Três anos depois de sua última conferência, sediada na África do Sul, a Rede Global de Academias (IAP, na sigla em inglês) realizou, na cidade de Songdo, na Coreia do Sul, nova conferência. Tendo como tema “A Ciência e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: o Papel das Academias”, o evento reuniu academias de, aproximadamente, 60 países das Américas, África, Ásia, Europa e Oceania.

O evento, realizado entre 9 e 10 de abril, não somente representou uma oportunidade única para uma avaliação a respeito das atividades desenvolvidas no último triênio, como também proporcionou aos participantes uma reflexão sobre as lições aprendidas e os passos a serem dados visando a implementação de ações voltadas para o fortalecimento da voz da ciência nos debates ao nível global, regional e local.

Ao longo da atividade, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) teve papel de destaque, participando das sessões nos dois dias do evento. Na manhã de 9 de abril, o Presidente da ABC, Luiz Davidovich, participou como conferencista da sessão “O Papel das Academias no Apoio à Implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: o Que Podemos Aprender entre Nós?”.

Essa sessão teve o objetivo de explorar como as academias de ciências estão apoiando a implementação da Agenda 2030. No caso do Brasil, Davidovich discorreu sobre a participação da ABC na Comissão Nacional dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), fato que chamou a atenção do IAP e das demais academias pelo ineditismo. O Presidente da ABC também apresentou brevemente a relação de reuniões organizadas pela ABC para colocar os ODS na agenda da comunidade científica brasileira.

O Presidente da ABC, Luiz Davidovich.

Na tarde do dia 10 de abril, a ABC foi uma das academias escolhidas para participar da sessão de encerramento, que teve o formato de um painel que buscou responder as seguintes perguntas: Como as academias podem acompanhar as mudanças sociais, políticas e tecnológicas, maximizando suas oportunidades numa sociedade em transformação? As academias precisam mudar ou se redefinir para se manterem como organizações relevantes no século XXI? Quais são as ações mais efetivas que as academias podem desenvolver, nos planos nacional e regional, para se engajarem na implementação dos ODS? Quais são as principais lições a serem levadas para casa pelas academias que participaram da conferência?

Em sua fala, Davidovich salientou a importância das academias desenvolverem ações visando tanto o governo como a sociedade. As academias não devem ficar aguardando um chamado de seus governos. Precisam ser proativas, assumindo o protagonismo e se antecipando às demandas. Devem produzir estudos e relatórios dedicados a temas críticos para a sociedade, oferecendo recomendações aos gestores e formuladores de políticas públicas.

Essas recomendações devem ser amplamente disseminadas por meio de audiências no parlamento e reuniões públicas, propostas e/ou organizadas pelas Academias. Em paralelo, as academias devem buscar participar ativamente em comissões e conselhos governamentais, mobilizando expertise, com uma abordagem multidisciplinar, para oferecer a contribuição da ciência aos debates dedicados a temas importantes da agenda nacional.

Adicionalmente, as academias devem buscar intensificar o diálogo com a sociedade. Isso pode ser feito a partir da organização de reuniões dedicadas a temas em que a ciência tem uma contribuição a dar. É importante que estas reuniões agreguem diferentes atores sociais, permitindo uma maior proximidade da comunidade científica com o conjunto da sociedade. À medida que as academias construam canais de debate que resultem em soluções para problemas do cotidiano, não só se amplia a relevância das academias, como também se fortalece a legitimidade da ciência na sociedade.

Davidovich destacou que as academias devem estimular seus membros a desenvolverem atividades nas escolas, discutindo com os alunos e professores temas relevantes para os estudantes e as comunidades ao redor. Isso pode ser feito por meio de palestras ou experimentos simples, que demonstrem como a ciência pode contribuir para a compreensão de problemas e a construção de soluções para os mesmos.

O presidente da ABC salientou que é preciso fazer uso extensivo das mídias sociais para se difundir o conhecimento científico e as atividades das academias. Esse é um terreno em que as academias precisam ainda avançar muito, mas é fundamental que esse caminho seja percorrido para que se atinja a juventude e se estimule a paixão pela ciência.

Por fim, Davidovich convocou as Academias a confiarem na nova geração de cientistas em seus países. Eles não só representam o futuro da ciência no país, mas também, no presente, podem contribuir muito para a construção do diálogo com o público em geral e, em especial, com a juventude.