O Brasil possui uma biodiversidade única, com 70% das espécies da Terra presentes. Concentra entre 15 a 20% da biodiversidade mundial, com um grande endemismo, ou seja, com espécies ocorrendo exclusivamente naquela região geográfica. Ainda assim, as pesquisas mais avançadas na área, como a genômica vegetal, são escassas no país.

Coordenadora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Biodiversidade e Produtos Naturais (INCT BioNat) e membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Vanderlan Bolzani falou sobre a questão durante a 22ª Conferência TWAS-Lacrep (The World Academy of Sciences-Latin America and Caribbean Regional Partner) e 1ª Conferência Regional da TYAN (TWAS Young Affiliates Network). O encontro, realizado entre 27 e 29 de novembro, intitulado “Ciência na América Latina: hoje e amanhã”, reuniu jovens cientistas para discutir suas pesquisas, desafios e ações para o desenvolvimento da ciência na América Latina e Caribe.

A biodiversidade é a principal fonte dos produtos naturais, como comida, farmacêuticos, agroquímicos e combustíveis. Alguns deles mudaram a história da saúde humana: a morfina, a penicilina, a artemisinina e a ziconotida são exemplos.

Hoje, a genômica vegetal é um dos campos mais avançados na ciência herbal – área de aplicação dos medicamentos à base de plantas, alimentos funcionais e produtos naturais ao cuidado da saúde e medicina. Ela fornece uma plataforma eficaz para apoiar as análises químicas e biológicas de complexos produtos fitoterápicos, que podem conter mais de um componente ativo.

Mas, como apontou Bolzani, no Brasil há poucos ou quase nenhum estudo sobre informações genômicas, juntamente com dados transcriptômicos, proteômicos e metabolômicos, e são raras as pesquisas de elucidação das vias biossintéticas. Todas essas são áreas de estudo auxiliam no entendimento da genética e biologia das ervas.

A Acadêmica explicou que o maior desafio é “estabelecer um padrão para coleta e armazenamento, e integrar as informações biológicas, químicas e farmacológicas em um sistema ou base dados”.

Ainda assim, ela relatou a atividade de algumas iniciativas que têm buscado reverter esse cenário, como o Núcleo de Bioensaios, Biossíntese e Ecofisiologia de Produtos Naturais (NuBBE), da Universidade Estadual Paulista (Unesp), do qual faz parte como pesquisadora. O NuBBE possui uma base de dados que serve como fonte de informação para a comunidade científica de produtos naturais e química medicinal, incluindo uma variedade de produtos naturais e seus derivados, bem como as propriedades químicas e farmacológicas úteis dos compostos.

Outro exemplo citado foi o programa Biota-Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), que tem como objetivo principal catalogar e caracterizar, tanto biológica quanto quimicamente, a biodiversidade brasileira definindo mecanismos para sua conservação e uso sustentável. Bolzani destacou que o programa se provou um excelente espaço para a pesquisa colaborativa em produtos naturais.

A professora titular da Unesp ressaltou ainda a importância das colaborações internacionais no Biota. “São oportunidades excelentes para os estudantes serem treinados no exterior e também para fortalecer a nossa pesquisa em produtos naturais”, declarou.

 

Veja mais sobre o evento:

Cesar Victora: como pesquisa realizada no sul do Brasil ajudou a moldar a política global de saúde infantil

Medindo a plasticidade cerebral

A ciência na vanguarda do combate às mudanças climáticas

Como encontrar os amantes da ciência?

Jornalismo de ciência: um serviço de utilidade pública

Ciência é cultura

Ataques à ciência são ataques à democracia

Os desafios para o financiamento da ciência na América Latina

Oportunidades no exterior para cientistas da América Latina

O presente e futuro da ciência latino-americana