencista do webinário internacional “Futuro da Saúde: Navegando em Transições Críticas” em 17 de agosto. O evento foi organizado pelo S20 – grupo de Academias de Ciências do G20 – e foi realizado no âmbito das ações preparatórias para o encontro dos chefes de Estado do G20, que acontecerá em Riad, na Arábia Saudita, em novembro próximo.

A discussão foi moderada por Khaled M. AlKattan (diretor da Faculdade de Medicina da Universidade Al-Faisal), tendo como conferencistas Soumya Swaminathan (cientista-chefe da Organização Mundial da Saúde – OMS), Aws AlShamsan (diretor da Faculdade de Farmácia da Universidade Rei Saud), Helena B. Nader (professora titular do Departamento de Bioquímica da Universidade Federal de São Paulo – Unifesp), Thomas Aretz (professor associado de patologia na Faculdade de Medicina de Harvard), Salman Rawaf (diretor do Centro de Colaboração com a OMS do Imperial College London) e Sami Hamdan Alzahrani (diretor do Centro de Promoção de Saúde da Universidade Rei Abdulaziz).

Ao longo da discussão virtual, os participantes apontaram algumas das mais sérias ameaças à saúde e ao bem-estar das populações e como a ciência pode contribuir para enfrentá-los. Aws AlShamsan e Helena B. Nader, que coordenam a força-tarefa do S20 que discute o futuro da saúde, apresentarem as linhas gerais das conclusões e recomendações que constarão no documento, em fase de finalização, que será apresentado na reunião do G20.

Em sua apresentação, Nader destacou alguns dos desafios que estão postos e caminhos que devem ser perseguidos para a melhoria da saúde no planeta. Ela chamou a atenção para o fato de que, no plano global, os investimentos em preparação e resposta a pandemias seguem inadequados. “Sabe-se do risco potencial de novas pandemias em um futuro não muito distante e a falta de ação para preveni-las tem como resultante um mundo assustadoramente vulnerável. Diante de tal cenário, é fundamental que os governos dediquem maior atenção a este problema”, alertou Nader.

Outro aspecto ressaltado pela pesquisadora foi a necessidade de adoção dos princípios de ciência aberta (open science) e o conceito de saúde única (one health). Conforme destacado por ela, a ciência aberta envolve o acesso livre à informação e a construção colaborativa do conhecimento. Em situações como a que ora vivemos, a abordagem da ciência aberta ajuda a remover obstáculos ao fluxo de dados e ideias, acelerando o ritmo de desenvolvimento do conhecimento necessário para se enfrentar situações como a da presente pandemia. Já a saúde única olha não somente para a saúde humana, como também para a saúde animal e do meio ambiente. Para Nader, “esse olhar mais holístico é fundamental para o desenvolvimento de estratégias e políticas em saúde pública que assegurem o bem-estar das populações”, afirmou.

A palestrante apontou para a importância de uma maior atenção às chamadas doenças tropicais negligenciadas, que afetam mais de um bilhão de pessoas e custam bilhões de dólares todos os anos às economias em desenvolvimento. “Deve haver um compromisso ético com as populações que vivem na pobreza, sujeitas a condições insalubres que as expõem a doenças e condições degradantes de vida”, apontou Nader. De forma semelhante, é necessária uma preocupação dos países mais ricos com a equidade na saúde, garantindo aos países mais pobres acesso aos avanços e benefícios da medicina moderna.

Nader também chamou atenção para o impacto da pandemia sobre a saúde mental. Os transtornos mais comuns observados durante e após uma catástrofe são depressão, ansiedade e estresse pós-traumático, além do aumento do consumo de álcool e drogas. “Estes são problemas que não podem ser negligenciados e demandam atenção e políticas específicas”, alertou.

A importância da validação das evidências científicas e dos ensaios clínicos controlados e randomizados (ECCR) foi outro ponto abordado na apresentação da vice-presidente da ABC. “Os ECCR são fundamentais para embasar a adoção de opções terapêuticas, por meio da análise de diferentes tratamentos, ou ao comparar intervenções com placebo”, destacou a pesquisadora. A medicina baseada em evidências visa direcionar a conduta médica através de observações científicas consistentes, constituindo uma prática que deve ser fortalecida, na visão de Nader.

A importância da pesquisa translacional e do fortalecimento da parceria entre acadêmicos e médicos foi outro tópico destacado por Nader. “Hoje, um trabalho em equipe eficiente é globalmente compreendido como uma ferramenta essencial para a construção de um sistema de prestação de cuidados de saúde mais eficaz e centrado no paciente. A pesquisa não deve ser apenas da bancada à clínica, sendo essencial que o percurso da clínica para a bancada também seja percorrido”, acentuou a cientista. Em sua perspectiva, os pacientes envolvidos em uma pesquisa clínica não podem ser encarados apenas com atores passivos, pois seus feedbacks e opiniões também podem contribuir para a pesquisa sendo realizada.

Por fim, Nader salientou a centralidade de ciência, tecnologia e inovação para o desenvolvimento social e econômico dos países. Ela afirmou que “as experiências bem-sucedidas de países desenvolvidos e em desenvolvimento mostram que as políticas de CTI bem integradas às estratégias de desenvolvimento nacional e combinadas com mudanças institucionais e organizacionais, podem ajudar a aumentar a produtividade, melhorar a competitividade das empresas, apoiar um crescimento mais rápido e criar empregos.” No entanto, apesar dos exemplos e da experiência internacional, muitas vezes os governantes parecem ignorar essa realidade.

A apresentação foi concluída com uma chamada para o diálogo entre cientistas, clínicos e políticos. Conforme destacado por Nader, uma maior interação entre estes atores tende a contribuir de forma significativa para o aprimoramento da saúde na sociedade, a partir do fortalecimento da ciência e da prática médica.