Leia o artigo de opinião do Acadêmico Isaac Roitman – professor emérito da Universidade de Brasília, pesquisador emérito do CNPq e membro do Movimento 2022 O Brasil que queremos – publicado no Monitor Mercantil, em 28/8:

O título do artigo escrito em latim significa: “Temos um futuro”? O latim, uma língua morta, era falada no Lácio, região em torno de Roma. Certamente no passado e sobretudo no presente a pergunta foi e é feita em muitas línguas sendo sempre pertinente. O futuro é construído pelo que fizemos no passado e principalmente pelo que estamos fazendo no presente.

Hoje é consenso que o nosso lar, o planeta Terra, tem seus limites e que se não tivermos consciência e respeito a esses limites a espécie humana e outras formas de vida estarão condenadas à extinção. Alertas, debates e pactos não faltam. No entanto, o sinal vermelho continua intenso.

O relatório recente da Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Ecossistema (PPNES) elaborado por 145 cientistas de 50 países denuncia que 1 milhão de espécies de animais e plantas estão ameaçadas de extinção.

As cinco principais causas de mudanças de grande impacto na natureza nas últimas décadas são: perda do habitat natural, exploração de fontes naturais, mudanças climáticas, poluição e espécies invasoras. Segundo o relatório, as atuais tendências negativas impedirão em 80% o progresso das metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, relacionadas a pobreza, fome, saúde, água, cidades, clima, oceanos e terra.

Três quartos do ambiente terrestre e cerca de 66% do ambiente marinho foram significativamente alterados por ações humanas. A poluição plástica aumentou dez vezes desde 1980. De 300 a 400 milhões de toneladas de metais pesados, solventes, lamas tóxicas e outros resíduos de instalações industriais são despejados anualmente nas águas do mundo. Fertilizantes que entram nos ecossistemas costeiros produziram mais de 400 “zonas mortas” oceânicas, totalizando mais de 245.000 km² – uma área combinada maior que a do Reino Unido. Entre 100-300 milhões de pessoas estão em risco aumentado de enchentes e furacões devido à perda de habitats e proteção da costa.

Estudos científicos já apontaram que o aumento da concentração de gases na atmosfera provenientes da queima de combustíveis fósseis, automóveis e, até mesmo, de incêndios florestais, com a ajuda da derrubada de florestas tropicais, resultou no aumento de 1 grau centígrado na temperatura do planeta, nos últimos 100 anos. Alguns lugares chegaram a aquecer até 2 graus.

Embora pareçam números pequenos, essa alteração é a principal responsável pelo derretimento das geleiras, ocasionando o aumento dos níveis do mar. Nesse cenário construído pela insanidade da nossa civilização é urgente pensarmos se teremos futuro.

O Brasil é um país privilegiado com solos férteis, água em abundância, grande diversidade biológica, rico em minerais estratégicos, matrizes energéticas diversificadas, enfim, com um cenário de riqueza onde paradoxalmente a maioria de seu povo vive na pobreza.

Para mudar esse cenário precisamos urgentemente mudar o nosso desenvolvimento econômico. A meta é termos uma estratégia na economia que não vise o lucro de poucos, mas sim a boa qualidade de vida de todos. A preservação de nossos recursos naturais deve ser cláusula pétrea nas nossas políticas ambientais.

É importante compartilhar as nossas riquezas com outros povos. No entanto, sem perder nossa soberania e prioridades. É preciso que todos estejamos conscientes que a não preservação de nosso meio ambiente nos levará a uma grande tragédia, talvez a última da aventura humana.

Vamos construir um cenário para o Brasil sem injustiça social, sem miséria e fome, onde todos os brasileiros e brasileiras poderão realizar seus sonhos. O caminho desse ideário é oferecer uma educação de qualidade para todos. Ela abrirá as portas para um novo mundo que se avizinha onde o amor e conhecimento serão os grandes tesouros.

Vamos lembrar o pensamento de Paulo Freire, o patrono da Educação brasileira: “Eu sou um intelectual que não tem medo de ser amoroso. Amo as gentes e amo o mundo. E é porque amo as pessoas e amo o mundo que eu brigo para que a justiça social se implante antes da caridade”.

Vamos romper as fronteiras físicas e ideológicas de todos os países. Afinal, somos todos filhos e filhas da mãe das mães, a natureza. Vamos todos cumprir o nosso dever para legar um futuro feliz e generoso para as próximas gerações. Ainda é tempo. Mãos à obra.