Imagem retirada do vídeo: https://www.camara.leg.br/evento-legislativo/58232

A vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Helena B. Nader, defendeu o investimento público em ciência, tecnologia, inovação e educação (CTI&E) durante o seminário “O papel da universidade pública no desenvolvimento da ciência e tecnologia, da educação e do conhecimento”, realizado nos dias 29 e 30 de outubro, na Câmara dos Deputados.

No dia 29, além da vice-presidente da ABC, participaram Maria Emília Walter, decana de Pesquisa e Inovação da Universidade de Brasília (UnB); Roberto Salles, ex-reitor da Universidade Federal Fluminense (UFF); Luiz Antônio Cunha, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Sandra Regina Goulart Almeida, reitora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); e o professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Nelson Cardoso Amaral.

Em sua apresentação, Nader expôs diversas pesquisas sobre o ensino superior no Brasil e que apontam para o alto impacto dos investimentos em CT&I a nível internacional. Segundo um relatório da União Europeia sobre o valor da pesquisa, citado pela Acadêmica, o investimento em pesquisa pública tem um retorno de três a oito vezes do valor aplicado. Além disso, entre 20 e 95% das inovações não poderiam ter sido desenvolvidas sem a contribuição da pesquisa pública, desenvolvida até sete anos antes.

E o Brasil, segundo a reitora da UFMG, Sandra Regina Goulart Almeida, é o país que mais apresenta retorno salarial para quem tem ensino superior. No entanto, apenas 18% de sua população entre 18 e 25 anos se encontra nesse cenário. A meta de 33% para 2024 não será alcançada, ela alertou. “A falta de planejamento do Estado para o aumento de vagas, para maior apoio ao ensino superior, vai refletir numa maior desigualdade no futuro”, concluiu a reitora.

O professor da UFRJ Luiz Antônio Cunha reforçou em sua fala a importância da autonomia universitária. Segundo o professor, a luta pela autonomia é um elemento comum à instituição universitária, presente em todos os tempos e lugares.

Sobre o caso brasileiro, o professor alertou para os projetos coercitivos à autonomia universitária que procuram impor cada vez mais controles e restrições orçamentárias. Cunha afirmou ainda que o programa Future-se, do Ministério da Educação, pode resultar em uma profunda reforma das universidades federais. “As universidades são instituições complexas, que demoram muito a amadurecer, tão mais quanto maiores e mais frequentes forem as interferências perturbadoras em sua autonomia. Por isso, elas precisam de estabilidade em suas relações com o Estado e a sociedade”, lembrou.

A vice-presidente da ABC questionou ainda a justificativa de “ganhar confiança do mercado” para a implantação da EC 95/2016. Ela afirmou que é preciso avaliar se o mercado em questão é o especulativo ou o produtivo; baseado em matérias-primas ou produtos de alta tecnologia; baseado em mão de obra desqualificada e com baixo salário ou em profissionais qualificados e bem remunerados.

Por fim, Nader reafirmou que ciência e educação não são gastos, mas sim investimentos que trazem desenvolvimento para o país.