Os participantes do workshop “Poluição do Ar e Saúde”, realizado entre 20 e 21 de março, nos Estados Unidos. Foto: ©BringIntoBeing.com/Jonas Gustavsson

Nos dias 20 e 21 de março foi realizado, no Institute for the Study of the Ancient World, da New York University, o workshop “Poluição do Ar e Saúde”. A iniciativa, organizada conjuntamente pelas academias de ciências da África do Sul, Alemanha, Brasil, Estados Unidos e pela Academia de Medicina dos EUA, teve por objetivo discutir as bases para uma declaração, a ser elaborada por essas cinco academias, alertando a sociedade e os governos para o impacto da poluição do ar sobre a saúde.

A poluição do ar representa um dos maiores riscos ambientais para a saúde humana. Em um contexto de mudanças climáticas e crescente mobilidade, urbanização, atividade industrial e agrícola, o problema tende a ganhar severidade nas próximas décadas. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 92% da população mundial viva em locais onde os níveis de qualidade do ar estão abaixo dos padrões mínimos aceitáveis. Segundo a OMS, somente a poluição do ar é responsável pela morte de cerca de 3 milhões de pessoas por ano, principalmente por doenças não transmissíveis. Um estudo recente da Agência Ambiental Europeia mostra que as concentrações de partículas, em 2014, foram responsáveis ​​por quase 400 mil mortes prematuras nos 28 países que integram a União Europeia. Tais dados evidenciam que políticas eficazes para melhorar a qualidade do ar requerem cooperação e ação em diferentes níveis (do global ao local, da pesquisa à política, da indústria à sociedade).

Para discutir esse cenário e formular propostas e recomendações, cinco pesquisadores de cada um dos países envolvidos reuniram-se com representantes da OMS, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), da Coalizão para o Clima e o Ar Limpo (CCAC, na sigla em inglês) e do Pure Earth/Blacksmith Institute. Jaqueline McGlade, que, de 2003 a 2013, foi diretora executiva da Agência Ambiental Europeia e, de 2014 a 2017, foi diretora e cientista chefe do PNUMA, atuou como moderadora das discussões. Na reunião, a ABC foi representada pelos Acadêmicos Paulo Artaxo e Paulo Saldiva, bem como pelos pesquisadores Maria de Fatima Andrade (Departamento de Ciências Atmosféricas, USP), Simone Georges El Khouri Miraglia (Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas, UNIFESP) e Nelson Gouveia (Faculdade de Medicina, USP).

Os representantes brasileiros Paulo Saldiva, Maria de Fátima Andrade (USP), Simone Miraglia (Unifesp), Marcos Cortesão, Nelson da Cruz Gouveia (USP) e Paulo Artaxo. Foto: ©BringIntoBeing.com/Jonas Gustavsson

Segundo o professor Paulo Artaxo, a poluição do ar é uma questão estratégica hoje no planeta. Milhões de pessoas estão morrendo por exposição a poluentes atmosféricos e é preciso olhar para o problema de maneira integrada: repensando o desenho das cidades, o transporte urbano e a produção de energia a partir da queima de combustíveis fósseis. Para o professor, é papel das academias de ciências do mundo inteiro propor ações para as Nações Unidas, porque a poluição do ar tem solução e esta pode salvar vidas, além de trazer muitos benefícios econômicos. A tarefa também fica a cargo dos governantes em todas as esferas, sejam presidentes, governadores ou prefeitos.

O professor Paulo Saldiva destacou que não se pode perder de vista a ciência na regulamentação ambiental. Ele explica que as medidas a serem tomadas sobre a poluição do ar nem sempre são consensuais, ocasionando conflitos entre corporações, mas todos os pontos de vista devem ser levados em conta. Saldiva lembra ainda que a questão envolve não só as ciências naturais, como as humanas, passando pela economia, por princípios morais e éticos.

Terminado o workshop, na tarde do dia 21 de março foram realizadas duas reuniões paralelas. Enquanto os cinco pesquisadores de cada uma das delegações discutiram possibilidades de cooperação científica e de financiamento com representantes de agências, em outra sala, os diretores executivos das áreas internacionais das academias se reuniram com representantes da OMS, do PNUMA, da Coalizão para o Clima e o Ar Limpo e do Pure Earth/Blacksmith Institute para debater estratégias de disseminação da declaração que será emanada pelas academias. Marcos Cortesão, secretário-executivo de Relações Internacionais da ABC, representou a academia brasileira nessa outra reunião.

Nas semanas seguintes, os pesquisadores que integraram as delegações de cada Academia passaram a trabalhar no texto da minuta da “Declaração sobre Poluição do Ar e Saúde”. Concluído este trabalho, a minuta será submetida a processos internos de aprovação, no âmbito de cada uma das academias. Uma vez fechado o texto da declaração, este será apresentado, no dia 19 de junho, em uma audiência pública na sede da ONU, em Nova York.