Kleber del Claro, Fabricio Santos, Vera Gaiesky, Benoit de Thoisy e Cintia Cornelius

O terceiro dia do Simpósio Brasil-França sobre Biodiversidade, realizado em Manaus (AM) de 5 a 8 de junho pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Academia de Ciências da França, contou com apresentações dos palestrantes Fabricio Rodrigues dos Santos (UFMG), Benoit de Thoisy (Instituto Pasteur da Guiana Francesa), Cintia Cornelius (Ufam), Vera Lúcia Gaiesky (UFRGS) e Kleber Del Claro (UFU).

Foco nos ecossistemas costeiros

O professor titular e pesquisador em genética e evolução na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Fabrício Rodrigues dos Santos, afirmou que em termos de biodiversidade, a América do Sul apresenta diversos ambientes peculiares. Um deles é a costa das Guianas, que sofre influência direta da barreira formada pela foz do Rio Amazonas no oeste do Oceano Atlântico.

Nesse ambiente, podemos encontrar uma população singular de peixes-boi, a qual contêm híbridos entre as espécies Trichechus manatus, cujo habitat é o mar, e T. inunguis, de água doce. “Essa população de híbridos é extensa, vai desde a foz do Amazonas até a Guiana Inglesa. Hoje em dia ainda não se tem uma regra específica para a proteção desses animais, embora sejam fruto de reprodução natural. Devemos pensar em maneiras de preservá-los”, alertou o pesquisador.

Em sua visão, ecossistemas costeiros deveriam representar uma prioridade de conservação, em face da crescente urbanização e de atividades de prospecção de petróleo.

Planejamento urbano para integrar aspectos sociais, econômicos e ecológicos

A seguir, o pesquisador do Laboratório de Interações de Vírus Anfitrião do Instituto Pasteur da Guiana Francesa, Benoit de Thoisy, levantou questões sobre a perda da biodiversidade em áreas urbanas e as consequências que isso traz para a população e para a natureza.

“A alta biodiversidade da Guiana Francesa também pode ser observada em suas cidades, que concentram uma fauna diversa, incluindo espécies novas para a ciência”, disse o palestrante. Apesar de incipiente, a urbanização do país é concentrada na costa, que já apresenta problemas como surtos de doenças tropicais e conflitos por posse de terras.

A apresentação de Benoit indicou que a a chave para combinar desenvolvimento social, econômico e ecológico e o planejamento urbano.

Áreas verdes nas cidades são fundamentais

A professora do departamento de Biologia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) Cíntia Cornelius mostrou dados de sua pesquisa que indicam que a modificação de habitats é a principal causadora de perda de biodiversidade em grandes cidades.

“Áreas verdes proporcionam benefícios relacionados à regulação de temperatura e ruído, possuindo valor turístico e educacional”, destacou a pesquisadora.

A cidade de Manaus, no estado do Amazonas, é a maior cidade em meio à Amazônia, e diversos estudos têm se dedicado a estudar as respostas da fauna à fragmentação das florestas tropicais. Uma linha de pesquisa promissora, de acordo com Cintia, é o estudo das pressões seletivas e das possíveis respostas adaptativas da fauna à fragmentação.

Insetos como bioindicadores

A professora titular da Universidade do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Acadêmica Vera Lúcia Gaiesky abordou a importância da conservação dos insetos. Ela explicou que elementos da fauna podem atuar como indicadores da integridade ambiental dos ambientes urbanos.

Gaiesky mostrou estudos com a família Drosophilidae que têm sugerido que moscas do gênero Drosophila podem atuar como bioindicadoras de poluição do ar em Porto Alegre, no sul do Brasil. Futuramente, moscas de Drosophilidae podem vir a ser utilizadas como bioindicadoras em diversas regiões, tais como a Amazônia.

Efeitos da urbanização sobre o bioma Cerrado

Por fim, o professor titular da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Kleber Del Claro, apresentou sua pesquisa sobre as mudanças climáticas e suas consequências para as interações bióticas na savana brasileira.
O Cerrado é um bioma de elevada biodiversidade crescentemente ameaçado pelas atividades humanas. Embora a vegetação do Cerrado esteja sempre próxima das cidades, de acordo com Kleber, há poucos estudos sobre ecologia urbana no bioma.

“Recentemente, foi observado que parâmetros climáticos afetam o resultado de interações entre formigas, plantas e herbívoros e, possivelmente, serviços que a biodiversidade presta para as cidades”, explicou o cientista.
Os estudos em ecologia urbana, de acordo com o palestrante, possuem alto potencial para entendimento do efeito da urbanização sobre a biodiversidade do Cerrado