Leia a matéria de Ana Lucia Azevedo para O Globo, publicada em 24/03:

RIO – Discutir com os médicos italianos a escolha de tratamentos para casos críticos da Covid-19 se tornou parte da rotina da médica Patrícia Rocco, chefe do Laboratório de Investigação Pulmonar da UFRJ, membro da Academia Nacional de Medicina e da Academia Brasileira de Ciências.

Autora de mais de 300 estudos, ela lidera um grupo que investiga o uso de derivados de células-tronco contra o novo coronavírus em pacientes com estágio avançado da doença.

Por que o Sars-CoV-2 é um vírus tão transmissível?

Em média, cada paciente infecta até três indivíduos. Isso ocorre, a grosso modo, pela forma do vírus. Ele é uma coroa de espinhos. E os utiliza para entrar, dominar a célula e usar o material genético dela para se multiplicar muito depressa. A pessoa infectada vira uma fábrica de vírus antes que os sintomas apareçam. Isso faz com que passe de uma pessoa para outra com grande eficiência e dificulta demais o fim da pandemia. Por isso, as quarentenas são fundamentais.

O que a Covid-19 faz com os pulmões?

Nos casos graves, os pulmões ficam inflamados, podendo ficar mais rígidos e não responder aos procedimentos usuais, como altos níveis de pressão expiratória final. Além disso, estamos vendo que os pacientes apresentam embolia pulmonar frequentemente associada à Covid-19, deteriorando ainda mais os pulmões.

O que tem sido testado como tratamento da Covid-19?

Há estratégias com remédios e outras não-farmacológicas, como as células mesenquimais. Mas todos os estudos foram realizados em um número pequeno de pacientes, em diferentes momentos da doença, o que não permite que indiquemos tais terapias de forma rotineira.

Em que o seu grupo trabalha agora?

Em terapias com células mesenquimais de diferentes origens: medula óssea, tecido adiposo, do cordão umbilical. Mas as células-tronco não podem ser dadas diretamente porque o vírus também as infecta e destrói. Então, estamos pensando numa estratégia.

Qual?

Sabemos que essas células liberam as chamadas vesículas extracelulares que podem não ser afetadas pelo vírus e que contêm dentro delas microRNA, RNA-mensageiro e uma séria de outras substâncias. Achamos que tais vesículas extracelulares possam conter a inflamação grave, que mata os pacientes. Temos que provar que essas vesículas extracelulares possam atuar in vitro e depois nossa ideia é dar diretamente as vesículas extraídas dessas células-tronco aos pacientes.

Em que fase estão?

Nos preparamos para testá-las em células, esferoides e organoides (que funcionam como miniórgãos). Não há modelo animal adequado para os testes. Se as vesículas “tratarem” os organoides, a etapa seguinte será em estudos clínicos, com pequenos grupos de pacientes.

A Covid-19 tem cura?

A maioria dos pacientes ficará curado. Entretanto, cerca de 15% dos pacientes irão evoluir para pneumonia e/ou falência respiratória aguda. Os pacientes que apresentam falência respiratória e necessitam de entubação orotraqueal e ventilação mecânica apresentam letalidade alta, de 80% a 90%, dependendo do país.

Para avaliar se um indivíduo já apresentou a Covid-19, é importante realizar testes sorológicos. Porém, ainda não estamos realizando no Brasil (o governo anunciou que compraria 10 milhões deles). Com base na experiência dos outros países, podemos dizer que os casos leves ficarão recuperados em cerca de 14 dias.

Confira a matéria na íntegra.

 


ABC na pandemia do coronavírus: conhecer para entender!
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