Leia matéria de Fabíola Ortiz para SciDev.net, publicada em 8/5:

A revista médica britânica The Lancet, uma das mas importantes publicações internacionais de pesquisa em medicina, dedicou seu mais recente editorial (9 de maio) ao Brasil e às ações do país sul-americano diante do novo coronavírus. O texto destaca que a maior ameaça para a resposta à covid-19 no Brasil parece ser seu presidente.

A resposta do presidente aos jornalistas que lhe perguntaram sobre o rápido aumento de caso, o famoso “E daí?”, repercutiu negativamente. O editorial ressalta o desprezo do Governo Federal pelas medidas de isolamento social que estão sendo tomadas pelos governadores e prefeitos dos estados e municípios.

O Brasil é o país da América Latina com mais mortes, representando 10% do total do mundo. Isto ainda considerando os números oficiais, porque há, provavelmente, uma enorme subnotificação, segundo o editorial da revista. O editor-chefe da The Lancet, Richard Horton, diz que o Brasil corre o risco de um alto custo humano pelo fato de “seu líder ter minimizado o vírus e desprezado as medidas de controle”.

Horton destacou que “a sociedade civil e a comunidade científica brasileiras devem exigir seus direitos como humanos e como cidadãos e não aceitar as violações. Se o presidente não é capaz de dirigir o país com responsabilidade, então deve sair. A comunidade internacional deve continuar oferecendo orientações ao Brasil sobre como alcançar uma melhor saúde para todos.”

Luiz Davidovich, presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), uma das entidades científicas mencionadas no editorial, concorda que o comportamento do presidente desafiou as normas prescritas pelas autoridades sanitárias nacionais e internacionais e a realidade dos fatos. “Se continuar negando a evidência científica e criando crises políticas que polarizem a sociedade e ameacem a democracia, é provável que a situação se torne mais crítica, afetando a saúde da população, a economia e causando um aumento da desigualdade social”, declarou Davidovich à SciDev.net.

O presidente da ABC criticou ainda as diárias crises políticas geradas pelo presidente, “desviando o enfoque do principal problema que o país enfrenta: combater a pandemia”. Além disso, lamentou os sucessivos cortes de recursos para pesquisa, que empobreceram, nos últimos anos, o sistema de saúde, ciência e tecnologia.

Assim como o editor-chefe da revista The Lancet, Davidovich apela por uma “unidade de ação e de forças” para enfrentar a pandemia e defender a democracia.

Para o presidente da ABC, é urgente que haja um “coro lúcido”, como o documento “Pacto pela vida e pelo Brasil” mencionado pelo editorial, um manifesto respaldado por mais de 100 organizações, como a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

A reação da imprensa e das organizações da comunidade científica e da sociedade civil têm sido fundamentais para criar uma barreira ao projeto e à ação do presidente, evitando mais mortes e dando mais clareza a este momento complexo e trágico que enfrenta o país”, destacou o presidente da ABC.

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