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Jorge Alberto Jr., Fabiana Munhoz, Roberto Silveira e Gerson Pinto

No segundo dia do Simpósio Brasil-França sobre Biodiversidade, quatro empresas que desenvolvem biotecnologia baseada na biodiversidade apresentaram seus métodos de produção sustentável.

L’Oréal: mais da metade dos de ingredientes dos cosméticos vêm de plantas

A chefe de Pesquisas Avançadas da L’Oréal Fabiana Munhoz destacou, primeiramente, que a perda de biodiversidade é um problema atual e que merece atenção e que, além disso, é também uma questão social, visto que os países e/ou populações mais pobres estão mais vulneráveis a esse problema. Por essa razão, garantir uma fonte sustentável de biodiversidade é, também, garantir a inclusão social e empoderamento econômico de determinados grupos, além de contribuir para mitigar os efeitos das mudanças climáticas.

Formada em física, Munhoz descreveu o processo de desenvolvimento de um novo produto: conhecimento científico; desenvolvimento de protótipos; pré-desenvolvimento do produto; e desenvolvimento do produto final. Segundo ela, as primeiras duas etapas levam de dois a cinco anos e a terceira etapa, de um a dois anos. A fim de antecipar e controlar riscos, ela destacou que é preciso controlar a escassez do suprimento que se tem como base do produto, ter atenção à reputação da empresa e estar sempre em conformidade com a lei.

Munhoz comentou que, segundo dados de 2017, a L’Oréal tem 54% do seu volume total de ingredientes vindos de plantas e destacou que a empresa está focada em aumentar o percentual de biodegradabilidade de seus materiais e diminuir a quantidade de água consumida durante os processos que realiza.

Como estudos de caso, Fabiana mostrou o trabalho que a empresa realiza com casca de quinoa, na Bolívia, e com o óleo de babaçu, no Brasil. Por fim, ela ressaltou que, quando se está trabalhando com biodiversidade, o conhecimento popular sobre determinada matéria-prima pode ser bastante útil e é muito importante que se respeite os conhecimentos tradicionais da população local.

Centroflora: produtos da biodiversidade brasileira para diversos setores da indústria

Em seguida, o chefe de Tecnologia da Centroflora, Gerson Valença Pinto, apresentou a empresa, produtora de extratos botânicos, sucos e polpas desidratadas, bem como de óleos essenciais e ativos isolados. A produção é destinada a vários segmentos industriais: farmacêutico, veterinário, de nutrição e de cuidados pessoais. Nos seus 60 anos de história, a Centroflora buscou integrar as comunidades, a natureza, os processos e, principalmente, as pessoas.

Com larga experiência em pesquisa e desenvolvimento adquiridos na Unilever, Johnson & Johnson, PepsiCo e Natura, onde trabalhou anteriormente, Gerson Pinto apresentou o Projeto MPH – Molecular Powerhouse. “O MPH é uma plataforma para descobrimento, mapeamento e otimização de produtos naturais da biodiversidade brasileira com aplicação a novos medicamentos, a plantas e ervas medicinais, a cosméticos e a comidas funcionais”, explicou, destacando que o projeto é fruto de parceria entre a Centroflora, o Laboratório Nacional de Biociências (LNBio) e a empresa Phytobios.

Segundo o palestrante, o perfil da descoberta de novas drogas tem mudado. Além do fechamento de diversas instalações da grande indústria farmacêutica voltadas à pesquisa e ao desenvolvimento na Europa e nos Estados Unidos, a terceirização da descoberta de novos medicamentos é uma nova moda. Dentro desse contexto, a biodiversidade do Brasil é muito atraente.

Gerson observou que o Brasil é campeão de importação de medicamentos e insumos da farmacologia e precisa melhorar o perfil de desenvolvedor e produtor de químicos farmacêuticos e extratos botânicos. Segundo ele, o país tem, além da vasta biodiversidade, infraestrutura humana e laboratorial suficientes para tal. Para ele, a chave para o sucesso do país nesta área está na cooperação internacional e nas parcerias público-privadas.

Bombons Finos da Amazônia: incentivando o extrativismo consciente

A terceira apresentação foi da empresa Bombons Finos da Amazônia. O diretor Jorge Alberto Jr., engenheiro de produção, apresentou a trajetória da companhia. “Além dos bombons, produzimos também barras de chocolate, geleias e artesanato. Nossa proposta é apresentar os sabores da Amazônia ao mundo com versatilidade e comprometimento socioambiental”, ressaltou.

A empresa, fundada em 1998, começou com um investimento inicial de R$ 300, produzindo apenas 200 unidades por dia, numa área de 16m² e com dois funcionários. Hoje, instalada numa área de 1110m², produz 30 mil unidades por dia, gerando 51 empregos diretos e 200 indiretos.

Jorge Alberto Jr., Fabiana Munhoz, Roberto Silveira e Gerson Pinto

A partir de 2012, a companhia começou a desenvolver projetos sustentáveis, como a produção de embalagens de artesanato a partir de resíduos e subprodutos da floresta amazônica. São exemplos de matérias-primas a casca de cupuaçu, casca de castanha-do-pará, casca de coco e molongó, um tipo de árvore da região. Para isso, a empresa investe no mapeamento e catalogação de produtos, no registro de artesãos, associações e cooperativas que possam produzir e no treinamento dos mesmos. Dessa forma, a empresa acredita incentivar o extrativismo consciente, a conservação da floresta e a valorização e disseminação da marca “Amazônia”.

 

Fazenda São Nicolau: sequestro de carbono e refúgio para espécies ameaçadas

Por fim, o coordenador científico da Fazenda São Nicolau, Roberto Silveira, falou sobre a propriedade rural, localizada no noroeste do Mato Grosso, que é resultado de uma parceria público-privada entre a Peugeot e a ONF-Brasil (Escritório Nacional de Florestas, na sigla em francês). A Fazenda São Nicolau é a matriz do projeto de sequestro de carbono da Peugeot-ONF.

Em 1998, a Peugeot pediu ao ONF o reflorestamento de aproximadamente 2 mil hectares de espécies nativas. O reflorestamento ocorreu entre 1999 e 2004 e, desde 2001, o projeto tem como principal objetivo monitorar o sequestro de carbono até 2038 e testar o conceito. O projeto conta com especialistas brasileiros e franceses de diversos institutos e universidades. Além disso, a propriedade da Fazenda está aberta a outros pesquisadores que queiram conduzir pesquisas no local.

Os números são impressionantes. São mais de 2,5 milhões de árvores plantadas. Desde 1999, a Fazenda São Nicolau já recuperou mais de um milhão de toneladas de CO2 em 1.974 hectares de área reflorestada, além de preservar 1.815 hectares de floresta amazônica nativa desde 2010. Além disso, parcerias com pesquisadores geraram mais de 40 artigos científicos e quatro livros, com outros três ainda em andamento.
A Fazenda compreende, aproximadamente, 75% da biodiversidade de todo o noroeste do estado de Mato Grosso. Lá, foram descritas 23 novas espécies de besouros, uma nova espécie de peixe e há uma possível nova espécie de pássaro sob estudos.

Devido ao alto grau de conservação, o local também funciona como refúgio para espécies em extinção, já que a Fazenda está em meio à uma área de intenso desmatamento. Por essa razão, o projeto preocupa-se em informar aos habitantes locais sobre a importância da conservação. O projeto está previsto para continuar até 2038.