Os palestrantes e vencedores do prêmio de comunicação científica Euraxess Science Slam Brasil, André Azevedo da Fonseca e Arthur Domingos de Melo.

Em 26 de junho, último dia do 4º Encontro Nacional de Membros Afiliados da Academia Brasileira de Ciências (ABC), a primeira atividade foi comandada por dois vencedores do prêmio de comunicação científica Euraxess Science Slam Brasil: André Azevedo da Fonseca (ganhador da edição de 2016) e Arthur Domingos de Melo (ganhador da edição de 2017).

Jornalista com doutorado em história e pós doutorado em cultura contemporânea, André da Fonseca é professor adjunto no Centro de Educação, Comunicação e Artes da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e “youtuber”, Ele falou da rica experiência de seu canal de Educação, Comunicação e Ciências Humanas  no qual oferece, entre outros conteúdos científicos, um curso completo sobre a Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire. Deu algumas dicas para os cientistas interessados em investir na divulgação científica por meio do Youtube. “Para entrar nesse mundo, é preciso se posicionar sobre questões urgentes do nosso tempo, a partir de suas próprias perspectivas. E vocês devem estar preparados para os comentários negativos em seus vídeos”. Nesse sentido, mostrou uma música que fez para agradecer aos seus “haters” todos os “likes” que lhe proporcionaram, provocando muitas gargalhadas pela elegância ao lidar com a agressividade alheia, que aparece muito nas redes sociais.

Segundo Fonseca, a principal virtude exigida pelo público que acessa vídeos no Youtube é a autenticidade. E, em termos técnicos, a única exigência inegociável é um áudio de boa qualidade. Além disso, é importante que o canal tenha uma periodicidade, porque, ao contrário do que o senso comum sobre a Internet sugere, os usuários gostam de rotina. “A periodicidade permite o surgimento de uma comunidade de pessoas que passam a se reunir em torno de um interesse, e esta deve ser uma meta deliberada em um projeto de divulgação científica no Youtube”, afirmou.

Por fim, o jornalista apontou que a união faz a força. “No Youtube, o público de ciência gosta de diversidade. Quando canais fazem colaborações, indicações de vídeo dos colegas e projetos em conjunto, o público que gosta de um canal acaba conhecendo o outro canal, e vice-versa”. Nesse sentido, indicou o Science Vlogs Brasil, uma iniciativa que está articulando uma rede canais de divulgação científica no YouTube, que passam a ser identificados por um selo de qualidade. Assim, o público tem um indicador a mais para escolher bons conteúdos, produzidos por youtubers verdadeiramente comprometidos com a ciência. “O Science Vlogs reúne canais de várias áreas do conhecimento. Da biologia à robótica, paleontologia, matemática, cosmologia, educação. São canais produzidos por jovens pesquisadores que têm consciência da urgência de se unir para promover a cultura científica no Brasil”, explicou Azevedo.

Os afiliados durante a gravação do podcast, proposta por Fonseca e Melo, na parte da tarde.

Doutor e mestre em biologia vegetal/ecologia, atuando no laboratório o Laboratório de Biologia Floral e Reprodutiva Polinizar da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Arthur Domingos de Melo também trabalhou no tema que conduziu as sessões de comunicação científica do evento: o outro, o público-alvo. Tratando da questão fundamental que envolve este tema, que é a capacidade de gerar empatia, Melo procurou mostrar como acessar a dimensão humana na divulgação científica.

No passo a passo apresentado pelo pesquisador, são sete as regras: respeite o conhecimento que não é científico e tente usá-lo a seu favor; demonstre conceitos através de modelos próximos ao contexto social do seu espectador; explique a sua ciência usando vocabulário comum ao público-alvo; converse sobre divulgação científica com profissionais da economia criativa; aceite que fazer ciência é um ato político; leve a divulgação científica a sério; e tente utilizar recursos de divulgação científica não canônicos.

Sobre esse último passo, Melo apontou vários recursos que podem ser utilizados para desenvolver uma comunicação que se aproxime mais dos espectadores: elementos de arte; pitadas de ironia e humor; referências do cotidiano; construção de analogias e metáforas; interações com a história, a tradição e a cultura popular; recorrer à metafísica, mitologia e religião; reconhecer erros dos cientistas; e dessacralizar a ciência.

Na atividade realizada à tarde, os palestrantes sortearam cada um desses recursos para cada grupo de três cientistas, que tiveram a missão de gravar um pequeno podcast de divulgação científica – que é como um programinha de rádio, com várias vozes e sons – fazendo uso da metodologia sorteada. A proposta promoveu a integração entre os participantes, que conheceram as pesquisas produzidas pelos colegas de grupo, para escolher a que se adequaria mais rapidamente àquela proposta de comunicação. Baixaram nos seus celulares o aplicativo Anchor, especial para fazer podcasts, com inserção de sons pré-gravados que dinamizavam o resultado. Ao final, todos apresentaram seus podcasts, num momento muito divertido e integrador para os membros afiliados da ABC. Ponto para a Academia.

 

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