Nos dias 12 e 13 de setembro, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) promoveram o encontro “Grandes Projetos de Colaboração Internacional da Ciência Brasileira”. Reunidos no auditório da ABC, coordenadores dos principais projetos de grande porte, multiusuários e integralmente vocacionados para a colaboração internacional discutiram seus projetos, desafios e formas de financiamento.

Supercomputador Santos Dumont

O coordenador de tecnologia da informação do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), Wagner Léo, apresentou o supercomputador Santos Dumont, localizado na sede do LNCC em Petrópolis, Rio de Janeiro. A máquina atua hoje como nó central do Sistema Nacional de Processamento de Alto Desempenho (Sinapad).

O SDumont pode realizar 1,1 milhão de bilhões de operações por segundo e, em 2016, chegou a integrar a lista dos 500 supercomputadores mais rápidos do mundo. A serviço da comunidade acadêmica, o equipamento já possibilitou a realização de 150 mil experimentos, 118 projetos e o registro de três patentes. O supercomputador foi utilizado inclusive nas pesquisas para o desenvolvimento da vacina contra o vírus da Zika e de fármacos para o HIV.

Wagner informou que o custo para manter a máquina funcionando é de R$ 8 milhões por ano. Ele ressaltou que investir no SDumont é investir também no desenvolvimento de pesquisas de ponta.

Grande Arranjo Milimétrico Latino-Amelicano (Llama)

O Acadêmico Jacques Lépine, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP), apresentou o projeto Grande Arranjo Milimétrico Latino-Americano (Llama, na sigla em inglês).

O empreendimento, realizado por meio de uma parceria entre Brasil e Argentina, tem por objetivo a instalação e operação de um telescópio capaz de desenvolver observações do Universo nos comprimentos de onda milimétricos e sub-milimétricos. A criação do instrumento beneficiaria várias áreas como os estudos do Sol, planetas, objetos estelares e galáxias.

O Acadêmico indicou que, até setembro de 2018, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) já investiu aproximadamente US$ 10 milhões. Para a manutenção do equipamento, é estimado que cada país invista US$ 700 mil por ano.

Grande Colisor de Hádrons (LHC)

Em seguida, o físico da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Sérgio Novaes, realizou uma apresentação sobre a participação brasileira na utilização do Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês) da Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (CERN).

O LHC é o maior e mais poderoso acelerador de partículas do mundo. O aparato consiste em um anel de 27 km de ímãs supercondutores com um número de estruturas de aceleração para impulsionar a energia das partículas ao longo do caminho. Em 2012, o LHC foi responsável pela descoberta da partícula elementar Bóson de Higgs.

O Brasil realiza colaborações em quatro experimentos do LHC: Alice, Atlas, CMS e LHCb. O investimento total realizado por ano é de aproximadamente US$ 714 mil.

Em dezembro de 2013, o Conselho do CERN convidou o Brasil para se tornar membro associado, mas o país ainda não respondeu.  Novaes ressaltou a urgência de se tomar uma decisão da parte brasileira, visto a posição do CERN como órgão internacional de grande relevância.

Novaes destacou também a necessidade do Brasil de investir nas áreas de inteligência artificial e inovação social digital. Neste contexto, ele apresentou o Advanced Institute for Artificial Intelligence (AIAI), que tem como proposta reunir os experts em inteligência artificial no Brasil.

Observatório Europeu do Sul (ESO)

A astrofísica e Acadêmica Beatriz Barbuy apresentou o Observatório Europeu do Sul (ESO, na sigla em inglês). Com três observatórios em operação na região do deserto de Atacama, no Chile, o ESO é uma organização intergovernamental de ciência e tecnologia que trabalha na idealização, construção e funcionamento de observatórios astronômicos terrestres de ponta.

A instituição ocupa um importante papel na promoção e organização da pesquisa astronômica e possibilita grandes descobertas científicas. Barbuy lembrou que a primeira descoberta de um planeta, feita por uma equipe brasileira, foi realizada com a instrumentação da ESO.

A Acadêmica destacou também a aplicação de indústrias a projetos do ESO em diversas áreas como eletrônica, infraestrutura, engenharias civil e mecânica. Ela apontou a possibilidade para o Brasil de associar-se ao ESO realizando o investimento de € 7 milhões por ano.

Cherenkov Telescope Array (CTA)

A astrônoma Elisabete de Gouveia Dal Pino, professora do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP), não pôde estar presente no evento, mas fez questão de participar via chamada de vídeo. Ela falou sobre o Cherenkov Telescope Array (CTA), projeto de nível multinacional que tem por fim a construção de uma nova geração de telescópios terrestres sensíveis à radiação gama para estudar astrofísica e física de partículas cósmicas.

O CTA possibilitará o avanço nos estudos de aceleração cósmica de partículas, sondagem de ambientes extremos e pesquisa das fronteiras físicas.

O Brasil tem três grandes frentes de participação no CTA: CTAASTRI Mini-Array, LST support e MST camera support. A equipe brasileira é formada por 12 instituições, 25 cientistas, 16 estudantes e 5 técnicos. Até o momento, foram investidos aproximadamente R$ 500 mil pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e R$ 17,3 milhões pela Fapesp.

Dentre os próximos passos a serem seguidos pelo CTA-Brasil, Dal Pino citou a necessidade de um acionista no CTA-Observatory como representante do Brasil – atualmente em negociação com o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações -, triplicar os investimentos já obtidos e realizar parcerias com indústrias nacionais.

Laboratório Interinstitucional de e-Astronomia (LIneA)

Encerrando as atividades do primeiro dia de evento, o pesquisador Luiz Nicolaci, do Núcleo de Pesquisa em Astronomia do Observatório Nacional, apresentou o Laboratório Interinstitucional de e-Astronomia (LIneA). O projeto foi realizado com o objetivo de fornecer infraestrutura de big data para pesquisadores brasileiros trabalharem em projetos de big science.

Financiado pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) do e-Universo, tanto o LIneA quanto o INCT têm a missão de dar apoio logístico e financeiro para a participação de pesquisadores em grandes projetos internacionais, implantar e manter um Centro de Dados Astronômico, desenvolver e manter um portal científico para validação e análise, ajudar na formação de jovens pesquisadores e de tecnologistas e cientistas de dados para lidar com projetos de big data, além de contribuir na divulgação dos resultados de pesquisa para o grande público.

Nicolaci enumerou três metas do projeto: institucionalizar o LIneA – o que exige um novo modelo de governança -, implementar o Data Access Center (DAC) regional para o Large Synoptic Survey Telescope (LSST), telescópio que está sendo construído em Cerro-Pachón, no Chile e ajudar a criar um centro nacional de e-ciência para apoiar os projetos de big data. Para atingir estes objetivos e dar continuidade as atividades que já estão sendo realizadas, o astrônomo relatou a necessidade de investir aproximadamente US$ 20 milhões ao longo de 10 anos.

Assista às apresentações na íntegra:

Grandes Projetos de Colaboração Internacional da Ciência Brasileira

#EventosABC | Voltamos para a segunda parte do encontro para discutir os grandes projetos de colaboração internacional da ciência brasileira! O evento acontece pela parceria entre a Academia Brasileira de Ciências e a SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência!Confira a programação de amanhã: https://goo.gl/bTVSEg #ABCiencias #CiênciaGeraDesenvolvimento #TodosPelaCiência ┉┉┉┉┉┉┉┉┉WWW.ABC.ORG.BR• Facebook: www.facebook.com/abciencias• Twitter: www.twitter.com/abciencias• Instagram: www.instagram.com/abciencias/• Canal da ABC: www.youtube.com/academiabrasciencias• Anais da Academia: www.facebook.com/aabcjournal

Publicado por Academia Brasileira de Ciências em Quarta-feira, 12 de setembro de 2018