A sede da ONU em Nova Iorque recebeu mais de 30 cientistas para o lançamento de um painel científico sobre a Amazônia. Salvar a região que reúne a maior floresta tropical do mundo, com a maior biodiversidade do planeta, contendo mais da metade das espécies da Terra mobiliza muitos interesses.

A Amazônia também tem uma enorme diversidade cultural, com mais de 35 milhões de habitantes – o que inclui quase um milhão de indígenas de 400 etnias, com identidades culturais e práticas de manejo territorial próprias, falando 300 línguas diferentes. Essa riqueza cultural é complementada por comunidades de quilombolas, descendentes de escravos africanos, e uma diversa gama de povos tradicionais utilizando os recursos da floresta e dos rios.

De acordo com o vice-presidente da ABC para a Região Norte, Adalberto Val, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), uma boa parte dessas pessoas vive na Amazônia profunda e tem ajudado na sua conservação por séculos. Ele está envolvido com a Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável (SDSN, na sigla em inglês) em seu capítulo para a Amazônia já faz alguns anos, coordenando um trabalho que envolve o levantamento de soluções sustentáveis junto às instituições científicas da região. “O material está sendo disponibilizado por meio de uma plataforma de soluções com acesso livre”, ressaltou.

Val considera que a essas alturas é desnecessário mencionar o quanto a Amazônia é importante para os países da região e para o mundo, do ponto de vista ambiental, da biodiversidade, do clima, da cultura. E manter a floresta em pé é vital. Ele diz que é preciso que haja estratégias robustas para fazer a floresta em pé valer mais do que a floresta queimada, derrubada para dar lugar ao gado e a soja. “A ciência tem um papel central nesse aspecto, já produziu conhecimentos que ajudam nisso. A domesticação da floresta também não é novidade para os povos da floresta”, observou o biólogo.

Ele explica que qualquer pequeno movimento em um dos países amazônicos afeta todos os demais, incluindo as áreas não amazônicas desses países. E afeta o mundo inteiro, não só por conta da biodiversidade e do clima, mas em função do que a Amazônia representa para a humanidade nos tempos atuais. “Não se trata de questões de soberania, mas de vida em seus múltiplos matizes”, reflete Val.

Assim, a ideia que ganha corpo é que cientistas da Amazônia que trabalham com a questão amazônica se unam numa cruzada e produzam documentos técnicos robustos para subsidiar com recomendações governos, setores da iniciativa privada, sociedade. “Precisamos de pessoas de boa índole dispostas a fazer um esforço comum, em prol da humanidade hoje e no futuro”, defende o Acadêmico.

O grupo de trabalho inicial envolve Jeffrey Sachs e Carlos Nobre – como pode ser visto em matéria do Estadão – interagindo com pesquisadores dos diferentes países amazônicos e profissionais de destaque que discutem as questões amazônicas ou apresentam reflexões sobre elas, como Tom Lovejoy (EUA) e Marcelo Sorondo (Vaticano).

A Academia Brasileira de Ciências é parceira da iniciativa. A convite da UN-SDSN, Adalberto Val participou da reunião e se propôs a participar do grupo de trabalho, que deverá se reunir em breve novamente para dar prosseguimento às discussões e redação dos documentos.