Leia artigo de opinião do Acadêmico Sergio Machado Rezende, que é professor de física da Universidade Federal de Pernambuco, foi ministro da Ciência e Tecnologia (2005-2010) e é um dos coordenadores do Comitê Científico de Combate ao Coronavírus do Consórcio Nordeste, publicado na Folha de S. Paulo em 23/6/2020:
Em seu livro “Montenegro”, Fernando Morais conta que, em 1943, o tenente-coronel aviador Casemiro Montenegro foi aos EUA em missão da Aeronáutica para visitar bases aéreas e trazer experiências para o Brasil. Depois de visitar algumas delas, ele foi ao Massachusetts Institute of Technology (MIT), na região de Boston, onde percebeu que seria mais importante para o Brasil ter uma escola para formar engenheiros aeronáuticos do que uma base aérea.
Retornando ao Brasil, o desafio era convencer seus superiores na Aeronáutica a criar o Instituto Tecnológico de Aeronáutica, o ITA, espelhado no MIT. Somente em 1950 foi criado o ITA no Centro Tecnológico de Aeronáutica (CTA), em São José dos Campos (SP).
Como primeiro reitor do ITA, Montenegro trouxe engenheiros aeronáuticos e professores americanos e europeus para ensinar a estudantes, civis e militares, selecionados com muito rigor. Mas sia maior obsessão era desenvolver projetos de aeronaves pensando em um dia ter uma indústria aeronáutica nacional. Ele era inconformado com o fato de o avião ter sido inventado por Santos Dumont e, mesmo assim, não haver no país uma fábrica de aviões.
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O sucesso do projeto levou à criação da Embraer, empresa estatal vinculada à Aeronáutica, com Ozires na presidência. Mais dois protótipos foram produzidos pela Embraer com o nome Bandeirante antes de iniciar a produção em série. Durante as décadas de 1970 e 1980, a Embraer passou a exportar para Europa e Estados Unidos os aviões Bandeirante, e outro maior, o Brasília, para aviação comercial interligando cidades próximas.
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Em 2018 a Embraer tinha mais de 15 mil funcionários com alta qualificação e receita líquida no ano acima de US$ 6 bilhões. Por isso, causou surpresa o anúncio do governo Temer sobre sua venda para a Boeing, no valor de apenas US$ 3,8 bilhões, menos de 10% do que país investiu na empresa.
É difícil entender as razões para vender uma empresa lucrativa, com encomendas firmes para mais de dois anos de produção, que ocupa a terceira posição mundial no setor, abaixo apenas da Boeing e da Airbus. O argumento de que a Embraer perderia competitividade face à nova família de jatos da Airbus-Bombardier não se sustenta. Com seus quadros técnicos, ela teria condições de projetar e construir uma nova geração de aeronaves competitivas no futuro.
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Agora, a Boeing anuncia o cancelamento do negócio, argumentando que a Embraer não atendeu às condições do “acordo”. Na verdade, ela já estava em dificuldades financeiras com o fracasso de seus aviões 737 MAX. Mas foi a queda do mercado de aviação, provocada pela pandemia do novo coronavírus, que salvou o sonho quase desfeito do brigadeiro Montenegro de manter brasileira nossa maior empresa inovadora e de alta tecnologia.
