O diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Magnus Osório Galvão, rebateu as críticas feitas pelo presidente Jair Bolsonaro, que acusou o órgão de pesquisa de mentir sobre dados de desmatamento e de estar “agindo a serviço de uma ONG”. Disse também que não deixará o cargo.

“Fazer uma acusação em público esperando que a pessoa se demita. Eu não vou me demitir”, afirmou Galvão.

As acusações de Bolsonaro foram feitas na sexta-feira (19), durante café da manhã com jornalistas estrangeiros. Neste sábado, Galvão se defendeu em entrevista ao site do jornal “O Estado de S.Paulo”. Procurado pela TV Vanguarda, afiliada da Globo, ele reafirmou as críticas. Veja a seguir um resumo do que disseram Bolsonaro, na sexta, e Galvão à TV Vanguarda, neste sábado.

Acusações de Bolsonaro

  • “A questão do Inpe, eu tenho a convicção que os dados são mentirosos, e nós vamos chamar aqui o presidente do Inpe para conversar sobre isso, e ponto final nessa questão.”
  • “Mandei ver quem está à frente do Inpe. Até parece que está a serviço de alguma ONG, o que é muito comum.”
  • “Se for somado o desmatamento que falam dos últimos 10 anos, a Amazônia já acabou. Eu entendo a necessidade de preservar, mas a psicose ambiental deixou de existir comigo.”

Bolsonaro fez referência a dados que o Inpe havia divulgado na quinta-feira (18), sobre o atual estado do desmatamento na Amazônia. Procurado pela TV Globo, o Palácio do Planalto disse que não vai se manifestar sobre o assunto.

Respostas de Galvão

  • “Esses dados sobre desmatamento da Amazônia, feitos pelo Inpe, começaram já em meados da década de 70 e a partir de 1988 nós temos a maior série histórica de dados de desmatamento de florestas tropicais respeitada mundialmente.”
  • “Tenho 71 anos, 48 anos de serviço público e ainda em ativa, não pedi minha aposentadoria. Nunca tive nenhum relacionamento com nenhuma ONG, nunca fui pago por fora, nunca recebi nada mais do que além do meu salário com o servidor público.”
  • “Ao fazer acusações sobre os dados do Inpe, na verdade ele faz em duas partes. Na primeira, ele me acusa de estar a serviço de uma ONG internacional. Ele já disse que os dados do Inpe não estavam corretos segundo a avaliação dele, como se ele tivesse qualidade ou qualificação de fazer análise de dados.”

‘Piada de um garoto de 14 anos’

Galvão disse ainda que respeita o presidente Bolsonaro como um representante eleito, mas criticou seu comportamento.

  • “Sou republicano e [acredito] que ele tem várias propostas que vão em benefício do país, mas ele tem tido realmente comportamento que não respeita a dignidade e liturgia da Presidência.”
  • “Principalmente quando ele tem essas entrevistas com a imprensa ou mesmo em outras manifestações, ele tem um comportamento como se estivesse em botequim. […] Ou seja, ele fez acusações indevidas a pessoas do mais alto nível da ciência brasileira, não estou dizendo só eu, mas muitas outras pessoas”, afirmou Galvão.
  • “Isso é uma piada de um garoto de 14 anos que não cabe a um presidente da República fazer.”

O Inpe disse em nota que sua política de transparência permite o acesso completo aos dados e acrescentou que a metodologia do instituto é reconhecida internacionalmente. “O Inpe teve um papel fundamental na utilização de satélites para imagem de sensoriamento remoto. O Brasil foi o terceiro país no mundo a usar imagens do satélite landsat, método desenvolvido pelo Inpe. Todos os nossos métodos são desenvolvidos pelo Inpe”.