Leia matéria entrevista do Boletim da Faperj com seu diretor-presidente, o Acadêmico Jerson Lima, publicada em 2/4:

A chegada ao Brasil da pandemia provocada pela Covid-19 mobilizou a comunidade científica nas últimas semanas, em esforço para frear a disseminação do vírus e buscar soluções para essa grave crise sanitária que aflige toda a população mundial.

A FAPERJ, agência de fomento à pesquisa vinculada à Secretaria Estadual Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti), anunciou na semana passada o lançamento de uma chamada emergencial – em parceria com a Secretaria Estadual de Saúde (SES) – destinada a apoiar pesquisas sobre a Covid-19, da qual poderão participar instituições de Ensino e Pesquisa sediadas no Estado, startups, micro, pequenas e médias empresas. O Governo do Estado autorizou a liberação de até R$ 32 milhões para a iniciativa.

Em entrevista ao Boletim FAPERJ, o presidente da Fundação, Jerson Lima, fala da importância de mobilizar a comunidade científica e os empreendedores para que direcionem suas pesquisas para soluções urgentes que contemplem a Covid-19 nas mais diversas áreas. “Por ser uma doença nova, todas as questões têm que ser enfrentadas de forma rápida, mas sem perder o rigor científico”, diz.

Ele ressalta que a FAPERJ está atenta às demandas da sociedade e que em anos recentes lançou programas de fomento que contemplavam viroses emergentes e reemergentes, como zika, chikungunya e dengue, e que obtiveram resultados reconhecidos internacionalmente.

Professor titular do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ, onde lidera grupos de pesquisa que levaram a avanços no entendimento do enovelamento das proteínas e que, indiretamente, tocam igualmente questões relacionadas a vírus, Jerson é membro titular das Academias Brasileira de Ciências e Nacional de Medicina.

Boletim FAPERJ– Quais os maiores desafios da FAPERJ no enfrentamento dessa pandemia?

 JERSON LIMA Sendo a FAPERJ a agência de fomento à pesquisa no estado do Rio de Janeiro, seu papel ganha um destaque ainda maior, tendo em vista que todos os desafios e medidas passam pela ciência, tanto a curto como médio prazo. Será da Ciência que virá a solução definitiva para a pandemia, não só no Estado, mas no Brasil e no mundo. Foi pensando nesta questão que a agência se mobilizou, junto com a Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti) e com a Secretaria Estadual de Saúde (SES) para lançar uma ação emergencial congregando três chamadas, para a qual foram disponibilizados R$ 32 milhões. Essas chamadas visam mobilizar a comunidade científica e de empreendedores para direcionar as suas pesquisas para soluções urgentes nas mais diversas áreas, desde o diagnóstico, a epidemiologia, os estudos clínicos e terapêuticos, genômica, soluções para equipamento de proteção individual, ventiladores, entre outros. Essa decisão é de suma importância nesse momento para a pesquisa fluminense, em que não pode faltar apoio para as ações científicas e inovadoras que possam mitigar as consequências da pandemia. Por ser uma doença nova, todas as questões têm que ser enfrentadas de forma rápida, mas sem perder o rigor científico.

Na sua opinião, como a comunidade tem reagido frente à alta demanda por respostas rápidas? 

Tenho ficado impressionado como os cientistas fluminenses estão sendo protagonistas em respostas para a população sobre a pandemia. Pesquisadores das mais diversas áreas, como Virologia, Epidemiologia, Infectologia, Engenharia, Economia, para mencionar algumas, estão dando contribuições cruciais para o enfrentamento da pandemia no Estado e no País. A FAPERJ apoia, desde 2016, uma Rede de Doenças causadas por arbovirus (como zika, dengue, chikungunya e febre amarela), reunindo mais de 400 pesquisadores. A maioria dos pesquisadores desta rede está direcionando os esforços de seus grupos de pesquisa para o estudo do novo coronavírus. Essa é uma das razões pela qual a Rede passou a ser designada de Rede de Viroses Emergentes e Reemergentes, sob coordenação geral do renomado professor Amilcar Tanuri.

Como a FAPERJ poderá atuar no futuro próximo e a longo prazo junto à comunidade científica?

A primeira medida já tomamos, que foi por meio dessa ação emergencial, composta de três chamadas, permitindo que qualquer projeto apoiado pela FAPERJ possa incluir linhas de pesquisa relacionadas ao Covid-19, seja através dos recursos já concedidos e/ou de concessão de recursos emergenciais adicionais para buscar a solução de problemas, de preferência, em curto prazo.  Entretanto, sabemos que a solução em longo prazo vai passar pelo desenvolvimento de terapias ou da prevenção, através de uma vacina. O Estado possui grupos de ponta trabalhando nessas áreas, que estão se juntando a um esforço internacional para abreviar o tempo, por exemplo, do desenvolvimento de uma vacina. Além dos grupos de pesquisa, o Estado tem como sede a Fiocruz e Biomanguinhos, ambos com grande expertise no desenvolvimento e produção de vacinas.

De que forma a comunidade científica pode contribuir com o papel da FAPERJ nessa crise?

É sempre bom recordar que a comunidade científica brasileira, em particular a do Rio de Janeiro, teve um papel preponderante na epidemia de zika, em 2016. Foram pesquisadores apoiados pela FAPERJ que demonstraram que o grande aumento do número de casos de microcefalia era causado pela infecção por vírus zika. E não está sendo diferente agora, quando pesquisadores e empresas ligadas à inovação estão arregaçando as mangas, ou melhor, vestindo os jalecos, para trabalhar no desenvolvimento de soluções científicas para os diversos desafios, desde estudos de genômica, diagnóstico, acompanhamento dos casos graves, desenvolvimento de respiradores e equipamentos de proteção individual de baixo custo.

Muitas das iniciativas de pesquisa relacionadas a Covid-19 que agora estamos vendo contam com a participação de pesquisadores que têm apoio da FAPERJ. Mas o público em geral parece desconhecer esse fato. O que fazer para dar mais visibilidade às pesquisas que têm o apoio da Fundação?

Não seria exagero dizer que praticamente todas as iniciativas de pesquisa importantes no Estado envolvem a FAPERJ. Desde as melhorias no diagnóstico, a genômica, até o desenvolvimento de respiradores de menor custo. Grupos de pesquisa em câncer e doenças degenerativas estão buscando, por exemplo, avaliar o risco de agravamento da Covid-19 em pacientes com essas doenças. Por isso, nos últimos dias, temos enfatizado, junto à comunidade científica, a importância de que divulguem e amplifiquem as informações sobre o apoio recebido através da Fundação. Só assim a população poderá compreender o papel central da Ciência e, por consequência, do fomento às pesquisas para alcançar os resultados que agora acompanhamos com interesse em todos os noticiários. São fruto dos impostos arrecadados e transformados em recursos para a pesquisa, que causam impacto e são estratégicos para a sociedade e seu desenvolvimento.