Quando viva, a mais nova descoberta da paleontologia brasileira tinha 2,50 metros de envergadura. O peso variava entre 15 e 20 quilos. A espessura dos ossos era bem fina, de 1,5 milímetros. O animal leve voava: era o pterossauro “Keresdrakon vilsoni”, que viveu há pelo menos 80 milhões de anos em Cruzeiro do Oeste, região norte do Paraná.

Essas informações constam em artigo publicado na revista da Academia Brasileira de Ciências (AABC) no dia 20 deste mês. O trabalho foi uma realização conjunta entre pesquisadores das seguintes instituições: Universidade do Contestado, de Santa Catarina, o Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a Universidade Federal de Pernambuco, a Universidade Paranaense, a Universidade Estadual de Ponta Grossa, do Paraná, a Universidade Federal do Cariri, do Ceará, e a Universidade Autônoma de Barcelona, da Espanha.

O fóssil do réptil foi encontrado em blocos de escavação no sítio arqueológico de Cruzeiro do Oeste. O material começou a ser analisado em 2012. O nome “Keresdrakon” significa, em grego, “dragão espírito da morte”; “vilsoni” foi dado em homenagem a Vilson Greinert, um voluntário que auxiliou os trabalhos envolvendo fósseis de pterossauros na Universidade do Contestado.

Esse novo réptil de milhões de anos atrás é o quarto encontrado em oito anos em Cruzeiro do Oeste, desde quando o local que hoje é um sítio arqueológico começou a ser escavado. A primeira descoberta, divulgada em 2014, foi a de um fóssil também de pterossauro, mas de espécie diferente: o “Caiuajara dobruskii”.Mais recentemente, antes do “Keresdrakon”, outra descoberta havia agitado a comunidade cientifica. Em junho deste ano foi divulgada a pesquisa sobre o “Vespersaurus paranaensis”, o primeiro dinossauro encontrado no estado, também em Cruzeiro do oeste.

Ilustração: Universidade do Contestado / divulgação

O professor Alexander Kellner, coordenador do Museu Nacional da UFRJ, um dos responsáveis pelo estudo sobre o pterossauro, comemorou o resultado da pesquisa. O trabalho aponta que o “Keresdrakon” deveria se alimentar do “Caiuajara”, que era um réptil menor. E, mais que isso, indica que os pterossauros e o dinossauro “Verpersaurus” dividiam o mesmo território, afirmou Kellner em entrevista à CBN Maringá.

Quem coordenou o estudo foi professor Luiz Carlos Weinschütz, do Centro Paleontológico da Universidade do Contestado, em Mafra, cidade que fica a 300 quilômetros da capital Florianópolis, em Santa Catarina Segundo ele, o fato de ter havido o contato de pelo menos duas espécies de pterossauros e uma de dinossauro na mesma região é algo que deve chamar a atenção da comunidade cientifica internacional.

Cruzeiro do Oeste é um município no norte do Paraná, a 500 quilômetros de distância da capital Curitiba. A cidade tem 20 mil habitantes. O local em que os fósseis foram encontrados atualmente é um sítio arqueológico sob a coordenação de Museu Paleontológico da cidade, criado em julho deste ano.

Os primeiros materiais localizados nesse sítio são dos anos 1970, mas só começaram ser estudados a partir de 2011. A coordenadora do museu, Neurídes Martins, explicou que o sítio tem 400 metros quadrados, mas até o momento só 20 metros quadrados foram escavados. Ou seja: há muito a ser descoberto, disse.

Pesquisadores de outros países agora têm visitado o pequeno município. Além dos fósseis de dois pterossauros e do dinossauro encontrados em Cruzeiro do Oeste, materiais de um lagarto de 80 milhões de anos atrás foi descoberto e divulgado para a comunidade cientifica em 2015.