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O Serrapilheira anuncia os primeiros pesquisadores grantees que terão o apoio renovado e receberão até R$ 1 milhão, cada um. Doze cientistas selecionados pela Chamada Pública nº 1 (2017) serão contemplados com novo financiamento para investir em seus projetos pelos próximos três anos, com flexibilidade no emprego de recursos. Nesse momento, promover a diversidade na ciência é requisito para a concessão do valor total.

Os projetos apoiados pelo Serrapilheira buscam responder a grandes questões de suas áreas do conhecimento. O instituto apoia pesquisas ousadas, ainda que envolvam estratégias de risco, e procura dar a liberdade demandada pela atividade científica, a fim de que os cientistas possam desenvolver seus projetos em longo prazo.

“Queremos investir em mentes criativas e produtivas porque temos a convicção absoluta de que o conhecimento é um valor fundamental”, afirma o diretor-presidente do Serrapilheira, Hugo Aguilaniu. O princípio do instituto é concentrar recursos em poucos projetos mas com forte potencial, lembra o diretor, em investigações que apostam no desenvolvimento de uma ciência internacionalmente competitiva.

Esse é o mais alto aporte de recursos que o Serrapilheira oferece a pesquisadores. Na primeira fase da Chamada Pública nº 1, foram selecionados 65 cientistas entre 1.955 inscritos para receber até R$ 100 mil, cada um, por um ano. Na ocasião, o objetivo era mapear a pesquisa conduzida por jovens doutores no Brasil e oferecer o chamado seed money, visando alavancar o desenvolvimento de seus projetos.

Na segunda fase, revisores nacionais e internacionais, além do Conselho Científico do Serrapilheira (CC), reavaliaram os pesquisadores. “Esses doze foram escolhidos dentre quase 2 mil inscritos, ou seja, foram contempladas apenas 0,6% das propostas encaminhadas; foi um processo extremamente competitivo”, comenta o presidente do Conselho Científico, Edgar Zanotto.

Estímulo à diversidade na ciência

Do financiamento de R$ 1 milhão disponibilizado aos grantees, R$ 700 mil são concedidos de forma incondicional. Os R$ 300 mil restantes estão condicionados à integração e formação de pesquisadores de grupos sub-representados em suas equipes de pesquisa. A adesão a esse mecanismo é voluntária, ou seja, os pesquisadores podem optar por receber ou não o valor destinado às práticas de estímulo à diversidade.

“Reconhecemos que o problema da diversidade e inclusão na ciência é histórico e complexo. Por meio deste pequeno passo, buscamos sensibilizar os grantees a atentar a essa questão, de modo que possam efetivamente contribuir para a construção de uma ciência brasileira mais diversificada”, destaca a diretora de pesquisa científica, Cristina Caldas. “Com a entrada de novos perfis nesse campo, pessoas que antes não consideravam a pesquisa como um caminho profissional entenderão que também podem se tornar cientistas.”

Em 2019, o Serrapilheira vai consolidar suas políticas de diversidade, que estão sendo trabalhadas por um comitê estruturado para este fim. Até então, o instituto vinha promovendo ações pontuais: foi concedido, por exemplo, um apoio extra de R$ 10 mil às pesquisadoras que tiveram filhos durante o grante, nas chamadas públicas, o prazo de conclusão do doutorado foi estendido em até dois anos para as candidatas que são mães. Também foram financiados eventos dedicados à discussão deste tema. “Uma ciência diversificada é uma ciência melhor”, completa Caldas.

Conheça os 12 pesquisadores que receberão até R$ 1 milhão do Serrapilheira:

Alexander Birbrair (membro afiliado da ABC para o período de 2018 a 2022)
Área:
 Ciências da Vida
Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais – MG
Projeto: Regulação do câncer pelo sistema nervoso periférico
É sabido que o sistema nervoso periférico é essencial para o crescimento e a manutenção dos órgãos. Por outro lado, pouco se conhece a respeito da função das projeções nervosas e das células a elas associadas na progressão do câncer nesses órgãos. O objetivo da pesquisa é investigar o sistema nervoso periférico no microambiente tumoral, cujos componentes têm um papel na regulação do comportamento das células de câncer.

Ayla Sant’Ana da Silva
Área: 
Ciências da Vida
Instituição: Instituto Nacional de Tecnologia – RJ
Projeto: Rotas biotecnológicas para a conversão da semente de açaí (Euterpe oleracea) em energia e produtos com alto valor agregado
A produção de polpa de açaí no Brasil gera anualmente mais de 1 milhão de toneladas de sementes, que equivalem a 85-95% da massa dos frutos. A semente contém alto teor de manana, um carboidrato com propriedades diferenciadas, e de antioxidantes, que fazem dela um material valioso e inexplorado. Pretende-se avaliar a conversão da semente de açaí em energia e em produtos com aplicações nas indústrias de alimentos, ração animal e cosméticos.

Carlos Ganade
Área:
 Geociências
Instituição: Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais – RJ
Projeto: Superposição orogênica, nucleamento de zonas de cisalhamento e tectônica de escape no NE do Brasil
A evolução geodinâmica do Nordeste brasileiro, há cerca de 600 milhões de anos, resultou de duas colisões continentais, cujas tensões, combinadas, originaram uma ampla rede de zonas de cisalhamento (zonas de concentração da deformação), forçando uma extrusão de massa para nordeste. O projeto visa desenvolver modelos desta superposição de colisões continentais e entender o papel das zonas de cisalhamento na absorção das tensões derivadas das colisões, e assim, entender como continentes se deformam em zonas colisionais complexas.

Daniela Barretto B. Trivella
Área:
 Química, Ciência da Computação e Ciências da Vida
Instituição: Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais/LNBIO – SP
Projeto: NP3: plataforma computacional de interpretação iterativa de dados experimentais para a identificação rápida de novos produtos naturais bioativos
Produtos naturais representam a mais valiosa fonte de esqueletos químicos para o desenvolvimento de fármacos. A pesquisa propõe a criação de uma plataforma computacional que visa acelerar o processo de identificação de novos produtos naturais bioativos e seus sítios de ligação em proteínas-alvo.

Daniel Youssef Bargieri
Área:
 Ciências da Vida
Instituição: Universidade de São Paulo – SP
Projeto: Em busca de novos compostos com atividade de bloqueio de transmissão da malária
O protozoário do gênero Plasmodium, causador da malária, afeta os seres humanos por meio da picada de mosquitos infectados. O objetivo do projeto é identificar novas drogas para impedir que os próprios mosquitos sejam infectados, interrompendo a cadeia transmissiva. Para isso, criamos modelos experimentais capazes de testar mais de 5 mil drogas ao mesmo tempo, a fim de encontrar novos compostos que possam contribuir para a eliminação da doença.

Guilherme Ortigara Longo
Área:
 Ciências da Vida
Instituição: Universidade Federal do Rio Grande do Norte – RN
Projeto: Os recifes brasileiros estão prontos para as mudanças globais?
O projeto busca analisar o impacto das mudanças climáticas nos corais e recifes integrando: estudo histórico dos animais marinhos desses ambientes (peixes, corais e algas); previsões da resposta desses organismos às mudanças climáticas por meio de modelos matemáticos e experimentos em laboratório; monitoramento científico de corais através de modelos 3D e biologia molecular, e monitoramento cidadão através das redes sociais onde qualquer pessoa pode participar desse processo científico e promover o monitoramento e proteção dos recifes.

Guilherme Zepon
Área:
 Engenharia
Instituição: Universidade Federal de São Carlos – SP
Projeto: Design de ligas de alta entropia para aplicação em armazenagem de hidrogênio
Mecanismos para armazenar hidrogênio de modo seguro, eficiente e econômico é um dos desafios tecnológicos mais urgentes para implementar um sistema energético baseado em fontes renováveis. A pesquisa tem como objetivo projetar composições de ligas metálicas com propriedades de armazenagem de hidrogênio otimizadas.

Karín Menéndez-Delmestre
Área
: Física
Instituição: Universidade Federal do Rio de Janeiro/ Observatório do Valongo – RJ
Projeto: Um farol na escuridão: desvendando matéria escura com observações extragalácticas
A pesquisa busca pistas, nos formatos das galáxias, sobre a distribuição de matéria escura que, apesar de “invisível”, sabe-se hoje que representa 85% da matéria no universo. Também tentamos entender como galáxias distantes se unem para formar as maiores estruturas no universo: os aglomerados de galáxias.

Marco Antonio Zanata Alves
Área: Ciência da Computação
Instituição: Universidade Federal do Paraná – PR
Projeto: Memórias inteligentes eficientes para computação intensiva de dados
O objetivo da investigação é unir a capacidade dos processadores, que conseguem efetuar diversas operações lógicas e aritméticas, à capacidade das memórias, que armazenam extensos volumes de dados. Buscamos assim criar memórias inteligentes com essas duas funções, de modo a melhorar o desempenho da computação e reduzir o consumo de energia.

Narcizo M. Souza Neto
Área: Física
Instituição: Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais/ LNLS – SP
Projeto: Um olhar com raios X em supercondutividade
A pesquisa busca entender e descobrir materiais supercondutores, especialmente aqueles que funcionem próximos à temperatura ambiente. Um material supercondutor capaz de operar em temperatura ambiente permitiria um custo extremamente baixo para todas as aplicações de eletricidade, já que não haveria perdas devido à resistência elétrica zero.

Tiago Pereira da Silva (membro afiliado da ABC para o período de 2019 a 2023)
Área: Matemática
Instituição: Universidade de São Paulo/ICMC – SP
Projeto: Reconstrução de redes complexas: previsão de transições críticas
O objetivo é desenvolver uma teoria matemática para descrever comportamentos emergentes em redes complexas de sistemas dinâmicos não-lineares, como o cérebro, redes sociais e sensores em cidades inteligentes, que não podem ser abordados por ferramentas usuais. Enfim, entender “como a natureza traz ordem para as coisas”.

Vinicius Ramos
Área: Matemática
Instituição: Instituto de Matemática Pura e Aplicada – RJ
Projeto: Geometria simplética, dinâmica de contato e bilhares
Geometria simplética é a geometria natural usada para estudar a mecânica clássica em qualquer espaço. O projeto investiga as interações dessa geometria com a teoria de bilhares por meio da dinâmica hamiltoniana, conhecida em alguns contextos como “dinâmica de contato”. Ele busca entender como o que se sabe sobre trajetórias de bilhares em mesas diferentes têm implicações no tipo de geometria simplética e, consequentemente, na dinâmica hamiltoniana de um espaço associado. Quer, ainda, responder se a geometria simplética pode ajudar a elucidar questões em aberto sobre a existência de trajetórias de bilhares em mesas complicadas.